ICO – MLL - Lusa
A emigrante
portuguesa na Turquia Ana Mota, de 21 anos, disse hoje à Lusa que há milhares
de jovens nas ruas de Istambul e Ancara, mas tem dúvidas que o Governo caia
enquanto não aparecer um líder “forte” que enfrente o atual primeiro-ministro.
“Se nós tivéssemos
um líder faríamos uma luta grande. Como não temos, as pessoas não sabem o que
fazem. Vamos para as coisas, mas não vamos atrás de ninguém. Se nós tivéssemos
um líder ninguém nos poderia parar. Há pessoas que aparecem, mas muito fracas
para lutar contra este homem, Tayyip Erdogan”, relatou a estudante
universitária à agência Lusa por via telefónica.
Nascida no Porto,
filha de mãe portuguesa e pai turco, Ana Mota reside na Turquia desde muito
pequena, é atualmente estudante de Gestão na Universidade de Istambul e diz que
tem participado nas manifestações antigovernamentais nas ruas de Istambul e
Ancara e que começaram há cerca de duas semanas.
“O Governo está
louco, sinceramente… os polícias atacam os hospitais, as crianças, as mulheres,
tudo para irmos embora. Percebemos que está com medo e por isso quer que as
pessoas saiam dali mas isto não vai acabar. Hoje as pessoas vão andar até
Taksim de onde quer que estejam”, disse.
Em Ancara, onde se
encontra hoje, está também tudo “muito mal”, com muitos confrontos e muita
gente nas ruas.
“Vê-se muita gente
nova nas ruas, especialmente na faixa dos 18 até aos 30, muitos jovens
universitários”, disse.
De acordo com Ana
Mota, as pessoas estão muito revoltadas, em especial os jovens: “São terríveis
para nós. Dividem quem é tapado e quem não é tapado. Ninguém pode falar mal do
primeiro-ministro, porque vão para a prisão. Quem fala mal vai para a prisão”.
A estudante
lamentou ainda que “apenas um ou dois canais de televisão” locais difundam
informação e imagens sobre a situação das manifestações, “mas como se tratam de
canais com poucos recursos, as imagens são muito poucas”.
A estudante
universitária diz assim que tem acompanhado as notícias em relação aos
incidentes através da Internet, ou pela BBC e CNN internacionais.
“Eu consigo ver no
rosto do primeiro-ministro e da mulher que eles estão em pânico e querem que
isto acabe, mas quanto mais a polícia usar a força as pessoas vão ficar cada
vez mais revoltadas e isto não vai acabar”, declarou.
De acordo com a
agência Efe, milhares de pessoas estavam esta noite nas ruas de Istambul com a
intenção de seguirem para a praça Taksim, em resposta à retirada pela polícia
dos ocupantes do parque Gezi no sábado, depois de um novo ultimato do
primeiro-ministro turco a exigir a saída dos manifestantes das ruas.
Segundo a France
Presse, a polícia continuou a intervir durante a noite com recurso a gás
lacrimogéneo e canhões de água para dispersar a multidão nas ruas de Istambul.
Para hoje, a
Plataforma de Solidariedade da Praça Taksim agendou um grande protesto para as
16:00 (14:00 em Lisboa), tendo o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan,
convocado igualmente os seus apoiantes.
O ministro turco
dos Assuntos Europeus, Egemen Bagis, entretanto advertiu que quem entrar na
praça Taksim será considerado terrorista.
“A partir deste
momento, qualquer pessoa que se encontre ali, lamentavelmente terá que ser
considerada pelo Estado como membro de uma organização terrorista”, avisou o
membro do Governo numa entrevista ao canal "A Haber", citado pela
agência Efe.
De acordo com as
autoridades turcas, os protestos provocaram 44 feridos até ao momento, quando
fontes médicas asseguram que há mais de 7.500 feridos, 50 dos quais em estado
grave, além de quatro mortos, três manifestantes e um polícia.
Foto: VASSIL
DONEV/EPA
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