Delfina Vitorino e
José Chaves, Cuito – Jornal de Angola - 2 de Julho, 2013
Mais de sete mil
civis e militares morreram durante a guerra que a cidade do Cuito enfrentou há
19 anos, entre muitas crianças. Na sua maioria foram enterrados em lugares
impróprios, como quintais, jardins e pátios. O município do Cuito, 19 anos
depois, lembra os mártires da guerra que eclodiu após as eleições de 1992.
O 28 de Junho de
1992 tem um significado muito especial para os angolanos e em particular para o
povo da província do Bié, que enfrentou inúmeras dificuldades nessa fase
sangrenta.
A data consagrada
aos mártires da batalha do Cuito foi assinalada num ambiente de paz e
consolidação da democracia. É considerada como uma das mais sangrentas e
destruidoras do conflito pós-eleitoral de 1992, quando a UNITA de Jonas Savimbi
recusou os resultados eleitorais. A cidade do Cuito esteve cercada durante um
ano e seis meses, de 6 de Janeiro de 1993 a 28 de Junho de 1994. A resistência
de civis e militares foi heróica. Durante um ano e meio, a fome, a nudez, as
doenças e a morte fustigaram os habitantes do Cuito.
Muitos fugiram para
outras localidades do interior da província onde encontraram condições de
sobrevivência. Conceição Chiocana, natural de Calussinga, Andulo, disse que
“vivemos momentos terríveis e tristes de lembrar porque aquilo parecia o
inferno. A minha primeira filha, que na altura tinha dez anos, teve que pegar
numa arma para se defender enquanto procurávamos alimentos”. Conceição Chiocana
lembra que os habitantes do Cuito “foram obrigados a comer folhas e raízes de
bananeira, peles de animais, comida sem sal e até as arvores pararam de dar
frutos”. Para matar a sede, as pessoas recolhiam água da chuva ou das cacimbas.
A nova cidade
Hotéis, pensões, estabelecimentos comerciais, locais turísticos, agências
bancárias, estruturas administrativas e económicas foram erguidas nos últimos
anos no município do Cuito, capital da província do Bié. Estruturas
administrativas, desde as direcções dos ministérios, escolas do ensino
primário, médio e superior foram igualmente erguidas na martirizada cidade do
Cuito. Neste momento o município tem a funcionar a Escola Superior Pedagógica e
a Escola Politécnica, pertencentes à Universidade José Eduardo dos Santos. Quanto
às estradas do município do Cuito, precisam de asfalto para facilitarem a
mobilidade das pessoas e as trocas comerciais.
Caminhos-de-ferro
Com a reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) e com o surgimento do
“Comboio da Paz”, que tem a sua estacão na comuna do Cunje, a circulação de
pessoas e bens tornou-se um facto.O cemitério monumento, onde jazem os restos
mortais daqueles que lutaram pela pátria, crianças, jovens e idosos, foi
erguido na comuna satélite do Cunje.
O aeroporto Joaquim Kapango também foi renovado para conciliar o crescimento e
o desenvolvimento das estruturas sociais e económicas do município do Cuito e
facilitar a rápida deslocação das pessoas.
Todas estas estruturas dão outra imagem à martirizada cidade do Cuito, capital
do Bié.
Sem comentários:
Enviar um comentário