Mário Augusto
Jakobskind* - Direto da Redação
Na Guatemala
aconteceu nestes dias um fato que depõe contra os governantes do país centro
americano e envergonha a humanidade. Um ditador sanguinário, o general Efraín
Ríos Montt, estava sendo julgado por crimes de genocídio. Ele é acusado
pela Promotoria de Justiça de 15 massacres que resultaram em 1771 mortes de
homens, mulheres, crianças e anciãos.
Além de Ríos Montt
estava no banco dos réus também o chefe da inteligência militar, General José
Maurício Rodriguez. Tudo parecia indicar que finalmente seria feita justiça,
com a condenação do ex-ditador e seu colaborador.
Testemunhas,
inclusive de muitos sobreviventes de massacres, estavam confirmando em juízo o
que tinha sido praticado em matéria de crimes de lesa humanidade de
responsabilidade de Ríos Montt, um ditador que contou com total apoio de
sucessivos governos estadunidenses.
Pois bem, na última
hora, oficialmente, um tribunal de apelações decidiu suspender o julgamento sob
a alegação de “motivos técnicos”.
Mas a verdade é
completamente outra e provavelmente não será divulgada pelos meios de
comunicação de mercado.
Segundo denúncias
de entidades defensoras dos direitos humanos e de alguns corajosos jornalistas,
a suspensão não se deveu a uma decisão jurídica de “caráter técnico”, como
alegam as autoridades, mas sim pelas ameaças de morte feitas por militares
contra testemunhas e mesmo ao corpo de jurados. Soma-se a isso, a pressão
velada e secreta exercida pelo atual Presidente, o general da reserva Fernando
Otto Pérez Molina , para contentar os militares protetores de Ríos Montt. O
jornalista estadunidense Allan Naim, que seria testemunha no processo, acusou
diretamente o presidente guatemalteco de pressionar a Justiça.
Com isso, o
genocídio comprovado continurá impune. Tal decisão é comparável a se a justiça
decidisse suspender, quando iniciado, o histórico julgamento de Nuremberg
contra os assassinos do III Reich nazista.
Seja onde
acontecem, ou aconteceram, crimes contra a humanidade não podem ficar impunes e
ainda por cima com julgamento suspenso por pressões de quem quer que seja.
Vale então uma
pergunta que não quer calar: o que fazem neste caso governos que a todo momento
desfraldam a bandeira de defesa dos direitos humanos como o de países que nos
últimos anos promoveram até invasões e ocupações de nações tendo como pretexto
a defesa dos direitos humanos, as chamadas “intervenções humanitárias”?
Nesse sentido, vale
lembrar que transcorreu em quase total silêncio o segundo aniversário do início
da invasão da Líbia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Na
época, a mídia de mercado e os colunistas de sempre denunciavam violações de
direitos humanos e tudo mais cometidos pelo regime derrocado.
Hoje, o país norte-africano,
com um governo imposto pela OTAN, sofre as agruras de milícias que promovem
limpeza étnica em algumas cidades, como em Tawergha, segundo denúncias.
Um quadro,
portanto, totalmente diferente de dois anos atrás, quando a mídia de mercado
diariamente fazia intensa carga contra Muammar Khadafi por violações dos
direitos humanos, que serviram de pretexto para a “intervenção humanitária”.
Agora, as violações dos direitos humanos são constantes e totalmente ignoradas.
No mesmo contexto
das justificativas como o da Líbia, o governo conservador de Mariano Rajoy
autorizou 500 marines estadunidenses a utilizarem o território espanhol para a
agirem através de uma “força de intervenção rápida”, bem como o deslocamento de
oito aviões militares de última safra da indústria armamentista.
Instalados na base
de Moron, na fronteira espanhola , o objetivo dos marines seria uma eventual
intervenção norte-americana na Argélia em caso de necessidade para assegurar a
exploração de recursos naturais como gás e petróleo.
O que chamou
atenção também foi a rapidez como Rajoy decidiu fazer a concessão, levando os
analistas a prever uma iminente invasão da Argélia.
Em suma, assim
caminha hoje a humanidade sob aplausos da indústria armamentista da morte, que
lucra horrores em várias partes do mundo que se encontram sob estado de tensão.
Em tempo: A Justiça
guatemalteca acatou o pedido de retomada do julgamento do ex-ditador Rios
Montt, que deverá acontecer nesta quinta-feira(2). Espera-se que, finalmene, os
jurados tomem uma decisão, embora se saiba que a pressão dos militares aliados
de Montt vai continuar.
*É correspondente
no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros,
de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
Sem comentários:
Enviar um comentário