Martinho Júnior,
Luanda
1 – Uma semana
depois da passagem da armada colonial britânica por Luanda a 1 de Maio de 2013,
morreu em Londres Margaret Thatcher.
Os dois
acontecimentos têm referências de fundo comuns:
- Seria impossível
Margaret Thatcher ser uma aliada do regime do “apartheid” da África do Sul,
como de Augusto Pinochet do Chile, se não fosse a sua opção doutrinária,
ideológica e política, eminentemente capitalista, neo liberal e elitista (de
acordo com a “escola de Oxford”);
- Seria impossível
a manutenção pela força das Malvinas enquanto colónia britânica e resquício do
império colonial, se a opção de raiz de Margaret Tharcher não fosse tão zelosa
e exponencialmente conservadora;
- Seria impossível
ao império anglo-saxónico fazer opções na América Latina no quadro do seu
domínio; entre as ditaduras as preferências foram desde logo para aquelas que
faziam escola de capitalismo neo liberal e elitista, a escola dos “rapazes de
Chicago” (e com isso estava ditada a sorte dos ditadores argentinos);
- Seria impossível
a sobrevivência do quadro de capitalismo neo liberal na Grã Bretanha até aos
nossos dias, não fosse a força desde logo colocada à disposição da “dama de
ferro”, a Primeira Ministra que em pleno século XX mais anos esteve no poder na
Grã Bretanha (de 1979 a 1990), o tempo suficiente para lançar as bases da opção
que no futuro, tirando partido do desaparecimento do bloco socialista, passaria
a moldar os termos da globalização;
- Seria impossível
tudo isso sem que a geo estratégia anglo-saxónica década após década não
funcionasse consolidada a partir dos factores energéticos próprios da Revolução
Industrial, com particular incidência Atlântica!
2 – Por razões geo
estratégias contudo, em relação ao sul, Margaret Thatcher mais do que a “dama
de ferro” que saia vencedora com seu “parceiro” Ronald Reagan da Guerra Fria,
não podia deixar de ser sobretudo uma verdadeira “dama do petróleo”, o que
aliás ficou bem vincado com a trajectória de sua própria família e
descendentes.
As Malvinas,
veio-se a verificar, possuem ricas jazidas de petróleo ainda por explorar, em
condições próximas às que o Reino Unido beneficiou com outros aliados no Mar do
Norte.
Ao manter as
Malvinas como colónia, o Reino Unido garantia reservas de petróleo “in” para
além das previsibilidades a norte, em contradição uma vez mais com os
interesses do sul, ávidos de independência e soberania!
3 – A posição das
Malvinas além do mais e por seu turno, conferem à Grã Bretanha – Reino Unido
potencialidades enormes em relação ao Atlântico, como importante segmento
vinculado numa linha de domínio que se desprende desde o Árctico, a norte, à
Antárctida, a sul.
Nessa linha, só a
Grã Bretanha se encontra tão próxima dum continente (a Europa): as Malvinas
estão similarmente próximas da América do Sul e todas as outras ilhas, a maior
parte minúsculos arquipélagos, se encontram bem no miolo oceânico, longe de costas
continentais.
Os arquipélagos
constituem os ninhos da pirataria atlântica dos anglo-saxões, um projecto de
muito longa duração em fase de despontar, no seguimento dos projectos elitistas
e egoístas típicos de Oxford e de Chicago: para essas elites o mundo tem de
forçosamente ser gerido pelo seu domínio, o domínio dos 1% sobre os outros 99%,
nunca a humanidade gerida como um todo, com seus interesses comuns o que obsta
à gestão efectiva do planeta enquanto nossa preciosa e única casa comum!
A NATO, o SOUTHCOM
e o AFRICOM do Pentágono são os mentores geo estratégicos principais dos
projectos que nessa opção se inscrevem, sob o ponto de vista de inteligência e
militar ao serviço desse domínio!
Todas as “parcerias”
que a partir daí se dilatem ou difundam, não passam de meras articulações
subjugadas pela imensa capacidade tecnológica dos núcleos duros do poder e dos
poderosos instrumentos à sua disposição.
A posição das
Malvinas, para além dos aspectos de retaguarda em relação às bases
anglo-saxónicas na Antárctida, sob o ponto de vista funcional actua como uma
permanente “testa de ponte” capitalista neo liberal que, como emulsão do
império, visa submeter a vontade de independência e emergência das nações
latino americanas, 200 anos depois do hastear de suas bandeiras!
4 – Ao aceitar a
passagem da armada colonial britânica pelos portos de África enquanto realizam
exercícios de toda a ordem de acordo com o exclusivo padrão do AFRICOM e da
NATO, os países africanos, inclusive aqueles que lutaram contra o colonialismo
e o “apartheid” nas décadas de 70 e 80 do século passado, contribuem para os
parâmetros da globalização neo liberal, contrariando a vontade de independência
e emergência dos países que na América Latina optam pelas alternativas da
dignidade, contrariando sua própria vontade de independência e emergência!
Desse modo eles
estão muito mais próximos da submissão neo colonial, próximos das opções de
Margaret Thatcher, próximos da época em que foram geradas as raízes-padrão do
modelo de globalização estimulado pelas elites ocidentais eminentemente
anglo-saxónicas!
É preciso que se
explique no quadro desta globalização neo liberal: o Atlântico é um “mare
nostrum” para o império anglo-saxónico com sua panóplia de aliados e todas as
riquezas existentes nele estão à mercê da rapina de seus velhos e poderosos
piratas constituídos nas suas actuais elites!
Mapa: A rota
britânica em direcção à Guerra nas Malvinas; essa não é a rota da armada
colonial britânica de hoje, que opta por uma rota que, domínio obriga, torna
visíveis suas naves ao longo da costa ocidental africana, de Marrocos à África
do Sul! – http://en.wikipedia.org/wiki/Falklands_War
Recomendação
relativa às produções de Martinho Júnior:
A série “A
inteligência resolve”, publicada em Janeiro de 2013 no Página Global é
subjacente a este tema; de facto é necessário avaliar quanto o processo de
globalização que constrói o império em nome dos 1% da humanidade, ciosa dos
seus poderes e lucros, se tornou num processo inteligente e actuante,
recorrendo a toda a panóplia de recursos e ensinamentos, inclusive recursos e
ensinamentos doutrinários e udeológicos.
A consultar:
.Margaret Thatcher
– http://en.wikipedia.org/wiki/Margaret_Thatcher
.Thatcher, o mito –
http://www.odiario.info/?p=2831
.A guerra social de
Thatcher – http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/nova-ordem-internacional/a_guerra_social_de_tchatcher
.Guerra das
Malvinas – http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_das_Malvinas
.Guerra das
Malvinas, o desfecho da ditadura mais sangrenta da América Latina – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/guerra-das-malvinas-o-desfecho-da.html
.Disputa pelas
Malvinas abre debate sobre perspectivas económicas – http://pt.globalvoicesonline.org/2012/02/27/brasil-disputa-pelas-malvinas-abre-debate-sobre-perspectivas-economicas
.A Importância
Geoestratégica do AFRICOM para os EUA em África – http://pt.altermedia.info/internacional/a-importancia-geoestrategica-do-africom-para-os-eua-em-africa_724.html
.HMS Argyll begins
her West Africa and South Atlantic tour – http://en.mercopress.com/2013/02/19/hms-argyll-begins-her-west-africa-and-south-atlantic-tour
.Militarizando o
Atlântico Sul a partir da base nas Malvinas – http://www.odiario.info/?p=2840
.O novo velho
militarismo de David Cameron – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21576
.Almirante destaca
relações de cooperação entre Angola e o Reino Unido – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2013/3/18/Almirante-destaca-relacoes-cooperacao-entre-Angola-Reino-Unido,d5598d86-0d93-4820-beed-a8de38361268.html
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