sábado, 1 de junho de 2013

Portugal: É QUASE IMPOSSÍVEL O GOVERNO COMPLETAR O MANDATO

 

Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
 
Pós-autárquicas ou fim da tutela da troika são momentos possíveis para antecipar legislativas
 
Uma coisa parece certa: é altamente improvável que o governo chegue ao fim do mandato. Não é apenas a soma dos indicadores económicos, financeiros e sociais que aponta para isso. É também, e talvez sobretudo, a acumulação tensa do ambiente político com vaias e descrença que conduz à alta probabilidade de a crise se consumar e cair em cima de Cavaco Silva.

Quando alguém com a serenidade de Alfredo José de Sousa, o provedor de Justiça, já recomenda, como fez em entrevista à Antena 1, que se convoquem eleições legislativas e autárquicas simultaneamente, é porque algo vai mesmo muito mal.
 
O provedor sabe perfeitamente que o PR nunca fará essa convocatória comum, pelo que a ideia avançada serve mais para fotografar a política nacional do que para propor uma solução tão drástica e rápida.

Os calendários para a queda são dois. Em primeiro lugar o pós-autárquicas. Se o PSD perder câmaras fundamentais, como o Porto, Sintra ou Gaia, é óbvio que Passos Coelho fica na linha de tiro político, por muito que diga que não haverá pântano e que quer que se lixem as eleições. A segunda data possível é Junho de 2014, quando o governo já não puder escudar-se em supostos compromissos com a troika para executar a sua própria política de acumulação de austeridade.
 
Ao contrário do que foi lido pela generalidade dos analistas e dos media, no seu discurso de 25 de Abril Cavaco Silva não pôs só a mão por baixo do governo, também lhe teceu críticas substanciais. Rejeitou eleições antecipadas de forma veemente, mas é natural que o tenha feito para evitar juntar uma crise política imediata à enorme degradação económica e financeira.

É evidente que pode sempre dar-se o caso de se verificar uma ruptura da coligação, mas é mais provável que Paulo Portas continue a fazer uma gestão de “pé dentro pé fora” em nome da sobrevivência política, pelo menos até uma das datas citadas.
 
Apesar dos dados dramáticos de conjuntura do desemprego (com 17,8% recenseados, o que leva para perto de 23% reais) e do défice, é pouco provável que o governo colapse subitamente, o que pode levar à manutenção de um rumo destruidoramente recessivo.
 
Do ponto de vista da política pura, o governo não apresenta, entretanto, quaisquer melhoras. Não há, por exemplo, nota de grande desempenho do ministro Poiares Maduro e do secretário de Estado Pedro Lomba. Pelo contrário. Ainda esta semana se deu o caso de o secretário de Estado da Energia, metendo foice em seara alheia, ter proposto de forma surpreendente e surrealista que a CAVE (contribuição para o audiovisual) deixasse de ser cobrada pelas eléctricas para passar a sê-lo por não se sabe quem. E assim rebentava-se com a tesouraria da RTP num ápice. Aparentemente, Poiares Maduro nem sequer foi prevenido e teve de ir a correr negar a hipótese. Quanto a Lomba, foi por engano a um jantar de apoio ao candidato socialista Miranda Calha à junta de Belém, do qual saiu pela direita baixa, pois supostamente apoiaria o histórico Ribeiro Rosa, da coligação PSD/CDS. Para os dois novéis mandantes da coordenação política, convenhamos que há algum défice de atenção.
 

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