Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Os grandes números são difíceis de explicar. Mas vou socorrer-me do 'Público'
para as contas. Ou seja, há no mundo 18 500 000 000 000 dólares em offshores. Destes,
12 000 000 000 000 têm origem na Europa, do que resulta 156 000 000 000 por
cobrar em impostos.
Mais resumido, pode
dizer-se que existem escondidos da Europa 9,5 biliões de euros (os
tais 12 biliões de dólares), que no caso de não estarem longe da vista dos
Governos e de Bruxelas originariam, em impostos, quase um PIB português.
Estas estimativas
são por alto (a Zona Franca da Madeira nem se considera para estas contas uma
offshore, uma vez que o dinheiro aí colocado é controlado), mas diz uma
conhecida ONG, a Oxfam que é equivalente a duas vezes a verba necessária
para que cada pessoa em pobreza extrema no mundo passe a viver acima do limiar
de 1,25 dólares por dia.
Enfim, os números
são arrasadores. E, no entanto, a Europa e os governos europeus pouco ou
nada fazem para pôr fim a esta situação. Pelo contrário, seis países europeus e
da UE têm offshores, entre os quais a Holanda e o Luxemburgo, além de
Chipre e Malta, sem contar com territórios fora da Europa, mas controlados por
europeus.
E porque razão os
governos da UE, apesar dos apelos do próprio Durão Barroso, mantendo esquemas
de austeridade e de brutais impostos sobre os cidadãos, pouco fazem para
contrariar este brutal esquema de fuga ao fisco? A resposta tem uma parte
de mistério, outra de mero oportunismo pessoal (não nos esqueçamos
que o próprio ex-ministro socialista francês das finanças foi descoberto com
depósitos ocultos) e uma parte de recusa em atacar os capitais. Quando os
ataca, como foi o caso de Chipre (nos depósitos acima de 100 mil euros), ouve-se
um coro de críticas, devido à sacrossanta confiança no sistema bancário.
Dizem os
economistas que uma coisa são os fluxos (o que ganham os trabalhadores, os
pensionistas e os prestadores de serviços, que pagam impostos diretos e
indiretos cada vez mais elevados) e outra são os stocks, ou seja o capital
acumulado (seja legalmente poupado ou de outra forma qualquer). Atacar os stocks quebra
a confiança para que mais stocks sejam constituídos.
Pois bem, em
épocas extraordinárias, como a que vivemos, são necessárias medidas
extraordinárias. E se há coisas absolutamente imorais face à crise na Europa é
a complacência com este dinheiro escondido. Ainda não foi desta vez que a
Europa se pôs de acordo com o fim dos offshores (o que tendo em conta
as posições de Obama nos EUA seria mais simples do que há uns anos). Isto quer
dizer que ainda não foi desta que a Europa mostrou ter autoridade moral para
exigir de todos - e não apenas dos do costume - um contributo contra a crise.
Os impérios vão
caindo, cedendo a imoralidades várias que destroem a confiança dos povos nos
seus líderes. As offshores são uma ponta evidente desse
icebergue de descrença que varre toda a Europa.
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