Correio do Brasil -
ontem
O Ministério
Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro recomendou à Polícia Militar do estado
a restrição ao uso de armamentos de baixa letalidade – também chamados de não
letais – nas manifestações públicas no estado, especialmente as programadas
para este domingo no entorno do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã,
onde ocorrerá a partida final da Copa das Confederações, entre Brasil e
Espanha. Em nota divulgada na noite desta sexta-feira, o MPF pediu para que
seja respeitado “o exercício pacífico de livre manifestação de reunião,
pensamento e expressão, instrumentos essenciais para o exercício da
democracia”.
Assinada pelos
procuradores regionais dos Direitos do Cidadão Jaime Mitropoulos e Alexandre
Ribeiro Chaves, a recomendação do MPF é que as armas de baixa letalidade, como
bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, gás de pimenta e balas de
borracha, seja utilizadas somente nos casos comprovadamente necessários para
resguardar a integridade física de policiais, de outros agentes públicos e de
terceiros. Os procuradores admitem também o uso dessas armas em situações
extremas, em que o uso da força seja comprovadamente o único meio possível de
conter ações violentas.
Os procuradores
pedem ainda que os armamentos de baixa letalidade não devem ser utilizados, em
hipótese alguma, contra crianças, adolescentes, gestantes, pessoas com
deficiência e idosos, conforme resolução do Conselho de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana. O documento também lembra que deve ser garantido o livre
exercício do trabalho para repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e outros
profissionais de comunicação durante as manifestações.
Caso a recomendação
não seja cumprida, o MPF poderá adotar as medidas judiciais cabíveis. O
documento foi encaminhado aos secretários nacional e estadual de Segurança
Pública, ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e à Procuradoria
Federal dos Direitos do Cidadão.
O procurador
Alexandre Ribeiro Chaves ressaltou que o uso de armas de baixa letalidade deve
atender aos parâmetros técnicos do Exército e esses artefatos não devem ter
sido objeto de algo inovador.
– Nós tivemos
notícia, esta semana, de que a Polícia Militar do Rio adquiriu bombas de gás
lacrimogêneo em concentração superior à permitida pelas normas do Exército, e
isso de certa forma ampliou a abrangência da nossa recomendação. As armas que
não tenham sido ainda objeto de testes não devem ser utilizadas – disse o
procurador do MPF.
De acordo com
notícias veiculadas pela imprensa, a PM fluminense adquiriu, em caráter
emergencial, por absoluta falta de estoque no fornecedor do produto, 2 mil
bombas de gás lacrimogêneo produzidas para serem exportadas para Angola e fora
das especificações brasileiras. Essas bombas têm o dobro da concentração máxima
de gás lacrimogêneo permitida pelas normas do Exército, que é 10%.
Procurada pela
Agência Brasil para se posicionar sobre a recomendação do MPF, a Polícia
Militar do Rio informou “que planeja suas ações com base em estudos de casos
anteriores e, dentre as novas medidas, destaca-se a que recomenda aos policiais
evitar o uso de munição de borracha, a não ser em casos extremos”. A nota
ressalta que “os protocolos de uso progressivo da força utilizados pela PM são
usados por forças de segurança de todo o mundo”.
A PM finaliza a
nota assegurando que “respeita o direito democrático de expressão e não reprime
manifestações pacíficas” e que “o trabalho dos policiais é preservar os valores
inerentes a qualquer pacto democrático: direito de ir e vir, direito à
propriedade, integridade física e o patrimônio público”.
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