Rafael Barbosa –
Jornal de Notícias, opinião
Vítor Gaspar lançou
os foguetes e apanhou a canas ainda a operação não tinha terminado: a colocação
de dívida pública portuguesa a 10 anos foi "um grande sucesso",
rejubilou o ministro das Finanças. Isto apesar dos 5,6% de taxa de juro que os
donos do dinheiro nos exigem. Ou seja, apenas um ponto percentual a menos do
que há dois anos, quando se achou que o preço a pagar era insuportável e o país
foi resgatado.
As contas do
"sucesso" são simples de fazer: três mil milhões de euros a uma taxa
de juro de 5,6% representam qualquer coisa como o equivalente a 168 milhões de
euros de juros por ano, ou seja, 1680 milhões de euros para pagar no final
desse período de dez anos, só em juros.
Acrescente-se, em
seguida, a seguinte hipótese nada académica: um banco qualquer, português,
alemão ou finlandês, vai sacar ao Banco Central Europeu, aproveitando a atual
taxa de juro de referência de 0,5%, uma quantia de três mil milhões de euros.
Se o empréstimo do BCE tiver um período de vigência de 10 anos, o banco
português, alemão ou finlandês, paga 15 milhões de euros de juros por ano, ou
150 milhões no total dos 10 anos.
Continuemos a
elaborar e imaginemos que o banco português, alemão ou finlandês, ou até mesmo
um sindicato bancário, como está na moda, pega nesse dinheirão e, de forma
direta ou indireta (emprestando a outros), adquire dívida portuguesa a 10 anos.
É só continuar a
fazer as contas: cumprido o circuito, o sindicato bancário, de especuladores,
ou de investidores, como queiram chamar-lhe, receberá 1680 milhões de euros em
juros do Estado português, para pagar apenas 150 milhões em juros ao BCE. Dá um
lucro de 1530 milhões de euros, sem esforço, apenas pela manipulação de
dinheiro. O nosso dinheiro. Porque são estas as regras do BCE: empresta à
Banca, para que esta empreste aos Estados.
Vítor Gaspar tem
razão. A operação de colocação de dívida portuguesa a 10 anos foi "um
enorme sucesso"... para quem a subscreveu, ou seja, para os sindicatos
bancários e os especuladores, que conseguem dinheiro muito barato, no BCE ou
noutras paragens ainda menos recomendáveis, e emprestam muito caro.
Acontece que, para
os portugueses, o "sucesso" de Vítor Gaspar é sinónimo de mais um
garrote. Porque já se sabe quem vai pagar o empréstimo e os juros usurários que
nos cobram: os velhos, através das reduções nas pensões; os funcionários
públicos, com a chantagem da mobilidade; os desempregados, com subsídios
sucessivamente cortados; e todos os cidadãos que ainda conseguem manter o
emprego ou gerar riqueza, sobrecarregados com impostos. Segundo o PSD, chama-se
a isto dar "sentido útil aos sacrifícios".
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