ALEXANDRE MARTINS - Público
A porta-voz do
Departamento de Estado norte-americano diz que "a pergunta deve ser feita
a esses países". Ministério dos Negócios Estrangeiros português diz que
"lamenta qualquer incómodo", mas considera-se "totalmente alheio
a esse incómodo". Bolívia admite expulsar diplomatas de Portugal, França e
Itália.
A Casa Branca
confirma que manteve contactos com países a quem o analista informático Edward
Snowden pediu asilo, mas passou a responsabilidade da polémica sobre o voo do
Presidente da Bolívia, Evo Morales, para os quatro Estados envolvidos, entre os
quais Portugal. "As decisões foram tomadas por países individuais e essa
pergunta deve ser feita a esses países", afirmou a porta-voz do
Departamento de Estado, Jen Psaki.
"Temos mantido
contacto com vários países que tiveram a oportunidade de acolher Snowden, ou
pelos quais ele poderia passar, mas não vou mencionar quais foram esses países,
nem quando esses contactos ocorreram", disse ainda a porta-voz do
Departamento de Estado na sua conferência de imprensa diária. No fim-de-semana,
o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou ao Presidente do
Equador, Rafael Correa, que descreveu a conversa como "amável".
Desde que o
trajecto do voo do Presidente Evo Morales de Moscovo para La Paz foi alterado,
na terça-feira – devido à suspensão de autorização de aterragem e sobrevoo
nos espaços aéreos de Portugal, França e Itália –, o
Ministério dos Negócios Estrangeiros português apenas se referiu ao caso na
quarta-feira, em comunicado: "No dia 1 de julho, 2ª feira, às 16h28,
foi comunicado às autoridades da Bolívia que a autorização de sobrevoo e
aterragem, solicitada para o percurso de regresso Moscovo/La Paz, estava
cancelada por considerações técnicas."
O PÚBLICO tem
tentado contactar o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Miguel
Guedes, desde a manhã de quarta-feira, para esclarecer que tipo de
"considerações técnicas" levaram ao cancelamento da autorização de
aterragem em Lisboa, e obter um comentário sobre a acusação do Presidente da
Bolívia de que Portugal suspendeu o sobrevoo e proibiu a aterragem devido a
"suspeitas infundadas" de que Edward Snowden seguia a bordo, mas até
ao momento não obteve qualquer resposta.
O caso do voo do
Presidente Evo Morales provocou uma crise diplomática entre a Bolívia – com o
apoio de países como a Argentina e a Venezuela – e os países europeus em causa,
com o
Parlamento boliviano a propor a expulsãodos representantes diplomáticos de
Portugal, França e Itália.
A contestação a
Lisboa, Paris, Madrid e Roma ouve-se nas ruas de La Paz desde a noite de
terça-feira, com manifestações nas proximidades das representações diplomáticas
destas capitais. O cônsul de Portugal em La Paz, George Rezvani Albuquerque,
disse na quarta-feira à rádio TSF que o Ministério dos Negócios Estrangeiros de
Portugal já enviou uma carta às autoridades bolivianas, mas recusou-se a
comentar o conteúdo. Portugal não tem embaixador na capital da Bolívia – para
além do consulado em La Paz, há também um consulado em Santa Cruz de la Sierra,
ambos dependentes da embaixadora de Portugal em Lima (Peru), Helena Margarida
Rezende de Almeida Coutinho.
França pede desculpas
No comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, lê-se que o
Governo "lamenta qualquer incómodo junto das autoridades bolivianas, mas
considera-se totalmente alheio a esse incómodo".
O porta-voz do
Ministério dos Negócios Estrangeiros de França, Philippe Lalliot, também
lamentou o incidente, admitindo uma "confirmação tardia" das
autoridades francesas: "O ministro dos Negócios Estrangeiros telefonou ao
seu homólogo boliviano para lhe dizer que a Fraça lamenta o incidente causado
pela confirmação tardia da autorização para o sobrevoo do avião do Presidente
Morales."
A posição de
Espanha é um pouco diferente, o que tem aparentemente beneficiado a imagem do
país na Bolívia em relação a Portugal, França e Itália. Segundo os media
espanhóis, as autoridades do país disponibilizaram-se para abrir os seus
aeroportos ao avião de Evo Morales após a recusa de Portugal,mas
a posição de Lisboa, de Paris e de Roma tornou essa opção inviável, tendo o
aparelho aterrado em Viena, na Áustria, onde
ficou retido durante 13 horas.
Apesar disso, o
jornal El País escreve que o ministro dos Negócios Estrangeiros
espanhol, José Manuel García-Margallo, manteve negociações com o seu homólogo
boliviano, David Choquehuanca, enquanto o secretário de Estado dos Negócios
Estrangeiros espanhol, Gonzalo Benito, negociava com as autoridades
norte-americanas. Segundo o jornal, o Governo de Espanha disponibilizou-se para
resolver a situação, mas o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol terá
pedido garantias ao Presidente da Bolívia de que Edward Snowden não estava no
avião.
Foto: JARBAS
OLIVEIRA/REUTERS
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