Margarida Bom de
Sousa – Jornal i
O metro que serve o
coração das instituições europeias parece o de Londres na Segunda Guerra
Mundial. Nem as comunicações funcionam
“Enganámo-nos,
pronto.” A frase é de uma fonte oficial de Bruxelas ligada à célebre madrugada
de sábado de 16 de Março, em que foi decidido o resgate à banca cipriota e a
taxação de todos os depósitos bancários. Este “enganámo--nos” diz
especificamente respeito à taxa prevista para os aforradores com poupanças
inferiores a 100 mil euros, que acabou por ter um impacto muito pior que o
esperado nos mercados financeiros e levou o Eurogrupo a recuar na decisão, 24
horas depois de esta ter sido anunciada, mantendo a protecção às poupanças
abaixo dos 100 mil euros.
Mas o cenário que está em cima da mesa para os países com bancos em perigo de
falência não é mais tranquilizador. Os primeiros penalizados serão os
accionistas, mas não se descarta a hipótese de que os maiores depositantes
venham a ser também afectados, abrindo caminho a um êxodo em massa das maiores
contas bancárias da zona euro para países terceiros onde não estejam sujeitas à
imprevisibilidade das políticas europeias.
Esquizofrenia
Entrar hoje na
Comissão Europeia ou no Conselho, órgão que reúne os chefes de Estado dos 27
estados-membros que compõem a União Europeia, é como entrar na cabeça de um
esquizofrénico: a primeira e mais imediata ideia com que se fica é que
existe um total desfasamento dos eurocratas da realidade, com todos a
defenderem a mesma posição oficial, independentemente das convicções pessoais e
do impacto que estas estão a ter no dia--a-dia de milhões de cidadãos
europeus. Mais. A menor ou maior adesão ao discurso oficial – a
necessidade de os 17 países da zona euro porem em ordem as suas contas públicas
(3% de défice e 60% de dívida pública no PIB) – só é perceptível pela ligeira
diferença de timbre na voz dos porta-vozes dos diversos comissários europeus.
À volta da mesa discutem-se actualmente temas como a futura união bancária, com
um sistema único de supervisão europeu, que na melhor das hipóteses é para
avançar no Verão de 2014, só nos pontos em que não é preciso alterar os
tratados. Ou seja, e numa comparação mais compreensível para o comum dos
mortais, está-se a discutir por onde passarão as futuras condutas de água para
apagar um incêndio que ameaça no dia de hoje dizimar milhões de quilómetros
quadrados de floresta. E qualquer que seja a questão, os finalmente são sempre
iguais. Não há forma de adequar as respostas da pesada máquina europeia à
premência dos problemas nem da crise.
Comunicação precisa-se
Inovador é o facto
de a Comissão Europeia estar finalmente a dar prioridade à necessidade de
explicar as suas políticas aos milhões de europeus que nunca acreditaram que se
poderia passar fome num modelo que lhes foi apresentado como o ideal máximo da
democracia, da protecção social e do bem-estar.
Mas é verdade. Isto apesar de os três edifícios que acolhem os funcionários
europeus (dois da comissão e um do conselho) levarem dez a zero de qualquer um
em Portugal no que respeita às comunicações. Na sala onde Durão Barroso dá as
conferências de imprensa não há acesso a internet móvel a partir do momento em
que o presidente da Comissão começa a falar. Mesmo os telemóveis ensurdecem
devido à falta de sinal.
Em pleno século xxi, o Conselho e a Comissão também têm sistemas informáticos
totalmente díspares, sem qualquer interactividade. Mais. Os níveis de segurança
também são totalmente diferentes. Quem trabalha na Comissão consegue aceder ao
email oficial a partir de casa; os colaboradores do Conselho nem isso. Esta
realidade acompanha o diálogo de Barroso com os chefes de Estado da UE. Exemplo
recente foi a importância dada por Bruxelas ao facto de a média do défice na
zona euro ser agora de 3% do PIB enquanto Berlim se juntava aos críticos das
medidas de austeridade, depois de conhecidos os dados mais recentes sobre a
recessão na Europa.
No meio de tudo isto, a capital do “império” está submersa em obras
infindáveis. A própria estação de metro de Schumann, que serve todos estes
edifícios oficiais, assemelha-se a Londres durante os bombardeamentos da
Segunda Guerra Mundial. Um dia, dizem-nos, será uma das maiores plataformas de
ligação entre transportes públicos da Europa. Isto se até lá a União conseguir
sobreviver à crise do euro.
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