A democracia deve ser exercida ali onde está o poder. Não há nada mais precioso
na vida de uma Nação do que o momento em que o poder se define nas ruas.
Assegurar que ele seja um poder democrático é a tarefa mais urgente no Brasil
nesse momento.As forças progressistas, preocupadas com os rumos das legítimas
manifestações de massa em todo o país, tem uma tarefa simples, prática, urgente
e incontornável. Reunir-se em todos os fóruns possíveis para exercer a democracia
dando-lhe um conteúdo propositivo. Conversar sobre o Brasil. Entender o momento
vivido pelo Brasil. Formular e reforçar linhas de passagem entre o
país que já temos e aquele que queremos. Como bem disse a Presidenta Dilma em
seu discurso, 6ª feira: ‘Precisamos oxigenar o nosso sistema político. É a cidadania,
e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar'. É
preciso dar organicidade a esse princípio. Os valores que vão ordenar a
travessia para o novo ciclo do desenvolvimento brasileiro estão sendo
sedimentados nos dias que correm. As forças progressistas devem participar
ativamente da carpintaria que definirá essa moldura histórica. Como?
Organizando-se para ir às ruas. Reunindo-se previamente para conversar
sobre o Brasil. Em núcleos de base dos partidos, nos
diretórios, sindicatos, nas ONGs, nos locais de trabalho, nos
círculos de vizinhança, nas escolas, nos condomínios, com a turma do
futebol e a do facebook. Na 6ªfeira, por exemplo, cerca de 800 pessoas,
representando 80 entidades, reuniram-se no Sindicato dos Químicos, em São
Paulo, a convite do MST. Em pauta: mobilizar um milhão de pessoas na capital,
em defesa de um Brasil onde a democracia participativa paute o destino da
sociedade e o futuro do desenvolvimento. Neste sábado, na Casa da Cidade,
mais de 200 intelectuais, sindicalistas e integrantes do PSOL, PSTU,
PT reuniram-se com igual espírito. (Carta Maior; Domingo, 23/06/2013)
O PT e o governo
precisam de uma faxina
Se a vontade
política da presidente Dilma Rousseff e seu partido for realmente enfrentar a
onda reacionária que tenta controlar as ruas, há uma lição de casa a ser feita.
O PT e o governo precisam se livrar da quinta-coluna, que representa interesses
alheios à esquerda e aos setores populares. A maior expressão de
quinta-colunismo no primeiro escalão atende pelo nome de Paulo Bernardo e ocupa
o cargo estratégico de ministro das Comunicações. Ele não é, porém, o único que
flerta com o outro lado da barricada. Por Breno Altman
Breno Altman (*) –
Carta Maior
Se a vontade
política da presidente Dilma Rousseff e seu partido for realmente enfrentar a
onda reacionária que tenta controlar as ruas, há uma lição de casa a ser feita.
O PT e o governo precisam se livrar da quinta-coluna, que representa interesses
alheios à esquerda e aos setores populares.
O termo nasceu na guerra civil espanhola, nos anos trinta do século passado.
Quando Francisco Franco, líder do golpe fascista contra a república,
preparava-se para marchar sobre Madri com quatro colunas, o general Quepo de
Llano lhe assegurou: “A quinta-coluna está esperando para saudar-nos dentro da
cidade.” Referia-se às facções que, formalmente vinculadas ao campo legalista,
estavam a serviço do golpismo.
A maior expressão de quinta-colunismo no primeiro escalão atende pelo nome de
Paulo Bernardo e ocupa o cargo estratégico de ministro das Comunicações. Não
bastasse vocalizar o lobby das grandes empresas de telefonia e a pauta dos
principais grupos privados de comunicação, resolveu dar entrevista às páginas
amarelas da revista “Veja” desta semana e subscrever causas do principal
veículo liberal-fascista do país.
Na mesma edição na qual estão publicadas as palavras marotas do ministro,
também foi estampado editorial que celebra a ação de grupos paramilitares, na
semana passada, contra o PT e outros partidos de esquerda, além de reportagem
mentirosa que vocifera contra as instituições democráticas e os governos de
Lula e Dilma.
Nesta entrevista, Bernardo referenda que se atribua, à militância petista, um
programa que incluiria a defesa da censura à imprensa. Vai ainda mais longe,
oferecendo salvo-conduto à ação antidemocrática da mídia impressa e
restringindo qualquer plano de regulação a perfumarias que deixariam intactos
os monopólios de comunicação, o maior obstáculo no caminho para a ampliação da
liberdade de expressão.
De quebra, o ministro chancela o julgamento do chamado “mensalão”, ainda que
escolhendo malandramente os termos que utiliza, caracterizando a decisão como
um resultado “normal e democrático”. Por atacar seu partido nas páginas do
principal arauto do reacionarismo, recebe de “Veja” elogio rasgado, ao ser
considerado “um daqueles raros e bons petistas que abandonaram o radicalismo no
discurso e na prática.”
Paulo Bernardo não é, porém, o único que flerta com o outro lado da barricada,
apenas o que mais saçarica. Está longe de ser pequena a trupe de figuras
públicas petistas que dormem com o inimigo, a maioria por pânico em enfrentar
os canhões da mídia ou desejosos de receberem afagos por bom-mocismo.
O governador baiano, Jacques Wagner, é outro exemplo de atitude dúbia. Há
algumas semanas bateu ponto, na mesma revista, para dar seu aval aos
maus-feitos jurídicos de Joaquim Barbosa e seus aliados. Mas não parou por aí.
Quando o presidente do PT, Rui Falcão, estava sob cerrados ataques por chamar
sua gente à mobilização, Wagner correu aos jornais para prestar solidariedade.
Não ao líder máximo de seu partido, mas aos lobos famintos que se atiravam
contra o comandante petista.
Nos últimos dias assistimos incontáveis cenas que igualmente merecem uma séria
reflexão. Não foi bonita ou honrosa a oferta do ministro da Justiça à repressão
da PM paulista contra a mobilização social. Ou o prefeito paulistano fazendo
companhia ao governador Alckmin na resposta ao movimento contra o aumento das
tarifas de transporte. Nesses casos, contudo, não houve facada nas costas, mas
flacidez político-ideológica que não pode ser relevada.
A questão crucial é que, para avançar na luta contra o reacionarismo e na
reconquista das ruas, o PT e o governo precisam restabelecer uma ética de
combate. A defesa dos interesses populares e da democracia não poderá ser
feita, às últimas consequências, sem uma faxina de comportamentos e
representantes que favorecem os inimigos do povo no interior das fileiras
aliadas.
(*) Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da
revista Samuel.
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