Rui Peralta, Luanda
V - A cartada dos tucos
é perigosa e pode entrar em caminhos dúbios (se é que já não entrou com esta
história do atentado). Na aldeia turca de Reyhanli, província de Hatay, muitos
foram os que recordaram as palavras do presidente sírio, que por diversas
ocasiões referiu-se ao contágio da guerra Síria em todo o Médio Oriente. Em uma
das ocasiões Assad foi mais específico quando avisou: "O fogo na Síria
queimará a Turquia. Desgraçadamente, o governo turco não vê esta
realidade".
As autoridades de
Ancara acusaram, logo após o atentado, o governo sírio, que teria actuado,
segundo o executivo turco de Erdogan, através das suas organizações na Turquia.
Foi referido o grupo Acilciler (os Urgentes). As forças de Segurança turcas
detiveram nove pessoas, alegadamente relacionadas com o atentado, sendo quatro
delas membros dessa organização e as restantes cinco, militantes do Partido
Revolucionário para a Libertação do Povo-Frente (DHKP-C). Ambas as organizações
definem-se como marxistas-leninistas e apelam á luta anti-imperialista ao nível
da acção armada internacional.
Ao DHKP-C, o
governo turco já tinha atribuído o ataque á embaixada norte-americana em
Ancara, no dia 1 de Fevereiro. Quanto ao Acilciler a sua História é mais
complexa. O seu líder é Mihraç Ural, cujo nome aparece ligado a um eventual
massacre de sírios sunitas, na localidade síria de Bayda, na região
predominantemente alauita, onde, segundo as informações disponíveis
(questionáveis porque não confirmadas, tendo sido desbloqueadas e tratadas
pelos serviços turcos e pelos bandos sírios que trabalham para a CIA) comandava
uma unidade de milicianos do BAAS (as tais milícias que foram recentemente
integradas nas forças de defesa sírias).
Existe um vídeo no
Youtube, onde Ural pode ser visto e em determinado momento diz que o seu
trabalho “consiste em limpar e libertar as aldeias" e mais á frente fala
em purificação, o que serviu para os comentaristas experts nos assuntos sírios
(os funcionários dos serviços ocidentais) referirem-se que estava em curso uma
operação de limpeza étnica na Síria, com o objectivo de assegurar um estado
alauita, em caso do regime cair.
Isto dos vídeos (no
Youtube, principalmente), já nada confirma. Se hoje São Tomé fosse vivo já não
apregoava de ânimo leve o “ver para crer”, mas acrescentaria “só estando
presente”. Mas um comentarista árabe, Hassan Hassan, como se identifica,
escreve: "A limpeza sectária não tem como propósito estabelecer um Estado
potencial mas sim objetivos estratégicos como o recrutamento de combatentes
alauitas, o agravamento das tensões sectárias a favor de Assad e assegurar a
base popular de apoio" (ver http://www.todyszaman.com/news-291247-group-tries-to-recruit-hatay-alevis-into-assad-army.html)
Ural é também
conhecido por ser o promotor de manifestações pró-síria, organizadas pela
Plataforma Anti-Imperialista contra a Intervenção na Síria e na última marcha,
manifestaram-se mais de duas mil pessoas, com bandeiras sírias e retratos de
Bashar al-Assad e de Hafez al-Assad. Segundo os serviços turcos essas
manifestações são uma campanha de recrutamento de combatentes alauitas para
ingressarem nas fileiras pró-Assad.
Abdullah Bozturk um
dos agentes turcos com maior capacidade de análise e de decifração, jornalista
especializado em terrorismo, escreveu sobre Ural: “ A sua missão é desencadear
o conflito sectário em Hatay e outras províncias, para que o governo turco
abandone a sua política anti-Assad e assuma uma posição, pelo menos neutral.
Sabemos que grupos ligados aos serviços de Inteligência síria provocaram
disputas nas províncias fronteiriças, onde vive a comunidade alauita. Algumas
das manifestações contra a chegada de refugiados sírios são, de facto,
convocadas por essa gente (…) Há muitas probabilidades de que o Acilciler e o
seu líder Mihraç Ural estejam por detrás do último atentado, como demonstram as
provas iniciais e os testemunhos dos suspeitos detidos (…) Sem apoio estatal
(da Síria e Irão, nesse caso) os terroristas não poderiam ter acedido aos
sofisticados componentes que foram adicionados aos explosivos montados nos
veículos utilizados no atentado ambos de matrícula turca" (ver http://www.todyszaman.com/columnistDetail_getNewsById.action?newsId=293045).
Mihraç Ural nasceu
em Iskenderun, Hatay, província síria até 1939, ano em que integrou a Turquia.
Juntou-se ao Acilciler, uma cisão na Frente para a Libertação dos Povos da
Turquia (THKP-C) ocorrida em 1975. Em 1980, após o golpe de estado militar na
Turquia, refugiou-se na Síria, seguindo o exemplo de outros militantes da
esquerda revolucionária turca. Na Síria participou na formação das Brigadas da
Resistência Síria / Frente Popular de Libertação de Iskenderun,
Casou-se com a
secretária de Rifat Assad, irmão de Hafez al-Assad e tio do actual presidente
Bashar al-Assad. O seu pseudónimo era Sirtlan (Hiena) e arabizou o seu nome,
passando a chamar-se, na Síria, Ali al-Kayyali. Os serviços turcos dizem que
foi ele quem apresentou Abdullah Ocalan, o líder do Partido dos Trabalhadores
Curdos (PKK) a Hafez al-Assad. Ainda segundo estes serviços, Ural conta com o
apoio e protecção da Muhabarat (os serviços de Inteligência Síria) e apontam
que Ural, ou Ali al-Kayyli, é também visto frequentemente com clérigos xiitas,
o que é interpretado como uma aproximação do Acilciler - que conta com cerca de
500 brigadistas – ao Hezbollah e ao Irão.
Mas, para já, a
consequência directa do atentado foi o relacionamento entre a população local
turca e os refugiados sírios (Em Reyhanli, onde ocorreu o atentado, residem 90
mil turcos e 30 mil sírios). Logo após o atentado, residentes de Reyhanli
atacaram automóveis sírios e desencadearam diversas acções de protesto contra o
primeiro-ministro turco e o seu governo. Os manifestantes acusaram Erdogan de
não os ter protegido e criticavam o governo por estar a arrastar a Turquia para
uma espiral de violência.
Mas a Turquia,
apesar das acusações á Síria, não lançou nem lançará, qualquer ataque contra
este país. Tal como não fez quando projécteis sírios caíram na localidade turca
de Arçakale, matando cinco pessoas. A resposta turca, para além da normal
diarreia verbal destas ocasiões, limitou-se a uns contidos disparos sobre
objectivos militares sírios, de menor importância (guardas- fronteiras, etc.)
Também não o fez aquando do episódio do carro armadilhado em Cilvegozu, na
região fronteiriça com a Síria, que matou 17 cidadãos turcos. E nada fez quando
aviões turcos violaram o espaço aéreo sírio e um dos aparelhos da Força Aérea
turca foi abatido pela artilharia síria, em Junho do ano passado.
O que os turcos sempre fazem de imediato é
lembrarem que são membros da NATO e estes para não esquecerem que os turcos são
seus aliados e pertencem á organização, enviam-lhes baterias de misseis
Patriot. Depois, é o jogo do costume, com os turcos a pressionarem os USA para
a criação de um zona de exclusão militar, no norte da Síria, uma reivindicação
do Exercito Livre da Síria.
A Inteligência
turca sabe bem que a queda de Assad não vai por um fim ao conflicto na Síria e
que a destruição do Estado sírio e das instituições sírias representará um
pesadelo para o governo de Ancara. Se isso acontecer os turcos serão envolvidos
no inferno sírio, que entrará numa nova e bárbara fase de conflito, onde as
raízes identitárias, culturais e religiosas, implicariam limpezas étnicas e
reivindicações separatistas, que alterarão, por completo, a geografia da
região.
Além do mais, estes
serviços conhecem bem tanto os grupos armados da oposição síria, como as
milícias pró-governamentais (a milícia do BAAS, os fantasmas), que apesar de
inseridas nas forças de defesa do governo sírio, irão ser uma dor de cabeça,
caso as forças armadas sírias se desintegrem. E sabem, também, que existem
centenas de grupos como os Acilciler, que contam com apoios dos serviços de
inteligência sírios e iranianos, para além de terem as suas ligações no
interior do território turco.
VI - Um acordo
USA/Rússia sobre a Síria, nada tem de surpreendente, ou de transcendental. De
certa forma surge como um facto normal, lógico e até natural. Os USA atravessam
um momento crítico nas suas finanças internas e não está nos seus objectivos
mergulhar sozinho na questão Síria, apesar de terem sido os USA a conceber o
plano de desestabilização da Síria. Mas a nova filosofia estratégica de Obama,
imagem da contenção financeira, obriga ao envolvimento dos aliados (tal como
aconteceu na Líbia e acontece no Mali).
O consenso com a
Rússia é também necessário para evitar o aprofundamento da aliança entre a
China e a Rússia, pelo menos na questão síria, embora a agenda tenha outras
envolventes que passam pelo Pacifico. Mas se os USA têm condicionantes, do lado
da Rússia, a questão é colocada noutro âmbito. Já em 1981 a URSS tinha
projectado para a Síria o papel de porta aberta para o Mediterrâneo. O acesso
marítimo sempre foi problemático para a URSS e agora para a Rússia. Em 1981 o
projecto foi travado pelos USA, que pressionaram Hafez al-Assad a não
concretizar o projecto soviético, que acabou por ser adiado.
Durante algum
tempo, após a queda do socialismo real, ou da implosão soviética (conforme as
perspectivas), a Rússia via com alguma preocupação o resvalar da Síria para o
Ocidente. Não que os russos pós-soviéticos ficassem aborrecidos ou consternados
com o capitalismo na Síria, nada disso, mas o deslumbramento que os homens de
negócios sírios sentiam pelos USA, provocavam-lhes apreensões. Se é certo que
Hafez al-Assad e uma parte importante do BAAS resistiram às visões do
deslumbramento, um facto é que o aparelho estatal sírio demonstrava-se
demasiado permeável às tendências dos novos capitalistas sírios, injectados
pelo estilo americano.
Por uma questão de
preocupação, os russos, acabaram por contactar a oposição no interior, que
tinha numa facção do Partido Comunista Sírio (PCS) a sua principal organização.
Fizeram-no sem nunca cortar os laços com Hafez al-Assad e mais tarde com
Bashar, tal como já a URSS o tinha feito, quando o PCS se cindiu, entre
apoiantes do regime sírio, integrados na Frente Nacional e opositores ao
regime. E através do PCS acabaram por estabelecer ligações no interior do
Conselho Nacional Sírio, chegando os seus contactos á Irmandade Muçulmana
Síria, onde alguns dirigentes mantêm uma disposição de diálogo para com a
Rússia e consideram que a Rússia é a parte mais importante da solução.
O Secretário de Estado
John Kerry e o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, expressaram numa declaração
conjunta as suas esperanças em relação ao encontro internacional de Junho,
entre Obama, Putin e as restantes partes. No entanto Moscovo quer que o Irão
tome parte no encontro e insiste em excluir o Qatar, com o qual existem fortes
divergências, devido a questões relacionadas com o gás natural e com os apoios
do Qatar á Irmandade Muçulmana. Por outro lado os russos manifestam a sua total
confiança em Bashar Assad e pretendem que ele siga no poder até às eleições
presidências, que serão realizadas no próximo ano, considerando inclusive a sua
possibilidade em vencê-las e continuar no cargo, e apostam na fragmentação da
oposição síria, factor essencial a explorar para provocar uma situação em que a
oposição cometa um acto de suicídio politico.
Em meados de Maio,
ocorreu uma conferência em Marraquexe, do “Valdai International Discussion
Club” um clube que foi formado em 2005 e que estabeleceu uma Divisão para o
Dialogo com o Medio Oriente, com o objectivo de analisar as principais questões
da região e avaliar o papel da Rússia na região, para além de formular
recomendações e preparar estratégias para os governos do Medio Oriente e Norte
de África. O Valdai Clube mantém reuniões periódicas com o presidente russo,
primeiro-ministro e ministro das relações exteriores, assim como com destacadas
personalidades da sociedade russa.
A conferência em
Marraquexe teve a seguinte temática; "Islam in Politics: Ideoloy or
Pragmatism?” Reuniu especialistas russos, representantes do Hezbollah, do
Hamas, da Yamaa Islamya egípcia, do Partido al-Nur do Egipto, intelectuais
islâmicos modernistas e laicos da Península Arábica e especialistas do Irão e
da Ásia Central, Da parte russa destacaram-se Vitaly Naumkin, director do
Instituto de Estudos Orientais, membro do Conselho Cientifico do Conselho de
Segurança da Federação Russa e presidente do Centro Internacional para Estudos
Políticos e Estratégicos, assim como Pavel Andreev, director-executivo da Cooperação
Internacional da agência informativa russa RIA Novosti.
A destacar neste
encontro os erros cometidos pela Rússia durante o processo líbio e a leitura
errada sobre as acções militares ocidentais, que paralisaram a diplomacia russa
e levaram á derrota de Kadhafi, foi realçado o papel da Rússia na Síria e
necessidade de apoiar totalmente o governo sírio, através de acções politicas,
diplomáticas e militares. Foram também debatidas alternativas a Assad, num
quadro negocial, onde ficaram evidenciadas os contactos mantidos por diversos
meios da diplomacia russa, com sectores da oposição síria.
Outra questão
relacionada com o papel da Rússia na região foi o reforço das relações com o
Irão e com o Hezbollah, salvaguardando os russos as suas reservas em relação ao
objectivo do Hezbollah, que conta com o apoio do Irão, em abrir uma frente de
resistência contra Israel nos Golã. Moscovo opõe-se a esta política, contrária
aos princípios que regem a sua relação muito especial com Israel e porque
consideram que ela afectará o andamento da conferência internacional de Junho.
Moscovo e Teerão
defendem, no entanto, que o papel de Assad se manterá inalterável, mesmo
durante um governo de transição decidido por acordo na conferência
internacional. Russos e iranianos consideram que durante um eventual governo de
transição, Assad será um “presidente em tempo de guerra”, figura que implica
que Assad manterá os seus poderes até às eleições.
VII - Por sua vez os USA prosseguem numa
política dualista. Por um lado mantêm os corredores abertos ao diálogo, se vier
através dos russos, por outro aceleram os preparativos de uma eventual
intervenção directa, desde que os seus aliados participem activamente e como
parte fundamental da invasão. De qualquer forma os USA só o farão se por parte
dos russos receberem algum sinal de que estes negociaram contrapartidas e
obtiveram garantias, com uma das facções centrais da oposição, tornando inútil
o papel de Assad.
John Kerry esteve em Omã, onde se
reuniu com o governo deste sultanato, sendo o ponto único da reunião a Síria,
embora isso não evitasse a assinatura de uma acordo no valor de dois mil e cem
milhões de USD, entre o sultanato e a Raytheon Corporation, para a venda de
misseis Stinger, unidades Avenger e misseis ar-ar, de tecnologia de ponta.
Discutida a questão Síria e assinada a negociata, Kerry seguiu para a Jordânia,
onde teve, em Amã uma reunião com os Amigos da Síria, a coligação formada pelos
USA, U.E, Turquia, Egipto, Arábia Saudita, Qatar, Koweit e Emiratos Árabes
Unidos.
Nesta reunião participou o Conselho
Nacional Sírio, tendo os USA aproveitado para promoverem a figura de um tal
Ghassan Hitto, um homem de negócios sírio, que estabeleceu a sua sede no Texas.
Vinculado á Irmandade Muçulmana da Síria, Hitto, que reside nos USA desde
inícios da década de oitenta, é promovido pelos USA como sendo um “pragmático”,
“profundamente democrático”, um “combatente responsável”, etc.. Aliás nos
relatórios e informes da CIA, é realçado o facto de as suas opiniões serem
rechaçadas pelos paramilitares sectários sunitas.
Para além do comerciante Hitto, o novo
menino querido sírio da CIA, a delegação do CNS era liderada por George Sabra
do PCS-facção anti-Assad (provavelmente para dar um ar mais serio e intelectual
á feira). Esqueceram-se, os promotores da reunião, de convidarem o embaixador
sírio em Amã, o senhor Bajah Suleiman, que promoveu uma contra-conferência onde
acusou a reunião dos Amigos da Síria, como sendo um ninho de inimigos mortais
do povo sírio. Mas os Amigos da Síria apenas convidaram sírios de uma das
partes, daqueles que vivem e têm negócios nos USA, ou que passeiam-se nos
salões de chá da U.E. defendendo a democraticidade orgânica da esquerda (caso
de Sabra).
Segundo o Departamento de Estado, o
papel de Kerry, nesta reunião, era a preparação para as conversações de paz na
Síria, resultantes dos acordos entre os USA e a Rússia. Mas a preocupação dos
participantes foram as vitórias recentemente alcançadas pelas forças armadas
sírias, ao restabelecerem o controlo de grande parte do território,
principalmente na cidade de Qusayr, no oeste do país, a oito quilómetros da
fronteira com o Líbano.
A cidade, que havia
caído sob controlo dos bandos armados pelo Ocidente, era um importante centro
de abastecimento de armas e munições, para além de um corredor de introdução de
mercenários, que entravam em território sírio através do Líbano. Qusayr tinha
também importância no isolamento de Damasco e na sua ligação a Alepo, assim
como á costa síria.
Se o Departamento de Estado estabeleceu
a função oficial de John Kerry, como preparador das conversações de paz, o seu
real papel foi revelado pelo próprio Kerry, que na conferência de imprensa
realizada na reunião dos Amigos da Síria, advertiu que Washington consideraria
um crescente apoio á oposição, aos “combatentes da liberdade” (o fantasma
afegão e nicaraguense, criado por Reagan e Thatcher), caso Assad não concorde
com a solução politica. E aqui voltamos ao discurso otomano de Erdogan, da
Turquia: conversações, sim. Mas…a Síria tem de aceitar o que foi
pré-estabelecido pela Coligação!
Estes comentários de Kerry, reveladores
do seu verdadeiro papel, foram ditas um dias depois de o Congresso ter aprovado
a directiva de Menéndez. A CIA coordena os fluxos do armamento saído do Golfo
Pérsico para a Síria e organizou carregamento a partir da Europa de Leste. Mas
o Hezbollah, aliado do governo sírio, tem desempenhado um importante papel no
bloqueio desta rede logística, para além das suas milícias intervirem ao lado
do exército sírio, nas batalhas que têm restabelecido o controlo do Estado e
causado graves reveses aos bandos armados, como no caso da cidade Qusayr.
O Departamento de Estado emitiu uma
declaração denunciando o papel do Hezbollah na Síria, considerando que este
movimento libanês está a “inflamar” as tensões étnicas. Mas os USA não
manifestam estas preocupações quando os bandos armados das forças
oposicionistas ocuparam Qusayr e massacraram as comunidades alauitas e cristãs,
importantes minorias nesta cidade, mergulhando-a num banho de sangue provocado
pelos inúmeros fuzilamentos e decapitações. Alauitas e cristãos, que os bandos
consideravam ser comunidades aliadas dos judeus e do sionismo, foram obrigados
a abandonar a cidade, para não serem vitimas das atrocidades praticadas pelos
mercenários.
É evidente que a conferência é
espinhosa. Se é certo que Obama e Putin a desejam, embora por motivos
diferentes, as restantes partes vão colocando as suas cartas sobre a mesa,
chegando em alguns momentos a encarar a opção de inviabilizar o encontro. A
oposição síria, por exemplo, acabou por ameaçar não participar na conferência
internacional. Alegou o CNS que enquanto o apoio do Irão e do Hezbollah a Assad
continuar a ser efectuado de forma directa, o CNS não se sentará á mesa com os
seus representantes.
Os russos já deram a entender, através
do ministro das relações exteriores, Sergei Lavrov, que esta posição irá
comprometer qualquer solução negociada e abre as portas á solução militar,
enquanto a Alemanha, através do ministro Guido Westerwelle, pediu ao CNS que
reveja a sua posição e participe no encontro. Para complicar ainda mais o
actual cenário, a polícia turca deteve alegados militantes islâmicos da Frente
al-Nusra, braço da Al-Qaeda na síria, com gás sarin, o que faz voltar á questão
das armas químicas.
Claro que o CNS fará aquilo que os USA
disserem para fazer, pelo menos o sírio dos negócios que reside nos USA e a
facção maioritária da oposição. Sabra (o orgânico de esquerda) leu o comunicado
do CNS numa conferência de imprensa, mas sendo conhecida as suas flutuações de
opinião, é natural que quando Obama se referir ao assunto e considere
obrigatória a participação do CNS, Sabra dê o dito por não dito e diga que leu
mas não concordou.
Enquanto isso, em Damasco, o sol nasce
todos os dias e a lua banha-se nos seus raios, todas as noites…
Fontes
Prieto, Mónica G. http://www.cuartopoder.es/elfarodeoriente/el-contagio-sirio-en-turquia-de-la-mano-de-un-defensor-de-la-limpieza-sectaria/4494
Kayleh, Salama http://www.blogger.com/profile/13846965362462065292
Van Auken, Bill http://www.globalresearch.ca/behind-syria-peace-talks-us-prepares-regional-war/5336100
Dergham, Daghira
http://www.huffingtonpost.com/raghida-dergham/the-priorities-of-russias_b_3294526.htm
The Guardian,
April, 6, 2013
Washington Post,
May, 11, 2013.
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