Eduardo Oliveira Silva
– Jornal i, opinião
Pós-autárquicas ou
fim da tutela da troika são momentos possíveis para antecipar legislativas
Uma coisa parece
certa: é altamente improvável que o governo chegue ao fim do mandato. Não é
apenas a soma dos indicadores económicos, financeiros e sociais que aponta para
isso. É também, e talvez sobretudo, a acumulação tensa do ambiente político com
vaias e descrença que conduz à alta probabilidade de a crise se consumar e cair
em cima de Cavaco Silva.
Quando alguém com a serenidade de Alfredo José de Sousa, o provedor de Justiça, já recomenda, como fez em entrevista à Antena 1, que se convoquem eleições legislativas e autárquicas simultaneamente, é porque algo vai mesmo muito mal.
O provedor sabe
perfeitamente que o PR nunca fará essa convocatória comum, pelo que a ideia
avançada serve mais para fotografar a política nacional do que para propor uma
solução tão drástica e rápida.
Os calendários para a queda são dois. Em primeiro lugar o pós-autárquicas. Se o PSD perder câmaras fundamentais, como o Porto, Sintra ou Gaia, é óbvio que Passos Coelho fica na linha de tiro político, por muito que diga que não haverá pântano e que quer que se lixem as eleições. A segunda data possível é Junho de 2014, quando o governo já não puder escudar-se em supostos compromissos com a troika para executar a sua própria política de acumulação de austeridade.
Ao contrário do que
foi lido pela generalidade dos analistas e dos media, no seu discurso de 25 de
Abril Cavaco Silva não pôs só a mão por baixo do governo, também lhe teceu
críticas substanciais. Rejeitou eleições antecipadas de forma veemente, mas é
natural que o tenha feito para evitar juntar uma crise política imediata à
enorme degradação económica e financeira.
É evidente que pode sempre dar-se o caso de se verificar uma ruptura da coligação, mas é mais provável que Paulo Portas continue a fazer uma gestão de “pé dentro pé fora” em nome da sobrevivência política, pelo menos até uma das datas citadas.
Apesar dos dados
dramáticos de conjuntura do desemprego (com 17,8% recenseados, o que leva para
perto de 23% reais) e do défice, é pouco provável que o governo colapse
subitamente, o que pode levar à manutenção de um rumo destruidoramente
recessivo.
Do ponto de vista
da política pura, o governo não apresenta, entretanto, quaisquer melhoras. Não
há, por exemplo, nota de grande desempenho do ministro Poiares Maduro e do
secretário de Estado Pedro Lomba. Pelo contrário. Ainda esta semana se deu o
caso de o secretário de Estado da Energia, metendo foice em seara alheia, ter
proposto de forma surpreendente e surrealista que a CAVE (contribuição para o
audiovisual) deixasse de ser cobrada pelas eléctricas para passar a sê-lo por
não se sabe quem. E assim rebentava-se com a tesouraria da RTP num ápice.
Aparentemente, Poiares Maduro nem sequer foi prevenido e teve de ir a correr
negar a hipótese. Quanto a Lomba, foi por engano a um jantar de apoio ao
candidato socialista Miranda Calha à junta de Belém, do qual saiu pela direita
baixa, pois supostamente apoiaria o histórico Ribeiro Rosa, da coligação
PSD/CDS. Para os dois novéis mandantes da coordenação política, convenhamos que
há algum défice de atenção.
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