Rui Peralta, Luanda
I - Para o
sionismo, a Palestina histórica é um território de leite e mel, onde a redenção
foi efectuada pelos colonos judeus, rodeados de autóctones bárbaros e
semi-selvagens, desvinculados da terra em que habitam. É desta forma que o sionismo
representa a Palestina e a respectiva colonização. O sionismo considera que a
colonização da Palestina foi realizada por uma questão de necessidade, para
fugir á perseguição antijudaica. Depois havia o direito histórico á Terra
Prometida pelo Povo Eleito, segundo a Bíblia (o Velho Testamento). A Palestina
é representada pelos sionistas como um território baldio e abandonado, embora,
quando se iniciou a diáspora (já lá vão dois mil anos), fosse um território de leite
e mel.
Os Palestinianos,
no imaginário sionista, são conotados como uma tribo de nómadas, indolentes,
sem vínculos á terra. O discurso sionista emprega apenas o termo árabe, nunca o
de Palestiniano, negando, assim, a identidade Palestiniana e o seu direito á
soberania. São estereótipos que desumanizam, cumprindo dessa forma o objectivo
do discurso e da representação sionista.
II - Este
imaginário sionista teve um grande impacto durante e após a criação do Estado
de Israel, em 1948. Ao não considerar a identidade palestiniana, sendo estes apenas
árabes, nómadas sem terra, poderia deslocá-los para outros países árabes como a
Síria, o Egipto, o Iraque e a Jordânia entre outros. No imaginário sionista
estava implícita uma limpeza étnica, assente num objectivo muito claro: o maior
território possível, com a menor população não judaica, eis uma das regras
políticas fundacionais do sionismo.
Em contrapartida os
judeus que emigravam para a Palestina – o novo judeu, como os chamavam – eram,
para os relatos oficiais, empreendedores, trabalhadores e idealistas que
regressavam á Pátria Ancestral. Se observarmos as fotografias da propaganda
oficial sionista da época, deparamos com pessoas musculosas e bronzeadas, com
ar decidido. Estes foram os colonos que (segundo a propaganda sionista)
situaram Israel na modernidade, dotando o país de indústrias e de cidades
prósperas, para além de realizarem um intenso trabalho agrícola através de
comunidades agrárias de raiz socialista, os kibutz.
O imaginário
sionista, pela forma como despreza os autóctones e descreve os colonos, não
difere em nada dos imaginários das potências europeias durante os processos de
colonização. O Império Britânico usou esse tipo de representações na América do
Norte, África do Sul e na Austrália, tendo os USA praticado a mesma política durante
a conquista do Oeste e os bóeres na África do Sul. Todos eles imaginavam um
território virgem e abandonado, por onde caminhavam bárbaros e incivilizados.
Estas potências coloniais consideravam-se Povos Eleitos que chegavam a terras
prometidas. Os colonos eram sempre empreendedores e trabalhadores, contrastando
com os nativos indolentes.
III - O discurso
sionista consiste em lemas simples, fáceis de assimilar pela população. É um
discurso que resume-se em frases como: Uma terra sem povo para um povo sem terra,
frase do escritor judaico-britânico Israel Zangwill, referente á Palestina. A
repetição deste tipo de frases, nos discursos políticos, nos meios de
comunicação, nos escritos diversos, nos manuais escolares e em todos os âmbitos
sociais, modelam o imaginário colectivo, ao ponto de serem transversais ao
discurso político e comuns á esquerda e á direita sionistas.
O Holocausto
representa um ponto de viragem na representação do judeu da diáspora, no
discurso sionista. Este era representado como um ser frágil, débil, sujeito às
atrocidades, conduzido como rebanhos para as câmaras de gás e campos de
concentração do III Reich. Esta representação é diametralmente oposta á do novo
judeu da Palestina, forte e vigoroso, um novo judeu impetuoso, criador de uma nova
sociedade.
Na construção
simbólica do novo estado formado em 1948, três anos depois do término da II
Guerra Mundial, o Holocausto foi instrumentalizado, de forma a ser integrado no
discurso sionista e nos seus objectivos. O genocídio nazi ficou vinculado á
ideia de que a única solução para a questão judia era a criação de um estado
judeu. Ora o discurso sionista sobre o judeu da diáspora desvalorizava este
sector das populações judaicas, que foram os que mais sofreram com o
nazi-fascismo (principalmente as comunidades judaicas da Europa Central).
Ao utilizar o
Holocausto para os seus fins, o sionismo encobre a forma como considerava o
judeu da diáspora e ao mesmo tempo encobre as suas relações com o nazismo, em
particular quando organizações sionistas como a LEHI (a célebre STERN, para os
ingleses) na II Guerra Mundial colaboraram com os nazis aos mais diversos
níveis (desde fornecerem guardas para os campos de concentração, formarem a
tristemente célebre Policia Judaica, que patrulhava os guetos de Varsóvia, até
a acordos para fornecimento de armas e munições, no combate aos ingleses na
Palestina).
IV - A presença
palestiniana é omissa tanto em Israel como nos territórios ocupados. Desde os
manuais escolares á cartografia (onde Israel é apresentado como abrangendo toda
a Palestina histórica, não diferenciando Gaza e a Cisjordânia) passando pelos
meios de comunicação.
As populações da
Palestina são apresentadas como grupos homogéneos (o discurso totalitário nega
a pluridimensionalidade. O mundo concentracionário, totalitário, é
unidimensional. Por exemplo: o pensamento único) e o mesmo ocorre com os
berberes e os grupos judeus procedentes dos países árabes, da Síria e da
Turquia (os mizrahim) ou os grupos procedentes de todo o Norte de África (do
Egipto á Mauritânia) e da Península Ibérica (os sefarditas), dos grupos
provenientes da Etiópia, Eritreia, Somália e Sudão (os falashas), ou ainda os
ignorados e sem nomenclatura, judeus negros provenientes de uma vasta região
com inicio no Senegal (no Atlântico) estendendo-se até ao Zanzibar, Maurícias,
Comores, Seychelles e Madagáscar (no Indico) e os judeus provenientes da
ex-URSS.
Todos estes grupos
são ignorados ou negativamente conotados, sendo reconhecidos somente os
azknashies, os judeus do ocidente, vistos como o grupo principal e sendo
considerados os verdadeiros pais da Pátria.
V - Israel
afirma-se como estado democrático (a única democracia da região, sublinha a
propaganda sionista) e judeu. Assumindo o regime parlamentar, a sociedade
israelita vive numa contradição permanente e insolúvel entre aquilo que são os
seus princípios e aquilo que é a realidade da sociedade israelita. As elites
sionistas impuseram um sistema de apartheid que bloqueia a frágil e teórica
raiz democrática do estado de Israel. As instituições públicas ficam
amordaçadas às necessidades da guerra e da ameaça permanente ao estado de
Israel os cidadãos vivem submetidos a uma lógica de vigilância constante e de
sobressalto, com medo do terrorismo árabe. Nestas condições o sistema
democrático fica completamente bloqueado e entregue aos jogos das diferentes
facções da elite sionista no Knesset, o parlamento.
Os descendentes dos
palestinianos que não foram expulsos em 1948, os palestinianos de cidadania
israelita, assim como os berberes do Negueve, não podem ingressar no exército,
nem aceder a determinados serviços públicos, que existem só para judeus. Não
podem viver nos terrenos do Estado, nem acrescentar territórios aos seus locais
de permanência ou de residência (lugares, aldeias, vilas). A cidade de Nazaré,
uma cidade histórica, de maioria palestiniana, não pode crescer para além dos
limites impostos pelo Estado, em 1948, mas os seus municípios, de maioria
judaica, são cada vez maiores. Paradigmático: existirem municípios maiores que
a cidade.
VI - No imaginário
sionista os aspectos mitológicos da cultura hebraica, são transformados em
temas actuais. Por exemplo a forma como o sionismo aproveita e desfigura a
celebre luta entre David e Golias. Israel é apresentado como um estado
democrático e civilizado, rodeado de países árabes e islâmicos que o ameaçam
constantemente. O David civilizado e democrático encontra-se ameaçado pelo
Golias árabe e muçulmano. Golias passou por diversas representações através da
História e actualmente a representação dominante descreve-o como terrorista e
fanático.
A estigmatização do
Outro é permanente no discurso sionista. Theodor Hertz, o pai do sionismo,
considerava o estado judeu como um posto avançado da civilização contra a
barbárie. Algumas décadas depois Vladimir Jabotinsky, líder da corrente
direitista do sionismo, afirmava que os Judeus nada tinham a ver com o Oriente
e que o islamismo deveria ser varrido de Israel, apresentando os árabes como
uma horda desejosa de guerra. Já depois de 1948, Ben Gurion falava da
eventualidade de um segundo holocausto, ao referir-se a uma suposta ameaça dos
países árabes e mais recentemente Ehud Barak, quando era primeiro-ministro e
líder trabalhista, referia-se á selva árabe que rodeava Israel.
A elite sionista
implementa desta forma o terror nas populações israelitas, dominando pelo medo
ao Outro e criando um imenso gueto por todo o estado de Israel. O terrorismo de
estado, que caracteriza a agressão sionista, começa em casa e é aplicado aos
seus. Deturpando a realidade histórica, explorando os receios da população, estigmatizando
tudo o que é diferente, expulsando os palestinianos, procedendo a uma limpeza
étnica, os eleitos pelo povo eleito assumem o seu papel de guardiões do
Capital, tornando Israel o policia de choque do imperialismo.
Para trás ficaram os sonhos
dos Judeus errantes da diáspora e dos Judeus que cavalgavam as areias dos
desertos ao lado dos seus irmãos árabes: um mundo mais justo e liberto das
correntes do ódio. Foi este o sonho maior que nem o Holocausto conseguiu
apagar, mas que o sionismo espezinhou.
1 comentário:
Según Noam Chomsky, Obama aumenta el peligro de una guerra nuclear al utilizar drones en lucha antiterrorista
"EEUU e Israel, amenazas principales a la paz mundial"
Eva Usi
La Jornada
Descarta que revelaciones del ex agente de la CIA Snowden tengan efectos en la opinión pública
Una ráfaga interminable de flashes acompaña el paso titubeante del lingüista estadunidense Noam Chomsky, convirtiéndose en la muestra de su celebridad. Llegó a Bonn, Alemania, para abrir un foro global mediático de tres días, convocado por la emisora internacional alemana Deutsche Welle, que estos días está de fiesta al conmemorar el 60 aniversario de su fundación. La visita del prominente antiglobalista estaba cerrada para las entrevistas, pero fue él quien hizo una excepción por tratarse de La Jornada.
La visita del profesor emérito de lingüística del Instituto Tecnológico de Massachusetts y crítico acérrimo de la política estadunidense coincide con la del presidente Barack Obama a Berlín, en un momento en el que su administración es criticada por su programa de drones y de espionaje para supuestamente proteger a los estadunidenses de potenciales ataques terroristas.
...
http://www.jornada.unam.mx/2013/06/22/index.php?section=mundo&article=018n1mun
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