domingo, 16 de junho de 2013

FALTA UM LÍDER FORTE PARA ENFRENTAR ATUAL GOVERNO DA TURQUIA - portuguesa



ICO – MLL - Lusa

A emigrante portuguesa na Turquia Ana Mota, de 21 anos, disse hoje à Lusa que há milhares de jovens nas ruas de Istambul e Ancara, mas tem dúvidas que o Governo caia enquanto não aparecer um líder “forte” que enfrente o atual primeiro-ministro.

“Se nós tivéssemos um líder faríamos uma luta grande. Como não temos, as pessoas não sabem o que fazem. Vamos para as coisas, mas não vamos atrás de ninguém. Se nós tivéssemos um líder ninguém nos poderia parar. Há pessoas que aparecem, mas muito fracas para lutar contra este homem, Tayyip Erdogan”, relatou a estudante universitária à agência Lusa por via telefónica.

Nascida no Porto, filha de mãe portuguesa e pai turco, Ana Mota reside na Turquia desde muito pequena, é atualmente estudante de Gestão na Universidade de Istambul e diz que tem participado nas manifestações antigovernamentais nas ruas de Istambul e Ancara e que começaram há cerca de duas semanas.

“O Governo está louco, sinceramente… os polícias atacam os hospitais, as crianças, as mulheres, tudo para irmos embora. Percebemos que está com medo e por isso quer que as pessoas saiam dali mas isto não vai acabar. Hoje as pessoas vão andar até Taksim de onde quer que estejam”, disse.

Em Ancara, onde se encontra hoje, está também tudo “muito mal”, com muitos confrontos e muita gente nas ruas.

“Vê-se muita gente nova nas ruas, especialmente na faixa dos 18 até aos 30, muitos jovens universitários”, disse.

De acordo com Ana Mota, as pessoas estão muito revoltadas, em especial os jovens: “São terríveis para nós. Dividem quem é tapado e quem não é tapado. Ninguém pode falar mal do primeiro-ministro, porque vão para a prisão. Quem fala mal vai para a prisão”.

A estudante lamentou ainda que “apenas um ou dois canais de televisão” locais difundam informação e imagens sobre a situação das manifestações, “mas como se tratam de canais com poucos recursos, as imagens são muito poucas”.

A estudante universitária diz assim que tem acompanhado as notícias em relação aos incidentes através da Internet, ou pela BBC e CNN internacionais.

“Eu consigo ver no rosto do primeiro-ministro e da mulher que eles estão em pânico e querem que isto acabe, mas quanto mais a polícia usar a força as pessoas vão ficar cada vez mais revoltadas e isto não vai acabar”, declarou.

De acordo com a agência Efe, milhares de pessoas estavam esta noite nas ruas de Istambul com a intenção de seguirem para a praça Taksim, em resposta à retirada pela polícia dos ocupantes do parque Gezi no sábado, depois de um novo ultimato do primeiro-ministro turco a exigir a saída dos manifestantes das ruas.

Segundo a France Presse, a polícia continuou a intervir durante a noite com recurso a gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar a multidão nas ruas de Istambul.

Para hoje, a Plataforma de Solidariedade da Praça Taksim agendou um grande protesto para as 16:00 (14:00 em Lisboa), tendo o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, convocado igualmente os seus apoiantes.

O ministro turco dos Assuntos Europeus, Egemen Bagis, entretanto advertiu que quem entrar na praça Taksim será considerado terrorista.

“A partir deste momento, qualquer pessoa que se encontre ali, lamentavelmente terá que ser considerada pelo Estado como membro de uma organização terrorista”, avisou o membro do Governo numa entrevista ao canal "A Haber", citado pela agência Efe.

De acordo com as autoridades turcas, os protestos provocaram 44 feridos até ao momento, quando fontes médicas asseguram que há mais de 7.500 feridos, 50 dos quais em estado grave, além de quatro mortos, três manifestantes e um polícia.

Foto: VASSIL DONEV/EPA

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