Filipe Paiva Cardoso
– Jornal i
Só em 18 empresas
públicas encontram-se 72 carros para administradores. Parque automóvel vale 3
milhões e gasta 264 mil euros em gasolina
Pelas razões
apresentadas ontem por Álvaro Santos Pereira, os cortes nos carros e nos
motoristas das empresas, institutos e organismos tutelados pelo ministro da
Economia até parecia que iam representar ganhos suficientes para evitar as
novas rondas de austeridade e de cortes na despesa agora em curso. “É
fundamental reduzir despesa do Estado para não onerar os contribuintes”,
sublinhou Santos Pereira no parlamento quando apresentou a medida. Uma questão
“de respeito pelo dinheiro dos contribuintes”, salientou mesmo.
Contudo, feitas as contas a 18 das maiores empresas tuteladas pela Economia,
descobre-se um potencial de poupança nunca superior a 3 milhões de euros.
Nestas 18 empresas encontra-se um total de 72 viaturas para outros tantos
administradores. Em média, cada um destes automóveis custou 42 mil euros aos
cofres públicos, para uma factura total de 3 milhões de euros, aos quais
acrescem mais 3700 euros anuais de custos em combustível, em média por viatura,
em 2011 ou 2012 – há empresas que ainda não tornaram públicas as remunerações e
regalias de 2012 dos seus gestores, tendo o i usado valores de 2011 nesses
casos.
Assim, e para pôr em perspectiva o potencial de poupança do Estado com esta
medida, falamos de qualquer coisa como 0,1% do buraco criado pelos swaps nas
empresas do mesmo ministro. Aliás, o potencial de poupança é de tal forma
diminuto que, mesmo que fosse todo canalizado para uma única empresa pública,
não seria suficiente para pagar só o aumento recente da despesa com juros –
veja-se por exemplo que o Metro de Lisboa, só no primeiro trimestre deste ano,
gastou mais de 120 milhões de euros em juros, quando não tinha registado
qualquer despesa com juros no mesmo período de 2012.
“As empresas públicas e os institutos e organismos tutelados pelo Ministério da
Economia irão deixar de ter carros e motoristas para todos os vogais e
presidente”, anunciou Santos Pereira, referindo que a medida não visa todos os
administradores de empresas públicas, só alguns. “Respeitamos o dinheiro dos
contribuintes, é fundamental reduzir despesa para não onerar os contribuintes.”
A medida surge um ano depois dos cortes salariais aos gestores públicos, que
viram os salários limitados ao do primeiro-ministro – poupança de 2 milhões.
Carro ganha mais do
que pessoas
É de realçar porém que o longo parque automóvel apresentado
por estas empresas causa alguma admiração, especialmente tratando-se de
empresas na maioria dos casos altamente deficitárias. Mas choca também pelas
práticas que estas empresas – e também o Estado – têm imposto aos seus
trabalhadores. Na Carris, por exemplo, onde as indemnizações às pessoas
“rescindidas” foi limitada a 25 mil euros independentemente dos anos de
antiguidade, os carros da administração valem bem acima daquele valor,
superando todos a fasquia dos 42 mil euros. Também o Estado vai agora limitar
as indemnizações aos funcionários públicos “rescindidos” a valores abaixo de
todos estes carros (pág. 8).
As bombas das
bombas financeiras No top 5 dos carros mais caros na mão de gestores públicos
encontram-se três ao serviço de administrações portuárias, com destaque para as
duas viaturas de mais de 64 mil euros que estavam afectos a administradores do
Porto de Lisboa, segundo o relatório de 2011 da empresa. O primeiro lugar,
contudo, é da Metro do Porto [ao lado]. As empresas analisadas foram a AICEP, a
Transtejo, a Refer, a STCP, a NAV, os metros de Lisboa e Porto, a Estradas
dePortugal, a CP, a Carris, os CTT,a TAPe os portos de Aveiro, Setúbal, Sines,
Lisboa e Douro e Leixões.
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