Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
O primeiro-ministro
tem condições internas para fazer praticamente tudo o que entender
A decisão que o
Presidente da República comunicou a noite passada ao país não foi
surpreendente.
Cavaco Silva
rejeitou eleições antecipadas, segurou o governo e anunciou que este se vai
relegitimar através de uma moção de confiança, o que lhe abre caminho até 2015.
Encerrou-se assim a
crise aberta pela deserção de Vítor Gaspar, sem que o Presidente tenha
conseguido um acordo de salvação nacional entre os partidos que assinaram o
memorando com a troika, embora Cavaco Silva considere que podem estar lançadas
sementes susceptíveis de dar frutos no futuro.
A decisão
presidencial enquadra-se dentro da preocupação que o chefe de Estado sempre
teve de dar de Portugal uma imagem de governabilidade ao exterior. A via
eleitoral tinha sido de tal forma desvalorizada que era óbvio que Cavaco nunca
a ela recorreria desde que recebesse, como sucedeu, uma garantia de
estabilidade por parte da coligação. Assim sendo, não há que estranhar. Não foi
preciso Cavaco fundamentar sequer a sua decisão naquela que se sabe ser a sua
convicção de que a chamada às urnas não resolveria nada. Não caiu obviamente
nessa esparrela, porque seria rejeitar a decisão do povo como valor supremo.
Apesar de ter estado
na origem de todos os males que atiraram Portugal para uma situação ainda mais
pantanosa do que a que recebeu (da política de espiral recessiva, às demissões
de Vítor Gaspar e à [i]revogável saída de Portas), tem de se dizer que quem sai
melhor destes 20 dias caóticos é, claramente, Passos Coelho.
Habituado como
ninguém ao jogo político-partidário puro e duro, Passos mostrou sangue frio
permanentemente. Confrontado com a demissão de Gaspar, nomeou Maria Luís
Albuquerque sem ouvir ninguém. Atrasou o mais possível o momento de informar o
Presidente da República da demissão de Portas que, aliás, recusou sem para tal
ter poderes. Confrontou-o, a seguir e sem aviso prévio, com um acordo que
transformava o líder centrista em vice- -primeiro-ministro. Aceitou o repto
presidencial de negociar um acordo de salvação nacional que se sabia de antemão
que não daria em rigorosamente nada e do qual o líder do PS saiu claramente
fragilizado. Proclamou, na Assembleia, que mantinha a mexida no governo e, no
conselho nacional do PSD, que eleições a um ano de distância eram
desestabilizadoras. À passagem apagaram-se nomes de putativos ministros que o
CDS queria impor à viva força.
Apesar da
advertência de Cavaco Silva de que não abdica dos seus poderes, Passos Coelho
tem condições políticas internas para fazer praticamente o que entender, desde
que não volte a cometer erros crassos.
Já quanto às
condições externas cabe-lhe por inteiro a responsabilidade de negociar melhores
termos com a Troika, como o Presidente fez questão de enfatizar, pois doravante
não é possível aceitar que o chefe do governo de Portugal entre mudo e saia
calado das instâncias da União Europeia.
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