segunda-feira, 10 de junho de 2013

Portugal: DE NOVO ALCÁCER-QUIBIR

 

Tomás Vasques – Jornal i, opinião
 
Até os deputados da maioria que têm dado lastro à destruição do país conduzida por Vítor Gaspar, e benzida por Passos Coelho, tentam agora sacudir a água do capote
 
Com o devido respeito às instituições consagradas na nossa Constituição (respeito devido mais por razões democráticas e regras de boa educação, do que por merecimento), desde o Presidente da República, ao governo, passando pela tão nobre Assembleia da República, e sem cometer o abuso de chamar palhaço ou qualquer outro nome similar que melindre a sensibilidade de quem quer que seja, o bom senso exige que se diga que o destino dos portugueses está, por ora, entregue a um bando de fanáticos, irresponsáveis, a raiar a loucura, como poucas vezes aconteceu na História milenar de Portugal. Que me ocorra, desastre de proporções semelhantes, conduzido com a mesma insânia, só mesmo no tempo de D. Sebastião, um louco varrido, também muito crente na protecção concedida por todos os santos do nosso imaginário religioso, feito rei de Portugal, que começou a governar o país aos catorze anos de idade, e dez anos depois foi morrer, sepultando consigo muitos milhares de portugueses, debaixo do inclemente sol de Agosto marroquino, em Alcácer-Quibir, arruinando o país e afundando Portugal e a nossa independência por muito tempo.
 
Vítor Gaspar, alcandorado pelo primeiro-ministro a cérebro do aventureirismo político que fez dos portugueses cobaias de opções ideológicas mal assimiladas e de desmedidas subserviências externas, a quem foi entregue a governação do país, apadrinhado por Belém e amparado por uma maioria de deputados no parlamento, não desarma do rumo em que nos imola. Atarantado e sem tino, depois de falhar todas as metas e objectivos a que se propôs, desde o défice à dívida externa, desde o desemprego à recessão; depois do fiasco de todas as suas previsões, as quais se tornaram motivo de chacota nacional, e sinal do desvario, veio agora, no seu tom monocórdico, dizer que a chuva deste Inverno, que a ministra Assunção Cristas tão insistentemente pediu a São Pedro, para encher as barragens e ajudar à agricultura, foi um dos motivos do seu insucesso, porque afastou o investimento necessário à reanimação económica. O fanatismo ideológico do todo-poderoso ministro das Finanças não lhe permite entender que as exportações não podem crescer numa Europa que se contrai; que a carga fiscal à bruta e a austeridade cega fazem cair a pique a procura interna, provocando o encerramento de milhares de empresas e aumentando o desemprego, diminuindo as receitas e aumentando as despesas. Nem sequer entende que chove no Inverno. Apesar de dizer, com trejeitos aluados, para aliviar a pressão, citando Bismarck: “tenho amplo material para aprender com os meus próprios erros”, para de imediato os esquecer e zurzir nas decisões do tribunal Constitucional e na herança do anterior governo.
 
Alcácer-Quibir está tão próximo que até os deputados da maioria que, nestes dois anos, submissos e reverentes, têm dado lastro à destruição do país conduzida por Vítor Gaspar, e benzida por Passos Coelho, tentam agora sacudir a água do capote, sobretudo por saberem que o próprio FMI dá sinais de entender que este é o caminho directo para o inferno, para uma pobreza injustificável, para uma dívida externa impagável, para a saída do euro. Pela voz de João Almeida, do CDS-PP, e Miguel Frasquilho, do PSD, na sexta--feira, no parlamento, ouvimos dizer que “lançar austeridade sobre austeridade, como foi imposto pela troika, não resultou como estava previsto no memorando. Portugal precisa de mais tempo da parte dos credores” ou que “é preciso falar grosso à troika”. Isto dito pelos mesmos deputados que, na primeira fila do hemiciclo, batiam palmas, em pé, a Passos Coelho quando este, não há muito tempo, dizia que prosseguiria o seu programa de austeridade “custe o que custar”, que não precisava de “mais tempo, nem mais dinheiro” ou que “iremos além da troika”, só pode significar o reconhecimento da falência das políticas deste governo e a inutilidade da maioria dos sacrifícios exigidos aos portugueses nestes dois anos. No fundo, um cântico fúnebre ao governo.

Jurista - Escreve à segunda-feira
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana