sábado, 8 de junho de 2013

O AFRICOM NO SEU MAIS “REQUINTADO” ESTILO

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Sem dúvida que os recursos para a implementação do AFRICOM são múltiplos, com ementas “variáveis” e “criativas”, expandindo também e dessa maneira a constelação de alianças possíveis não só no quadro do Pentágono, mas também com a NATO, o ANZUS e os “parceiros” africanos e arábicos cada vez mais instrumentalizados… e disponíveis!
 
As possibilidades de através dos interesses se estarem a armar cada vez mais grupos da Al Qaeda e de outras sensibilidades radicais, facto que eu tenho vindo a apontar em consonância com os dados evidenciados sobretudo pelos analistas do Global Research e da Rede Voltaire, passou finalmente às preocupações de alguns estados europeus, mas parece ser uma preocupação distante dos africanos, salvo no Mali, no Níger, na Argélia, na Nigéria, no Chade... e na Líbia (após o assassinato do embaixador norte americano J. Christopher Stevens).
 
Alguns serviços de inteligência ocidentais já o haviam assumido “in”, como é o caso dos franceses, mas o “combate ao terrorismo” como faz parte, enquanto instrumentalização, da justificação para a presença militar do AFRICOM e da NATO em África e no Médio Oriente, (dos franceses, por exemplo, em vários países do Sahel na sequência do que ocorre no espaço CEDEAO), as preocupações vão-se situando, até prova em contrário, num segundo plano que não deixa de ser deliberadamente controverso…
 
…É o que está a acontecer com a Síria…
 
África está pois cada vez mais à mercê dos monstros desencadeados pelos tais 1% mandantes do quadro da presente globalização, uma globalização que se executa ao sabor dos seus exclusivos interesses e conveniências (entre eles a necessidade de domínio sobre o petróleo barato do norte de África e da península arábica) e que deixa as migalhas do grande manjar para os outros tão manipulados 99%!...
 
…Daí o neo colonialismo que se vai abatendo sobre o continente, acentuando os casos dos mais vulneráveis, entre eles o da Guiné Bissau…
 
2 – Ao relembrar o “Steadfast Jaguar 2006”, o que então escrevi sobre o papel submisso de Cabo Verde e dos africanos e o que tem vindo a ocorrer em África, no Médio Oriente, assim como nos oceanos e mares circundantes, recordo também que é em centros produtores de drogas pesadas como a Colômbia e o Afeganistão que a presença das Forças Armadas dos Estados Unidos e de seus aliados da NATO e do ANZUS é mais forte… as mesmas forças armadas que “ensaiaram” em Junho de 2006, em Cabo Verde, (com exercícios similares nas Caraíbas e no Mediterrâneo), o “desembarque” no Afeganistão!...
 
…Quanto mais presença militar, mais produção de droga e quanto mais produção de droga, mais os centros consumidores a absorvem sem remissão.
 
São precisamente as potências detentoras das moedas fortes como o dólar, o euro e o rublo, as potências consumidoras de droga, duas potências ao serviço da globalização neo liberal e um emergente, os Estados Unidos, a Europa e a Rússia, os mentores do “combate ao tráfico de droga” e do “combate”, cada vez mais surrealista, ao “terrorismo”!...
 
Se algum combate há ao “tráfico de droga” nos principais países receptores como os Estados Unidos e os diversos componentes Europeus, é impensável que neles os que dominam corporações multinacionais e os cartéis sejam atingidos pela repressão, por que o capital à sua disposição se mescla com o capital das oligarquias e da aristocracia financeira mundial e esses 1% são “intocáveis”!
 
A repressão fica-se quanto muito pelos tentáculos, pelos circuitos, por aqueles que foram instrumentalizados e por isso nunca é feita sobre a cabeça do polvo!
 
Por isso é “fácil e oportuno” fazer a repressão na América Latina, em África ou no Médio Oriente, bem como nos mares próximos: essa é uma “ementa” que aliás serve os interesses dessas mesmas oligarquias, da aristocracia financeira mundial e de suas novas elites “parceiras”… tal como acontece com o “terrorismo”!...
 
Na amplitude da CEDEAO e na imensa região oceânica circundante, o “combate à pirataria, ao terrorismo e ao tráfico de droga”, processos típicos do “soft power” da administração democrata de Barack Hussein Obama, utiliza os mesmíssimos meios de inteligência e militares, que respondem à NATO e ao AFRICOM!
 
3 – No preciso momento, em Março e Abril de 2013, que convergiam várias armadas à região atlântica entre Cabo Verde e o Senegal, recorrendo às experiências que se desencadearam a partir do “Steadfast Jaguar 2006”, foi detido em nome do “combate ao tráfico de droga”, numa operação singular de inteligência dos Estados Unidos, o Almirante da Guiné Bissau, José Américo Bubo Na Tchuto…
 
De entre as armadas que acorreram na época à região entre Cabo Verde e o Senegal, estavam os navios da armada colonial britânica que se dirigia para as Malvinas, entre eles o HMS Argyll, que haveria de tocar Luanda em finais de Abril de 2013!
 
O HMS Argyll na altura, além de escalar Cabo Verde, realizou exercícios no quadro do “Saharan Express 2013” (Março de 2013) e com os navios da Marinha de Guerra francesa que fazem o reabastecimento das forças militares francesas do Senegal ao Gabão (Abril de 2013).
 
Eis os países que participaram no exercício multifunções “Saharan Express 2013”: Cabo Verde, Costa do Marfim, Espanha, Estados Unidos, França, Gâmbia, Libéria, Holanda, Mauritânia, Marrocos, Portugal, Reino Unido, Serra Leoa e Senegal, oito países oeste-africanos, cinco da NATO, 10 navios e 4 comandos operacionais…
 
Os navios franceses que realizaram exercícios com o HMS Argyll foram o FS Mistral e FS Henaff…
 
Só o Almirante da Guiné Bissau parece ter andado distraído em relação ao amplo movimento de interesses e de naves da NATO e dos países africanos circunvizinhos nos mares mais próximos e só o governo da Guiné Bissau se parece ter distraído com o facto de ter sido considerado como um “estado falhado”, simultaneamente como um “narco estado”.
 
A caracterização da vulnerabilidade da Guiné Bissau enquanto “estado falhado”, está a ser útil à AFRICOM e à NATO: é a partir dessa qualificação que a Guiné Bissau tem sido colocada à margem das relações na região (o que não acontece com o actual governo do Mali, produto também dum golpe de estado naquele país) e por isso podem ser sacrificadas algumas das entidades que compõem a sua elite política e militar.
 
Nesse aspecto os Estados Unidos estão a utilizar a experiência em relação à Guiné Bissau como uma experiência pioneira que depois irão também utilizar em relação a outros “estados falhados”!
 
O uso do cacete para com essas entidades, que estando ligadas ao tráfico de droga são apenas tentáculos dele, (a Guiné Bissau quando muito é produtora em muito pequena escala de canábis) serve para o uso da cenoura em relação a todos os outros países africanos da região, agenciando para a causa do AFRICOM e da NATO as suas elites políticas e militares, de forma a colocá-las ao seu serviço com o rótulo de “parceiros”…
 
De facto, para que houvesse um agenciamento tão extensivo de “parceiros” no Atlântico afecto ao espaço CEDEAO, era necessário sacrificar o elo mais frágil: a Guiné Bissau e alguns dos que nela sustentaram o último golpe de estado!
 
Desse modo se trabalha no agenciamento das elites militares africanas da CEDEAO, em estreita conjugação com o “esforço” no “combate ao terrorismo”!
 
É evidente que nada há de referência a Amílcar Cabral, assassinado há 40 anos, nas actuais conjunturas sócio-políticas de Cabo Verde e da Guiné Bissau, muito menos nos outros países africanos da região: está-se a todo o vapor a trabalhar nas ingerências e nos expedientes de agenciamento, que conduzem ou pela via da afirmação ou pela da negação, à constituição dos grupos afins à globalização neo liberal que em cada um dos países CEDEAO estão a assumir o tributário poder local neo colonizado!
 
Esse quadro da CEDEAO, dado o peso da região na União Africana, transmite à organização continental 50 anos depois da sua fundação, um estado de neo colonialismo com consequências gravosas, sob o ponto de vista humano e político, que podem inclusive conduzir ao redesenhar do mapa político do continente, sem diminuir a fragilidade e a vulnerabilidade dos estados!
 
É o AFRICOM ao seu melhor estilo!
 
Foto: Os FS Mistral, FS Henaff e HMS Argyll entre Cabo Verde e o Senegal, precisamente na altura em que as autoridades norte americanas anunciavam a detenção em mar internacional do Almirante da Guiné Bissau, José Américo Bubo Na Tchuto! – (“HMS Argyll bolsters l’Entente Cordiale” – http://www.royalnavy.mod.uk/News-and-Events/Latest-News/2013/April/09/130409-HMS-Argyll-LEntente-Cordiale).
 
A consultar:
.Apagando países do mapa: quem faz com que falhem os “estados falhados” – Fonte: http://www.globalresearch.ca/destroying-countries-transforming-syria-into-a-failed-state/5317160
.Al Qaeda in the islamic Maghreb: Who is who? Who is behind the terrorists? – http://www.globalresearch.ca/al-qaeda-in-the-islamic-maghreb-whos-whos-who-is-behind-the-terrorists/5319754
.A invasão real de África não está nos noticiários – uma licença para mentir como prenda de Hollywood – http://resistir.info/pilger/pilger_31jan13.html
.La reconquête de l’Afrique – http://www.voltairenet.org/article177305.html
.A nova estratégia americana para África – http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=195
.El opio, la CIA y la administracion Karzai – http://www.voltairenet.org/article167879.html
.O narcotráfico e seus submarinos – http://repositorio.ub.edu.ar:8080/xmlui/handle/123456789/1027
.O comércio de drogas hoje – http://www.oolhodahistoria.ufba.br/04coggio.html
.Saharan Express 2013 concludes in Senegal – http://www.navy.mil/submit/display.asp?story_id=72743
.Almirante Bubo Na Tchuto faz face a prisão perpétua nos EUA – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/04/almirante-guineense-bubo-na-tchuto-faz.html
.Serviços secretos portugueses assassinaram Amílcar Cabral – http://www.odiario.info/?p=2753
 

2 comentários:

Anónimo disse...


Drogue, pétrole et guerre
par Peter Dale Scott - http://www.voltairenet.org/article178702.html


Anónimo disse...


Terrorism and Non Conventional Warfare: France, Qatar, and the New World Disorder - http://www.globalresearch.ca/terrorism-and-non-conventional-warfare-france-qatar-and-the-new-world-disorder/5320543

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