terça-feira, 4 de junho de 2013

PARCERIA BRASIL- ESTADOS UNIDOS

 

Antonio Tozzi, Miami – Direto da Redação
 
Miami (EUA) - A visita do vice-presidente dos Estados Unidos ao Brasil esta semana serviu para abrir caminho para o fortalecimento das relações comerciais entre Brasil e EUA. Joe Biden foi feliz ao declarar não ver razão pela qual a maior economia do mundo (EUA) e a sétima economia do mundo (Brasil) não possam multiplicar por cinco vezes o comércio bilateral.
 
E isto seria significativo. Atualmente, o intercâmbio comercial entre os dois países é de US$ 59,1 bilhões. Ou seja, este número multiplicado por cinco equivale a quase US$ 300 bilhões, o que catapultaria o Brasil para as cinco maiores potências econômicas do mundo, no mínimo.
 
Áreas de interesse comum não faltam: energia, segurança, educação, ciência e tecnologia, além, é claro, da militar. Biden não escondeu de ninguém o interesse em ser um emissário da Boeing, que deseja vender à Força Aérea Brasileira o caça Green Hornet F/A 18. Aliás, a briga pelo fornecimento dos caças para o Brasil tem sido acirrada entre o modelo Rafale da Dassault, da França; o Green Hornet da Boeing, dos EUA, e o Gripen, da Saab, da Suécia. Até a Rússia deseja entrar na concorrência com a Sukhoi, mas parece que a FAB já decidiu pelos caças norte-americanos. Conta ainda a favor o fato de o Green Hornet ser movido a biocombustível. E o negócio é apetitoso, com a FAB investindo US$ 4 bilhões na aquisição das aeronaves. Do lado americano, a Embraer está vendendo Super Tucanos, aviões de reconhecimento, para a Força Aérea dos EUA.
 
Atualmente, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com participação de 12,7% no total do comércio brasileiro. Só para efeito de comparação, o comércio com a África cresceu 85% e atingiu US$ 26 bilhões. Apesar do incremento registrado, não dá para comparar o potencial comercial entre os dois parceiros.
 
A parceira deve aumentar significativamente em outubro quando a presidente Dilma Roussef for a Washingron para ser recebida pelo presidente Barack Obama. Um encontro deste calibre deve produizr mais negócios, além de uma maior aproximação entre as duas potências.
 
Este é exatamente o ponto: duas potências. O próprio Biden disse que o Brasil não é mais um país emergente e figura hoje no patamar dos mais ricos do planeta. Portanto, Biden propôs que a aproximação entre as duas potências do continente americano seja mais ampla do que meramente as relações comerciais. "Queremos que os brasileiros venham aos Estados Unidos não só para fazer comércio, mas para nos ver e começar a nos entender, com nossas falhas e virtudes", declarou o vice-presidente.
 
Ele está certo. O Brasil precisa deixar de ter medo dos EUA e ser um parceiro efetivo dos nossos irmãos do norte. Em vez de perder tempo com Venezuela, Bolívia e Equador, a diplomacia brasileira deve concentrar seus esforços em aprimorar esta parceria, que só pode render bons frutos para o Brasil. Biden disse ter visitado a Petrobras e revelou o interesse de empresas dos Estados Unidos pela exploração do petróleo na camada pré-sal. O primeiro leilão de reservas do pré-sal ocorrerá em outubro. Isto significa mais dinheiro entrando nos cofres brasileiros. Em contrapartida, elogiou a expertise brasileira na produção de energia renovável e afirmou que o Brasil pode aprender com os Estados Unidos quanto à exploração do gás de xisto.
 
O segundo mandato de Obama e a escolha de John Kerry como secretário de Estado têm sido importante para a aproximação do governo americano com os os países da América Latina. Nesta viagem, além de Brasil, Biden esteve em Trinidad Tobago e Colômbia. Obama fez no mês passado uma viagem a México e Costa Rica e receberá, nas próximas duas semanas, seus colegas do Chile e Peru em visitas de trabalho.
 
"O Brasil por muito tempo se viu como um observador dos eventos globais, sentado na lateral e criticando o que outros atores estão fazendo”, sustenta Mark Kennedy, diretor da Escola de Política Aplicada da Universidade George Washington. “O convite de Biden é para que o Brasil se sente à mesa e pense no papel que pode assumir de forma construtiva." Traduzindo: se o Brasil quiser ser protagonista no cenário mundial, precisa tornar-se potência global engajada em eventos globais.
 
Kennedy acha que os dois países precisam fazer o mea culpa. O Brasil, na opinião do analista, foi precipitado quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a Turquia costuraram um acordo com o Irã para tentar solucionar o impasse em relação ao programa nuclear iraniano, sem consultar os outros envolvidos.
 
Já o governo dos EUA percebeu que estava neglicenciando parceiros importantes e uma região vital para seu relacionamento, em parte porque os EUA estiveram olhando para dentro. "Agora, o governo americano percebeu que precisa se envolver mais com seus parceiros cruciais, e o Brasil é um deles", afirma o analista.
 
Depois de uma auto-análise, é chegada a hora de Brasil e EUA reforçarem a aliança – inclusive com assinatura de acordos bilaterais – e, desta forma, permitir que nosso país se destaque como uma verdadeira potência mundial, em vez de ficar sofrendo humilhações na América do Sul com governantes como Evo Morales e Rafael Correa que se preocupam mais em nacionalizar empresas estrangeiras, inclusive brasileiras, do que em atrair investimentos para seus países a fim de melhorar as condições de vida de seus povos.
 
*Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996, onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA.
 

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