domingo, 16 de junho de 2013

PARA “NOSSA” SEGURANÇA?




Gian Paolo Accardo – Presseurop, editorial

“Isto é para vossa segurança.” Quantas vezes ouvimos esta fórmula, nos últimos anos, para justificar uma recusa, uma espera ou um entrave aos nossos movimentos? Ela entrava as nossas vidas desde que foi declarado o “combate ao terrorismo”.

É também para “nossa” segurança – na verdade, sobretudo a dos cidadãos dos Estados Unidos – que a Agência de Segurança Nacional norte-americana espia as comunicações dos seus cidadãos e a atividade on-line de centenas de milhões de pessoas no estrangeiro (através do programa PRISM), com a cumplicidade do Government Communications Headquarters [quartel-general de informações do Governo britânico], como foi revelado pelos jornais The Washington Post e The Guardian, num dos furos jornalísticos mais importantes deste século. O problema é que tudo o que envolve essas atividades está coberto de secretismo: são tribunais que autorizam as escutas a eleitos que controlam os procedimentos.

Em democracia, as distorções das liberdades só são admissíveis se os cidadãos concordarem, se possível de maneira informada, e podendo exercer controlo, através de organismos representativos. Se a maioria dos norte-americanos acredita que abdicar da sua privacidade é um preço aceitável a pagar pela sua segurança, já os europeus não. Não só são o principal alvo do programa PRISM, como não têm meios de controlo democrático sobre as entidades que os espiam. Quanto ao consentimento, escusado será dizer que não lhes foi solicitado.

Os riscos de abuso são demasiado grandes para que possamos confiar nas boas intenções dos “grandes ouvidos” do outro lado do Atlântico e do outro lado do Canal, e nas garantias de que não abusarão do seu poder. E a ameaça terrorista não pode – tal como a guerra perpétua da história de 1984 – servir continuamente de pretexto, para justificar a manutenção de um dispositivo de espionagem global. Torna-se difícil resistir à tentação de usar um tal dispositivo para outros fins mais concretos, nomeadamente, a espionagem comercial.

É por isso crucial que a União Europeia reveja o mais depressa possível a diretiva relativa à proteção de dados pessoais e aprove o mais depressa possível a reforma dessa legislação. Proposta em 2012, continua a ser objeto de negociações entre os Vinte e Sete, que revelam grande dificuldade em encontrar um equilíbrio satisfatório entre segurança e liberdade.

*Gian Paolo Accardo é um jornalista italo-holandês, nascido em Bruxelas em 1969. Trabalhou como redator no Internazionale e no Courrier International e como correspondente da agência noticiosa italiana ApCom. É chefe de redação adjunto da presseurop.eu. Tem uma ligação no Twitter.

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