Jornal i - Lusa
O provedor de
Justiça, Alfredo José de Sousa, considera que o atual Governo tem funcionado
como bloqueador do crescimento económico e recusa que seja a Constituição
o entrave ao desenvolvimento da economia.
Em entrevista à agência Lusa, por ocasião da divulgação do mais recente
relatório de atividades do provedor de Justiça, Alfredo José de Sousa disse que
o Governo de Pedro Passos Coelho tem agido como "bloqueador".
"Acho que [o Governo] é até mais bloqueador, através do aumento de
impostos, da economia. A economia não cresce, está em recessão, há alguma coisa
que o Governo poderia ter feito em termos de estímulos para a economia, que até
agora ainda não se viu", considerou.
O provedor discorda que os estímulos à economia dependam de uma revisão
constitucional, defendendo que a atual Constituição serve os interesses do país.
"Naquilo que normalmente se julga que a Constituição é um entrave à
atividade económica, como são os direitos, liberdades e garantias, sobretudo os
direitos sociais, eu chamo a atenção que os direitos sociais que a nossa
Constituição prevê são muito similares àqueles que existem nas cartas dos
direitos fundamentais da União Europeia, que está anexa ao tratado da União
Europeia, onde se encontra o direito ao trabalho, o direito à remuneração
justa, aos não despedimentos sem justa causa", sustentou.
Alfredo José de Sousa lembrou que a atual Constituição já foi revista várias
vezes e já vários Governos, de várias "cores", funcionaram com ela,
negando, por isso, que haja alguma urgência na revisão constitucional.
Questionado sobre se as medidas de austeridade são a única solução para retirar
Portugal da crise, o provedor de Justiça discorda e considera que estas se
traduziram em aumentos de impostos, diminuição das prestações sociais, mais défice
e dívida pública e ao mesmo tempo de cresceu o desemprego.
"Tenho 72 anos, vivi todo o período da Guerra Colonial, fui inclusivamente
para a guerra, vi o 25 de Abril e a queda do regime anterior e tenho impressão
que nunca vi tanto descontentamento generalizado com a situação do país, com o
Estado, como hoje", disse, acrescentando que a impressão que tem quanto ao
futuro é que "os cidadãos não têm qualquer ideia do que lhes vai suceder a
curto e a médio prazo".
Para Alfredo José de Sousa, Portugal é hoje um país mais pobre, lembrando a
propósito, o "desemprego galopante", que afeta por vezes os dois
elementos de um mesmo agregado familiar.
"Outra das coisas que se deve acentuar é que o ataque aos reformados, no
que respeita aos cortes nas pensões, vai refletir-se num extrato social que é o
dos desempregados, na medida em que hoje há muito reformado que é a
subsistência ou contribui para a subsistência de desempregados, casais, filhos
e às vezes netos", lembrou.
Segundo Alfredo José de Sousa, o problema político atual está na forma
como se vão fazer os cortes na despesa, sugerindo, a propósito, que primeiro se
faça "uma grande reflexão sobre as funções do Estado".
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