Antonio Tozzi,
Miami – Direto da Redação
Miami (EUA) - A
visita do vice-presidente dos Estados Unidos ao Brasil esta semana serviu para
abrir caminho para o fortalecimento das relações comerciais entre Brasil e EUA.
Joe Biden foi feliz ao declarar não ver razão pela qual a maior economia do
mundo (EUA) e a sétima economia do mundo (Brasil) não possam multiplicar por
cinco vezes o comércio bilateral.
E isto seria
significativo. Atualmente, o intercâmbio comercial entre os dois países é de
US$ 59,1 bilhões. Ou seja, este número multiplicado por cinco equivale a quase
US$ 300 bilhões, o que catapultaria o Brasil para as cinco maiores potências
econômicas do mundo, no mínimo.
Áreas de interesse
comum não faltam: energia, segurança, educação, ciência e tecnologia, além, é
claro, da militar. Biden não escondeu de ninguém o interesse em ser um
emissário da Boeing, que deseja vender à Força Aérea Brasileira o caça Green
Hornet F/A 18. Aliás, a briga pelo fornecimento dos caças para o Brasil tem
sido acirrada entre o modelo Rafale da Dassault, da França; o Green Hornet da
Boeing, dos EUA, e o Gripen, da Saab, da Suécia. Até a Rússia deseja entrar na
concorrência com a Sukhoi, mas parece que a FAB já decidiu pelos caças
norte-americanos. Conta ainda a favor o fato de o Green Hornet ser movido a
biocombustível. E o negócio é apetitoso, com a FAB investindo US$ 4 bilhões na
aquisição das aeronaves. Do lado americano, a Embraer está vendendo Super
Tucanos, aviões de reconhecimento, para a Força Aérea dos EUA.
Atualmente, os
Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com
participação de 12,7% no total do comércio brasileiro. Só para efeito de
comparação, o comércio com a África cresceu 85% e atingiu US$ 26 bilhões.
Apesar do incremento registrado, não dá para comparar o potencial comercial
entre os dois parceiros.
A parceira deve
aumentar significativamente em outubro quando a presidente Dilma Roussef for a
Washingron para ser recebida pelo presidente Barack Obama. Um encontro deste
calibre deve produizr mais negócios, além de uma maior aproximação entre as
duas potências.
Este é exatamente o
ponto: duas potências. O próprio Biden disse que o Brasil não é mais um país
emergente e figura hoje no patamar dos mais ricos do planeta. Portanto, Biden
propôs que a aproximação entre as duas potências do continente americano seja
mais ampla do que meramente as relações comerciais. "Queremos que os
brasileiros venham aos Estados Unidos não só para fazer comércio, mas para nos
ver e começar a nos entender, com nossas falhas e virtudes", declarou o
vice-presidente.
Ele está certo. O
Brasil precisa deixar de ter medo dos EUA e ser um parceiro efetivo dos nossos
irmãos do norte. Em vez de perder tempo com Venezuela, Bolívia e Equador, a
diplomacia brasileira deve concentrar seus esforços em aprimorar esta parceria,
que só pode render bons frutos para o Brasil. Biden disse ter visitado a
Petrobras e revelou o interesse de empresas dos Estados Unidos pela exploração
do petróleo na camada pré-sal. O primeiro leilão de reservas do pré-sal
ocorrerá em outubro. Isto significa mais dinheiro entrando nos cofres
brasileiros. Em contrapartida, elogiou a expertise brasileira na produção de
energia renovável e afirmou que o Brasil pode aprender com os Estados Unidos
quanto à exploração do gás de xisto.
O segundo mandato
de Obama e a escolha de John Kerry como secretário de Estado têm sido
importante para a aproximação do governo americano com os os países da América
Latina. Nesta viagem, além de Brasil, Biden esteve em Trinidad Tobago e
Colômbia. Obama fez no mês passado uma viagem a México e Costa Rica e receberá,
nas próximas duas semanas, seus colegas do Chile e Peru em visitas de trabalho.
"O Brasil por
muito tempo se viu como um observador dos eventos globais, sentado na lateral e
criticando o que outros atores estão fazendo”, sustenta Mark Kennedy, diretor
da Escola de Política Aplicada da Universidade George Washington. “O convite de
Biden é para que o Brasil se sente à mesa e pense no papel que pode assumir de
forma construtiva." Traduzindo: se o Brasil quiser ser protagonista no cenário
mundial, precisa tornar-se potência global engajada em eventos globais.
Kennedy acha que os
dois países precisam fazer o mea culpa. O Brasil, na opinião do analista, foi
precipitado quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a Turquia
costuraram um acordo com o Irã para tentar solucionar o impasse em relação ao
programa nuclear iraniano, sem consultar os outros envolvidos.
Já o governo dos
EUA percebeu que estava neglicenciando parceiros importantes e uma região vital
para seu relacionamento, em parte porque os EUA estiveram olhando para dentro.
"Agora, o governo americano percebeu que precisa se envolver mais com seus
parceiros cruciais, e o Brasil é um deles", afirma o analista.
Depois de uma
auto-análise, é chegada a hora de Brasil e EUA reforçarem a aliança – inclusive
com assinatura de acordos bilaterais – e, desta forma, permitir que nosso país
se destaque como uma verdadeira potência mundial, em vez de ficar sofrendo
humilhações na América do Sul com governantes como Evo Morales e Rafael Correa
que se preocupam mais em nacionalizar empresas estrangeiras, inclusive
brasileiras, do que em atrair investimentos para seus países a fim de melhorar
as condições de vida de seus povos.
*Foi repórter do
Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996,
onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da
revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA.
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