Martinho Júnior,
Luanda
1 – Na sequência do
“Referendo” realizado recentemente nas Malvinas, um “Referendo” que recolheu a “opção”
dos colonos-habitantes do arquipélago sufragada a favor do Reino Unido numa
escala acima dos 90%, está-se a proceder ao render da guarda naval britânica na
área.
Com efeito, dois
navios britânicos vão a caminho das Malvinas: um navio de reabastecimento da
classe Rover e o destroyer da classe D-23, o HMS Argyll.
Os navios
aparelharam de Davenporth no princípio do ano e estão a fazer a aproximação às
Malvinas bordejando a costa ocidental atlântica africana, de Marrocos à África
do Sul!
2 – As nações
latino americanas não permitem por norma que a armada britânica faça rota de e
para as Malvinas bordejando as costas orientais da América: nem a Venezuela,
nem o Brasil e muito menos a Argentina, na sequência duma tomada de posição
conjunta em relação à colonização das ilhas que, com a presença naval britânica
que se arrasta desde a intervenção militar promovida por Margareth Thatcher,
tem vindo a contribuir para que as esquadras dos países da NATO penetrem na
profundidade do Atlântico Sul até à Antárctida.
Essa posição
conjunta considera uma afronta a presença britânica e o “Referendo” uma farsa
(limitou-se a recolher as opções dos colonos que lá foram colocados pelo
império britânico ao longo de várias gerações de forma a legitimar a ocupação
contrariando toda a América Latina).
3 – A armada
colonial britânica que segue em direcção às Malvinas poderia discretamente
fazer a rota utilizando as ilhas do império no eixo do Atlântico: Ascensão,
Santa Helena e Tristão da Cunha, que aliás foram utilizadas como centros
logísticos “catapultas” na guerra das Malvinas…
As ilhas contudo,
se possuem um inestimável valor geoestratégico para o império, não possuem
relevância geopolítica para os interesses conjugados dos ocidentais e assim a
armada, correspondendo a esses últimos interesses, tem vindo a optar pela rota
da costa ocidental africana, a fim de multiplicar as “missões”, as influências
e as conveniências junto dos desamparados governos africanos.
As “ementas” do
percurso encaixam perfeitamente quer nos objectivos do AFRICOM, quer no esforço
de neocolonização da França nos espaços CEDEAO e no imenso Sahel a que eu
tenho vindo a referir: combate à migração ilegal na direcção da Europa, combate
ao tráfico de drogas, combate à pirataria e por fim, visitas de cortesia que
levam a bandeira naval britânica aos portos africanos, entre eles o de Luanda e
o da cidade do Cabo!
4 – À medida que
fez a sua progressão de norte para sul assim a armada colonial britânica que
vai a caminho das Malvinas, foi-se entendendo com outras armadas ocidentais
disponíveis do pródigo quadro da NATO e os “parceiros” africanos:
- Combate à
migração ilegal em direcção à Europa conjuntamente com Marrocos e a Mauritânia;
- Combate ao
tráfico de droga ao largo de Cabo Verde envolvendo forças de onze países;
- Combate à
pirataria no Golfo da Guiné com apoios no Gana, na Costa do Marfim, na Nigéria
e em Angola, tendo como referências os arquipélagos da Guiné Equatorial e de
São Tomé e Príncipe;
- Representação
naval nos países da corrente fria de Benguela – Angola, Namíbia e África do
Sul!
5 – A armada
colonial britânica escalou Luanda entre os dias 29 de Abril e 1 de Maio, tendo
recebido visitas das entidades oficiais angolanas e “trocado experiências” (?)
com a Marinha de Guerra de Angola…
Na altura alguns
eventos no quadro dos relacionamentos bilaterais foram ocorrendo, aproveitando
as políticas de capitalismo neo liberal em curso, ou seja de portas abertas nos
países-alvo (Angola é um dos principais em África), de forma a criar mais
incentivos ainda a uma globalização que dá azo a neo colonialismo, ao campo de
manobra de mercenários e às mais variadas ingerências.
6 – O alvoroço da
publicidade que mereceram essas missões, com as ementas forjadas ao bom estilo
do AFRICOM, visa veladamente entre outras coisas “defender” os países africanos
de eventuais pressões latino americanas e, com isso, contribuir para que as
posições africanas, pelo menos em relação ao caso colonial das Malvinas, não
sejam comuns às da América Latina!
Se os espaços
CEDEAO e do Sahel correspondem à coutada “FrançAfrique”, na profundidade do
Atlântico todos os pretextos são úteis para o exercício da colonização nos
mares, uma fórmula “moderna” de branquear a verdadeira missão da esquadra
colonial de Sua Majestade Britânica nas Malvinas… só os africanos não só parece
não o quererem ver, como também, nas opções seguidas com esse tipo de “parcerias”,
se colocam docilmente numa posição submissa, subalterna, mercenária e
dependente.
O hemisfério sul
fica assim dividido:
- Dum lado (América
Latina) aqueles que apesar das contrariedades se abrem à luta contra o
capitalismo neoliberal na América Latina, perseguindo objectivos de
integração, independência e soberania (margem oeste do Atlântico);
- Do outro (África)
aqueles que se abrem às políticas do capitalismo neoliberal e vão-se vergando
ao domínio avassalador duma hegemonia que os conduz aos expedientes neo
coloniais (margem leste do Atlântico).
7 – É evidente
também que com estas manobras as frotas ocidentais, que nunca levaram por
exemplo em conta a necessidade dos países africanos defenderem as suas costas
da pirataria das frotas pesqueiras de longo curso, entre elas as próprias
frotas pesqueiras ocidentais (com a espanhola à cabeça), pretendem “marcar” uma
zona nevrálgica para a exploração petrolífera e de gás, que tem, tal como nas
Malvinas, no Golfo da Guiné o seu fulcro geoestratégico.
As linhas de fundo
da geoestratégia nos mares confluem, comprometem-se e complementam-se com as
linhas de fundo da geoestratégia em terra, no interior profundo de África.
O verdadeiro motivo
da algazarra de tantos “combates” e “representações” são as riquezas africanas,
no mar e em terra, em especial as riquezas energéticas, os seus acessos e as
rotas dos petroleiros que levam o bruto para os maiores centros de consumo!
Em 1982, quando se
travou a guerra das Malvinas, Margaret Thatcher, é isso que os africanos “esqueceram”,
era uma fervorosa aliada de Augusto Pinochet e do regime racista sul africano,
isto é, uma feroz opositora ao movimento de libertação em África!
Se hoje a armada
britânica se move em direcção às Malvinas, necessário se torna lembrá-lo
àqueles que teimam em apagar a história e os reflexos dela nos tempos que
correm!
Margareth Thatcher,
promotora da guerra das Malvinas à sombra da qual se move ainda hoje a armada
colonial britânica no Atlântico Sul, para os países do Sul não foi assim tanto
uma “dama de ferro”, foi-o isso sim uma incontornável “dama do petróleo” e um
dos primeiros grandes estímulos às políticas neoliberais de hoje!
Foto: O HMS Argyll
de passagem por Cabo Verde – http://www.royalnavy.mod.uk/News-and-Events/Latest-News/2013/March/07/130307-HMS-Argyll-visits-Cape-Verde#.UTiWFM03iFs.facebook
A consultar:
- Margaret Thatcher
– http://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Thatcher
- THATCHER MORREU
COMO A MÃE DO 1% E A MADRASTA DOS 99% - http://paginaglobal.blogspot.com/2013/04/thatcher-morreu-como-mae-do-1-e.html
- Malvinas Islands
– http://www.argentina.org.au/malvinas_islands.htm
- Guerra das
Malvinas – http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_das_Malvinas;
- Falklands War – http://en.wikipedia.org/wiki/Falklands_War
- Guerra das
Malvinas, o desfecho da ditadura mais sangrenta da América Latina – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/guerra-das-malvinas-o-desfecho-da.html
- HMS Argyll begins
her West Africa and South Atlantic tour – http://en.mercopress.com/2013/02/19/hms-argyll-begins-her-west-africa-and-south-atlantic-tour
- Saharan Express
2013 Concludes in Senegal – http://www.navy.mil/submit/display.asp?story_id=72743
- HMS Argyll visits
Cape Verde – http://www.royalnavy.mod.uk/News-and-Events/Latest-News/2013/March/07/130307-HMS-Argyll-visits-Cape-Verde#.UTiWFM03iFs.facebook
- HMS Argyll
strengthens relations with Cape Verde – http://www.royalnavy.mod.uk/News-and-Events/Latest-News/2013/April/03/130403-HMS-Argyll-strengthens-relations-with-Cape-Verde
- Almirante destaca
relações de cooperação entre Angola e o Reino Unido – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2013/3/18/Almirante-destaca-relacoes-cooperacao-entre-Angola-Reino-Unido,d5598d86-0d93-4820-beed-a8de38361268.html
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