AFP - Agence France-Presse
A nomeação de um
dos filhos do presidente José Eduardo dos Santos para o comando do novo fundo
soberano angolano, alimentado pelos recursos obtidos com o petróleo, mostra o
controle crescente da família presidencial sobre todas as esferas do poder.
"Esta nomeação
confirma a onipresença da família dos Santos em Angola, mas mostra também que a
campanha para fazer do filho do presidente seu sucessor já começou", disse
Marcolino Moco, ex-primeiro-ministro e uma das poucas figuras do partido no
poder que fala sobre a vida política.
A imprensa angolana
apenas comentou essa nomeação, que foi anunciada na sexta-feira em um
comunicado do fundo soberano após várias semanas de rumores, e a Presidência se
negou a fazer comentários a respeito.
O presidente
angolano, que está há trinta e três anos no poder, controla totalmente o
Exército, o partido majoritário (Movimento Popular para a Libertação de Angola
- MPLA) e todas as instituições estatais.
Em seu círculo mais
íntimo, quase todos são membros de sua família: seu vice-presidente, Manuel
Vicente, considerado o número dois do regime, é o padrinho de sua filha mais
velha, Isabel; e seu conselheiro econômico, Armando Manuel, se tornou em maio
ministro das Finanças.
"A lógica de
José Eduardo dos Santos consiste em controlar o dinheiro para manter o poder, o
que explica que coloque membros de sua família ou pessoas próximas em postos
importantes, onde está a riqueza", disse Justino Pinto de Andrade,
economista e membro de um pequeno partido de oposição.
Sua filha Isabel,
conhecida como "princesa", foi apresentada no início do ano na lista
da Forbes como a africana mais rica, graças as suas participações em empresas
angolanas e portuguesas.
Só em Angola,
Isabel dos Santos, de 40 anos, possui 25% do capital do banco BIC, o que representa
algo em torno de 160 milhões de dólares, e 25% do da Unitel, uma das duas
empresas de telefonia do país, cerca de 1 bilhão de dólares, segundo a revista
americana.
Com 35 anos, seu
irmão José Filomeno de Sousa dos Santos, mais conhecido como "Zenu",
assume agora a Presidência do fundo soberano criado em outubro de 2012 com 5
bilhões de dólares para investir no desenvolvimento do país, e receberá 3,5
bilhões adicionais por ano procedentes dos recursos obtidos com o petróleo.
A esposa do
presidente, a ex-aeromoça Ana Paula Cristóvão de Lemos dos Santos, controla,
segundo a imprensa local, várias empresas, principalmente de comércio de
diamantes, enquanto uma ex-mulher de dos Santos, Maria Luisa Abrantes, dirige a
poderosa Agência Nacional de Investimentos Privados(Anip).
Controle da
imprensa e da cultura
"A partir de
um certo volume de negócios, é impossível para um estrangeiro se estabelecer no
país sem que esteja ligado a alguém próximo ao poder. Todos os bancos, sem
exceção, estão vinculados ao regime", disse Justino Pinto de Andrade.
"Membros da
família presidencial estão presentes em todas as grandes empresas do país:
Sonangol (petróleo), Endiama (diamantes), TAAG (companhia aérea)... Mas o poder
também consegue ter influência no mundo intelectual, sobretudo, por meio da
Fundação José Eduardo dos Santos e da Fundação Lwini, da primeira-dama",
disse Lindo Bernardo Tito, vice-presidente do jovem partido opositor Casa.
A imprensa e a
cultura também não escapam a este controle. Outra filha do presidente,
Welwitschia dos Santos -conhecida como "Chizé" e casada com um
empresário português- dirige uma rede de televisão pública (TPA 2) e duas
revistas de celebridades.
Chizé e seu irmão
José Paulino, "Coreon Du" seu nome artístico, também presidem uma das
principais empresas de produção audiovisual do país, a Semba Comunicação, que
elabora grande parte da publicidade e dos programas para a televisão pública.
"Quanto mais tempo
seu chefe permanecer no poder, maior será a onipresença da família", disse
Fernando Baxi, chefe de redação da revista satírica Folha 8.
Quando chegou ao
poder em 1979, José Eduardo dos Santos era marxista, formado na então União
Soviética.
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