Tomás Vasques –
Jornal i, opinião
Até os deputados da
maioria que têm dado lastro à destruição do país conduzida por Vítor Gaspar, e
benzida por Passos Coelho, tentam agora sacudir a água do capote
Com o devido
respeito às instituições consagradas na nossa Constituição (respeito devido
mais por razões democráticas e regras de boa educação, do que por merecimento),
desde o Presidente da República, ao governo, passando pela tão nobre Assembleia
da República, e sem cometer o abuso de chamar palhaço ou qualquer outro nome
similar que melindre a sensibilidade de quem quer que seja, o bom senso exige
que se diga que o destino dos portugueses está, por ora, entregue a um bando de
fanáticos, irresponsáveis, a raiar a loucura, como poucas vezes aconteceu na
História milenar de Portugal. Que me ocorra, desastre de proporções
semelhantes, conduzido com a mesma insânia, só mesmo no tempo de D. Sebastião,
um louco varrido, também muito crente na protecção concedida por todos os
santos do nosso imaginário religioso, feito rei de Portugal, que começou a
governar o país aos catorze anos de idade, e dez anos depois foi morrer,
sepultando consigo muitos milhares de portugueses, debaixo do inclemente sol de
Agosto marroquino, em Alcácer-Quibir, arruinando o país e afundando Portugal e
a nossa independência por muito tempo.
Vítor Gaspar,
alcandorado pelo primeiro-ministro a cérebro do aventureirismo político que fez
dos portugueses cobaias de opções ideológicas mal assimiladas e de desmedidas
subserviências externas, a quem foi entregue a governação do país, apadrinhado
por Belém e amparado por uma maioria de deputados no parlamento, não desarma do
rumo em que nos imola. Atarantado e sem tino, depois de falhar todas as metas e
objectivos a que se propôs, desde o défice à dívida externa, desde o desemprego
à recessão; depois do fiasco de todas as suas previsões, as quais se tornaram
motivo de chacota nacional, e sinal do desvario, veio agora, no seu tom
monocórdico, dizer que a chuva deste Inverno, que a ministra Assunção Cristas
tão insistentemente pediu a São Pedro, para encher as barragens e ajudar à
agricultura, foi um dos motivos do seu insucesso, porque afastou o investimento
necessário à reanimação económica. O fanatismo ideológico do todo-poderoso
ministro das Finanças não lhe permite entender que as exportações não podem
crescer numa Europa que se contrai; que a carga fiscal à bruta e a austeridade
cega fazem cair a pique a procura interna, provocando o encerramento de
milhares de empresas e aumentando o desemprego, diminuindo as receitas e
aumentando as despesas. Nem sequer entende que chove no Inverno. Apesar de
dizer, com trejeitos aluados, para aliviar a pressão, citando Bismarck: “tenho
amplo material para aprender com os meus próprios erros”, para de imediato os
esquecer e zurzir nas decisões do tribunal Constitucional e na herança do
anterior governo.
Alcácer-Quibir está
tão próximo que até os deputados da maioria que, nestes dois anos, submissos e
reverentes, têm dado lastro à destruição do país conduzida por Vítor Gaspar, e
benzida por Passos Coelho, tentam agora sacudir a água do capote, sobretudo por
saberem que o próprio FMI dá sinais de entender que este é o caminho directo
para o inferno, para uma pobreza injustificável, para uma dívida externa
impagável, para a saída do euro. Pela voz de João Almeida, do CDS-PP, e Miguel
Frasquilho, do PSD, na sexta--feira, no parlamento, ouvimos dizer que “lançar
austeridade sobre austeridade, como foi imposto pela troika, não resultou como
estava previsto no memorando. Portugal precisa de mais tempo da parte dos
credores” ou que “é preciso falar grosso à troika”. Isto dito pelos mesmos
deputados que, na primeira fila do hemiciclo, batiam palmas, em pé, a Passos
Coelho quando este, não há muito tempo, dizia que prosseguiria o seu programa
de austeridade “custe o que custar”, que não precisava de “mais tempo, nem mais
dinheiro” ou que “iremos além da troika”, só pode significar o reconhecimento
da falência das políticas deste governo e a inutilidade da maioria dos
sacrifícios exigidos aos portugueses nestes dois anos. No fundo, um cântico
fúnebre ao governo.
Jurista - Escreve à segunda-feira
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