quarta-feira, 5 de junho de 2013

COMO SOLETRAR DÁ-ME ASCO, OU OS NOVOS CONTOS DAS MIL E UMA NOITES (2)

 

Rui Peralta, Luanda
 
V - A cartada dos tucos é perigosa e pode entrar em caminhos dúbios (se é que já não entrou com esta história do atentado). Na aldeia turca de Reyhanli, província de Hatay, muitos foram os que recordaram as palavras do presidente sírio, que por diversas ocasiões referiu-se ao contágio da guerra Síria em todo o Médio Oriente. Em uma das ocasiões Assad foi mais específico quando avisou: "O fogo na Síria queimará a Turquia. Desgraçadamente, o governo turco não vê esta realidade".
 
As autoridades de Ancara acusaram, logo após o atentado, o governo sírio, que teria actuado, segundo o executivo turco de Erdogan, através das suas organizações na Turquia. Foi referido o grupo Acilciler (os Urgentes). As forças de Segurança turcas detiveram nove pessoas, alegadamente relacionadas com o atentado, sendo quatro delas membros dessa organização e as restantes cinco, militantes do Partido Revolucionário para a Libertação do Povo-Frente (DHKP-C). Ambas as organizações definem-se como marxistas-leninistas e apelam á luta anti-imperialista ao nível da acção armada internacional.
 
Ao DHKP-C, o governo turco já tinha atribuído o ataque á embaixada norte-americana em Ancara, no dia 1 de Fevereiro. Quanto ao Acilciler a sua História é mais complexa. O seu líder é Mihraç Ural, cujo nome aparece ligado a um eventual massacre de sírios sunitas, na localidade síria de Bayda, na região predominantemente alauita, onde, segundo as informações disponíveis (questionáveis porque não confirmadas, tendo sido desbloqueadas e tratadas pelos serviços turcos e pelos bandos sírios que trabalham para a CIA) comandava uma unidade de milicianos do BAAS (as tais milícias que foram recentemente integradas nas forças de defesa sírias).   
 
Existe um vídeo no Youtube, onde Ural pode ser visto e em determinado momento diz que o seu trabalho “consiste em limpar e libertar as aldeias" e mais á frente fala em purificação, o que serviu para os comentaristas experts nos assuntos sírios (os funcionários dos serviços ocidentais) referirem-se que estava em curso uma operação de limpeza étnica na Síria, com o objectivo de assegurar um estado alauita, em caso do regime cair.
 
Isto dos vídeos (no Youtube, principalmente), já nada confirma. Se hoje São Tomé fosse vivo já não apregoava de ânimo leve o “ver para crer”, mas acrescentaria “só estando presente”. Mas um comentarista árabe, Hassan Hassan, como se identifica, escreve: "A limpeza sectária não tem como propósito estabelecer um Estado potencial mas sim objetivos estratégicos como o recrutamento de combatentes alauitas, o agravamento das tensões sectárias a favor de Assad e assegurar a base popular de apoio" (ver http://www.todyszaman.com/news-291247-group-tries-to-recruit-hatay-alevis-into-assad-army.html)
 
Ural é também conhecido por ser o promotor de manifestações pró-síria, organizadas pela Plataforma Anti-Imperialista contra a Intervenção na Síria e na última marcha, manifestaram-se mais de duas mil pessoas, com bandeiras sírias e retratos de Bashar al-Assad e de Hafez al-Assad. Segundo os serviços turcos essas manifestações são uma campanha de recrutamento de combatentes alauitas para ingressarem nas fileiras pró-Assad.
 
Abdullah Bozturk um dos agentes turcos com maior capacidade de análise e de decifração, jornalista especializado em terrorismo, escreveu sobre Ural: “ A sua missão é desencadear o conflito sectário em Hatay e outras províncias, para que o governo turco abandone a sua política anti-Assad e assuma uma posição, pelo menos neutral. Sabemos que grupos ligados aos serviços de Inteligência síria provocaram disputas nas províncias fronteiriças, onde vive a comunidade alauita. Algumas das manifestações contra a chegada de refugiados sírios são, de facto, convocadas por essa gente (…) Há muitas probabilidades de que o Acilciler e o seu líder Mihraç Ural estejam por detrás do último atentado, como demonstram as provas iniciais e os testemunhos dos suspeitos detidos (…) Sem apoio estatal (da Síria e Irão, nesse caso) os terroristas não poderiam ter acedido aos sofisticados componentes que foram adicionados aos explosivos montados nos veículos utilizados no atentado ambos de matrícula turca" (ver http://www.todyszaman.com/columnistDetail_getNewsById.action?newsId=293045).
 
Mihraç Ural nasceu em Iskenderun, Hatay, província síria até 1939, ano em que integrou a Turquia. Juntou-se ao Acilciler, uma cisão na Frente para a Libertação dos Povos da Turquia (THKP-C) ocorrida em 1975. Em 1980, após o golpe de estado militar na Turquia, refugiou-se na Síria, seguindo o exemplo de outros militantes da esquerda revolucionária turca. Na Síria participou na formação das Brigadas da Resistência Síria / Frente Popular de Libertação de Iskenderun,
 
Casou-se com a secretária de Rifat Assad, irmão de Hafez al-Assad e tio do actual presidente Bashar al-Assad. O seu pseudónimo era Sirtlan (Hiena) e arabizou o seu nome, passando a chamar-se, na Síria, Ali al-Kayyali. Os serviços turcos dizem que foi ele quem apresentou Abdullah Ocalan, o líder do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK) a Hafez al-Assad. Ainda segundo estes serviços, Ural conta com o apoio e protecção da Muhabarat (os serviços de Inteligência Síria) e apontam que Ural, ou Ali al-Kayyli, é também visto frequentemente com clérigos xiitas, o que é interpretado como uma aproximação do Acilciler - que conta com cerca de 500 brigadistas – ao Hezbollah e ao Irão.
 
Mas, para já, a consequência directa do atentado foi o relacionamento entre a população local turca e os refugiados sírios (Em Reyhanli, onde ocorreu o atentado, residem 90 mil turcos e 30 mil sírios). Logo após o atentado, residentes de Reyhanli atacaram automóveis sírios e desencadearam diversas acções de protesto contra o primeiro-ministro turco e o seu governo. Os manifestantes acusaram Erdogan de não os ter protegido e criticavam o governo por estar a arrastar a Turquia para uma espiral de violência.
 
Mas a Turquia, apesar das acusações á Síria, não lançou nem lançará, qualquer ataque contra este país. Tal como não fez quando projécteis sírios caíram na localidade turca de Arçakale, matando cinco pessoas. A resposta turca, para além da normal diarreia verbal destas ocasiões, limitou-se a uns contidos disparos sobre objectivos militares sírios, de menor importância (guardas- fronteiras, etc.) Também não o fez aquando do episódio do carro armadilhado em Cilvegozu, na região fronteiriça com a Síria, que matou 17 cidadãos turcos. E nada fez quando aviões turcos violaram o espaço aéreo sírio e um dos aparelhos da Força Aérea turca foi abatido pela artilharia síria, em Junho do ano passado.
 
O que os turcos sempre fazem de imediato é lembrarem que são membros da NATO e estes para não esquecerem que os turcos são seus aliados e pertencem á organização, enviam-lhes baterias de misseis Patriot. Depois, é o jogo do costume, com os turcos a pressionarem os USA para a criação de um zona de exclusão militar, no norte da Síria, uma reivindicação do Exercito Livre da Síria. 
 
A Inteligência turca sabe bem que a queda de Assad não vai por um fim ao conflicto na Síria e que a destruição do Estado sírio e das instituições sírias representará um pesadelo para o governo de Ancara. Se isso acontecer os turcos serão envolvidos no inferno sírio, que entrará numa nova e bárbara fase de conflito, onde as raízes identitárias, culturais e religiosas, implicariam limpezas étnicas e reivindicações separatistas, que alterarão, por completo, a geografia da região.
 
Além do mais, estes serviços conhecem bem tanto os grupos armados da oposição síria, como as milícias pró-governamentais (a milícia do BAAS, os fantasmas), que apesar de inseridas nas forças de defesa do governo sírio, irão ser uma dor de cabeça, caso as forças armadas sírias se desintegrem. E sabem, também, que existem centenas de grupos como os Acilciler, que contam com apoios dos serviços de inteligência sírios e iranianos, para além de terem as suas ligações no interior do território turco.
 
VI - Um acordo USA/Rússia sobre a Síria, nada tem de surpreendente, ou de transcendental. De certa forma surge como um facto normal, lógico e até natural. Os USA atravessam um momento crítico nas suas finanças internas e não está nos seus objectivos mergulhar sozinho na questão Síria, apesar de terem sido os USA a conceber o plano de desestabilização da Síria. Mas a nova filosofia estratégica de Obama, imagem da contenção financeira, obriga ao envolvimento dos aliados (tal como aconteceu na Líbia e acontece no Mali).
 
O consenso com a Rússia é também necessário para evitar o aprofundamento da aliança entre a China e a Rússia, pelo menos na questão síria, embora a agenda tenha outras envolventes que passam pelo Pacifico. Mas se os USA têm condicionantes, do lado da Rússia, a questão é colocada noutro âmbito. Já em 1981 a URSS tinha projectado para a Síria o papel de porta aberta para o Mediterrâneo. O acesso marítimo sempre foi problemático para a URSS e agora para a Rússia. Em 1981 o projecto foi travado pelos USA, que pressionaram Hafez al-Assad a não concretizar o projecto soviético, que acabou por ser adiado.
 
Durante algum tempo, após a queda do socialismo real, ou da implosão soviética (conforme as perspectivas), a Rússia via com alguma preocupação o resvalar da Síria para o Ocidente. Não que os russos pós-soviéticos ficassem aborrecidos ou consternados com o capitalismo na Síria, nada disso, mas o deslumbramento que os homens de negócios sírios sentiam pelos USA, provocavam-lhes apreensões. Se é certo que Hafez al-Assad e uma parte importante do BAAS resistiram às visões do deslumbramento, um facto é que o aparelho estatal sírio demonstrava-se demasiado permeável às tendências dos novos capitalistas sírios, injectados pelo estilo americano.
 
Por uma questão de preocupação, os russos, acabaram por contactar a oposição no interior, que tinha numa facção do Partido Comunista Sírio (PCS) a sua principal organização. Fizeram-no sem nunca cortar os laços com Hafez al-Assad e mais tarde com Bashar, tal como já a URSS o tinha feito, quando o PCS se cindiu, entre apoiantes do regime sírio, integrados na Frente Nacional e opositores ao regime. E através do PCS acabaram por estabelecer ligações no interior do Conselho Nacional Sírio, chegando os seus contactos á Irmandade Muçulmana Síria, onde alguns dirigentes mantêm uma disposição de diálogo para com a Rússia e consideram que a Rússia é a parte mais importante da solução.
 
O Secretário de Estado John Kerry e o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, expressaram numa declaração conjunta as suas esperanças em relação ao encontro internacional de Junho, entre Obama, Putin e as restantes partes. No entanto Moscovo quer que o Irão tome parte no encontro e insiste em excluir o Qatar, com o qual existem fortes divergências, devido a questões relacionadas com o gás natural e com os apoios do Qatar á Irmandade Muçulmana. Por outro lado os russos manifestam a sua total confiança em Bashar Assad e pretendem que ele siga no poder até às eleições presidências, que serão realizadas no próximo ano, considerando inclusive a sua possibilidade em vencê-las e continuar no cargo, e apostam na fragmentação da oposição síria, factor essencial a explorar para provocar uma situação em que a oposição cometa um acto de suicídio politico.
 
Em meados de Maio, ocorreu uma conferência em Marraquexe, do “Valdai International Discussion Club” um clube que foi formado em 2005 e que estabeleceu uma Divisão para o Dialogo com o Medio Oriente, com o objectivo de analisar as principais questões da região e avaliar o papel da Rússia na região, para além de formular recomendações e preparar estratégias para os governos do Medio Oriente e Norte de África. O Valdai Clube mantém reuniões periódicas com o presidente russo, primeiro-ministro e ministro das relações exteriores, assim como com destacadas personalidades da sociedade russa.
 
A conferência em Marraquexe teve a seguinte temática; "Islam in Politics: Ideoloy or Pragmatism?” Reuniu especialistas russos, representantes do Hezbollah, do Hamas, da Yamaa Islamya egípcia, do Partido al-Nur do Egipto, intelectuais islâmicos modernistas e laicos da Península Arábica e especialistas do Irão e da Ásia Central, Da parte russa destacaram-se Vitaly Naumkin, director do Instituto de Estudos Orientais, membro do Conselho Cientifico do Conselho de Segurança da Federação Russa e presidente do Centro Internacional para Estudos Políticos e Estratégicos, assim como Pavel Andreev, director-executivo da Cooperação Internacional da agência informativa russa RIA Novosti.
 
A destacar neste encontro os erros cometidos pela Rússia durante o processo líbio e a leitura errada sobre as acções militares ocidentais, que paralisaram a diplomacia russa e levaram á derrota de Kadhafi, foi realçado o papel da Rússia na Síria e necessidade de apoiar totalmente o governo sírio, através de acções politicas, diplomáticas e militares. Foram também debatidas alternativas a Assad, num quadro negocial, onde ficaram evidenciadas os contactos mantidos por diversos meios da diplomacia russa, com sectores da oposição síria.
 
Outra questão relacionada com o papel da Rússia na região foi o reforço das relações com o Irão e com o Hezbollah, salvaguardando os russos as suas reservas em relação ao objectivo do Hezbollah, que conta com o apoio do Irão, em abrir uma frente de resistência contra Israel nos Golã. Moscovo opõe-se a esta política, contrária aos princípios que regem a sua relação muito especial com Israel e porque consideram que ela afectará o andamento da conferência internacional de Junho.
 
Moscovo e Teerão defendem, no entanto, que o papel de Assad se manterá inalterável, mesmo durante um governo de transição decidido por acordo na conferência internacional. Russos e iranianos consideram que durante um eventual governo de transição, Assad será um “presidente em tempo de guerra”, figura que implica que Assad manterá os seus poderes até às eleições. 
 
VII - Por sua vez os USA prosseguem numa política dualista. Por um lado mantêm os corredores abertos ao diálogo, se vier através dos russos, por outro aceleram os preparativos de uma eventual intervenção directa, desde que os seus aliados participem activamente e como parte fundamental da invasão. De qualquer forma os USA só o farão se por parte dos russos receberem algum sinal de que estes negociaram contrapartidas e obtiveram garantias, com uma das facções centrais da oposição, tornando inútil o papel de Assad.
 
John Kerry esteve em Omã, onde se reuniu com o governo deste sultanato, sendo o ponto único da reunião a Síria, embora isso não evitasse a assinatura de uma acordo no valor de dois mil e cem milhões de USD, entre o sultanato e a Raytheon Corporation, para a venda de misseis Stinger, unidades Avenger e misseis ar-ar, de tecnologia de ponta. Discutida a questão Síria e assinada a negociata, Kerry seguiu para a Jordânia, onde teve, em Amã uma reunião com os Amigos da Síria, a coligação formada pelos USA, U.E, Turquia, Egipto, Arábia Saudita, Qatar, Koweit e Emiratos Árabes Unidos.
 
Nesta reunião participou o Conselho Nacional Sírio, tendo os USA aproveitado para promoverem a figura de um tal Ghassan Hitto, um homem de negócios sírio, que estabeleceu a sua sede no Texas. Vinculado á Irmandade Muçulmana da Síria, Hitto, que reside nos USA desde inícios da década de oitenta, é promovido pelos USA como sendo um “pragmático”, “profundamente democrático”, um “combatente responsável”, etc.. Aliás nos relatórios e informes da CIA, é realçado o facto de as suas opiniões serem rechaçadas pelos paramilitares sectários sunitas.
 
Para além do comerciante Hitto, o novo menino querido sírio da CIA, a delegação do CNS era liderada por George Sabra do PCS-facção anti-Assad (provavelmente para dar um ar mais serio e intelectual á feira). Esqueceram-se, os promotores da reunião, de convidarem o embaixador sírio em Amã, o senhor Bajah Suleiman, que promoveu uma contra-conferência onde acusou a reunião dos Amigos da Síria, como sendo um ninho de inimigos mortais do povo sírio. Mas os Amigos da Síria apenas convidaram sírios de uma das partes, daqueles que vivem e têm negócios nos USA, ou que passeiam-se nos salões de chá da U.E. defendendo a democraticidade orgânica da esquerda (caso de Sabra).    
 
Segundo o Departamento de Estado, o papel de Kerry, nesta reunião, era a preparação para as conversações de paz na Síria, resultantes dos acordos entre os USA e a Rússia. Mas a preocupação dos participantes foram as vitórias recentemente alcançadas pelas forças armadas sírias, ao restabelecerem o controlo de grande parte do território, principalmente na cidade de Qusayr, no oeste do país, a oito quilómetros da fronteira com o Líbano. 
 
A cidade, que havia caído sob controlo dos bandos armados pelo Ocidente, era um importante centro de abastecimento de armas e munições, para além de um corredor de introdução de mercenários, que entravam em território sírio através do Líbano. Qusayr tinha também importância no isolamento de Damasco e na sua ligação a Alepo, assim como á costa síria.
 
Se o Departamento de Estado estabeleceu a função oficial de John Kerry, como preparador das conversações de paz, o seu real papel foi revelado pelo próprio Kerry, que na conferência de imprensa realizada na reunião dos Amigos da Síria, advertiu que Washington consideraria um crescente apoio á oposição, aos “combatentes da liberdade” (o fantasma afegão e nicaraguense, criado por Reagan e Thatcher), caso Assad não concorde com a solução politica. E aqui voltamos ao discurso otomano de Erdogan, da Turquia: conversações, sim. Mas…a Síria tem de aceitar o que foi pré-estabelecido pela Coligação!  
 
Estes comentários de Kerry, reveladores do seu verdadeiro papel, foram ditas um dias depois de o Congresso ter aprovado a directiva de Menéndez. A CIA coordena os fluxos do armamento saído do Golfo Pérsico para a Síria e organizou carregamento a partir da Europa de Leste. Mas o Hezbollah, aliado do governo sírio, tem desempenhado um importante papel no bloqueio desta rede logística, para além das suas milícias intervirem ao lado do exército sírio, nas batalhas que têm restabelecido o controlo do Estado e causado graves reveses aos bandos armados, como no caso da cidade Qusayr.
 
O Departamento de Estado emitiu uma declaração denunciando o papel do Hezbollah na Síria, considerando que este movimento libanês está a “inflamar” as tensões étnicas. Mas os USA não manifestam estas preocupações quando os bandos armados das forças oposicionistas ocuparam Qusayr e massacraram as comunidades alauitas e cristãs, importantes minorias nesta cidade, mergulhando-a num banho de sangue provocado pelos inúmeros fuzilamentos e decapitações. Alauitas e cristãos, que os bandos consideravam ser comunidades aliadas dos judeus e do sionismo, foram obrigados a abandonar a cidade, para não serem vitimas das atrocidades praticadas pelos mercenários.        
 
É evidente que a conferência é espinhosa. Se é certo que Obama e Putin a desejam, embora por motivos diferentes, as restantes partes vão colocando as suas cartas sobre a mesa, chegando em alguns momentos a encarar a opção de inviabilizar o encontro. A oposição síria, por exemplo, acabou por ameaçar não participar na conferência internacional. Alegou o CNS que enquanto o apoio do Irão e do Hezbollah a Assad continuar a ser efectuado de forma directa, o CNS não se sentará á mesa com os seus representantes.
 
Os russos já deram a entender, através do ministro das relações exteriores, Sergei Lavrov, que esta posição irá comprometer qualquer solução negociada e abre as portas á solução militar, enquanto a Alemanha, através do ministro Guido Westerwelle, pediu ao CNS que reveja a sua posição e participe no encontro. Para complicar ainda mais o actual cenário, a polícia turca deteve alegados militantes islâmicos da Frente al-Nusra, braço da Al-Qaeda na síria, com gás sarin, o que faz voltar á questão das armas químicas.   
 
Claro que o CNS fará aquilo que os USA disserem para fazer, pelo menos o sírio dos negócios que reside nos USA e a facção maioritária da oposição. Sabra (o orgânico de esquerda) leu o comunicado do CNS numa conferência de imprensa, mas sendo conhecida as suas flutuações de opinião, é natural que quando Obama se referir ao assunto e considere obrigatória a participação do CNS, Sabra dê o dito por não dito e diga que leu mas não concordou.
 
Enquanto isso, em Damasco, o sol nasce todos os dias e a lua banha-se nos seus raios, todas as noites…
 
Fontes
Dergham, Daghira http://www.huffingtonpost.com/raghida-dergham/the-priorities-of-russias_b_3294526.htm
The Guardian, April, 6, 2013
Washington Post, May, 11, 2013.
 
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