quinta-feira, 4 de julho de 2013

Portugal: OS IMATUROS



Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Passos e Portas geraram uma situação só ultrapassável com eleições

Há um ponto que importa enfatizar no meio da gravíssima crise política que vivemos e que não sabemos exactamente como vai evoluir internamente e as consequências externas que pode acarretar. Trata-se da constatação da evidência de que os principais responsáveis da governação não souberam estar à altura das responsabilidades que os portugueses neles delegaram.

Passos Coelho, Paulo Portas e Vítor Gaspar têm necessariamente de ser responsabilizados e censurados pela imaturidade que patentearam e, ao mesmo tempo, pelos erros de governação que foram acumulando, com opções desastrosas ao nível da economia e com jogos de tacticismo político de bastidores que precipitaram a crise.

Gaspar errou nas contas e nas opções económicas. Portas errou ao andar sempre com um pé dentro e outro fora, fugindo sistematicamente aos compromissos e estoirando com o governo para escapar ao envolvimento em dossiês da maior importância. Passos errou porque achou que podia pôr e dispor como se os outros fossem marionetas e mostrou um apego ao poder que nos remete para Vasco Gonçalves. Este comportamento colectivo elevou à condição de grandes estadistas todos os ex-chefes de governo do período constitucional.

Ao ponto a que as coisas chegaram, a antecipação de eleições, com as vantagens e desvantagens que isso comporta, parecem a melhor forma de tentar desbloquear a situação.

As negociações que Passos e Portas vão abrir para os centristas darem cobertura política a outro desiderato podem gerar uma solução governativa formal, mas não substancial.

Um governo (este ou outro) resultante dessas negociações será fatalmente mais frágil e não terá as condições essenciais para gerir o país num clima de estabilidade, muito menos com o mesmo primeiro-ministro à frente dele. Será uma alternativa redutora. E também não faria sentido agora o CDS aceitar Maria Luís Albuquerque ou o primeiro-ministro substituí-la. Nada já faz sentido, nem mesmo a hipótese de o CDS impor o tal ministro de Estado e da Economia que proclamou essencial.

Há momentos em que se deve devolver a palavra ao povo para legitimar soluções. Há agora uma janela de oportunidade que o permite, fazendo coincidir autárquicas e legislativas, como defendeu o PS.

Obviamente que isso criará dificuldades suplementares em relação à situação que tínhamos há uma semana apenas. É evidente também que as eleições não irão trazer nenhuma bonança económica e social. Nada disso. Mas há um ponto para o qual serviriam indiscutivelmente: a validação democrática de soluções políticas futuras.

Até lá, PSD e CDS teriam de decidir se enfrentariam esses actos eleitorais com os actuais líderes ou com outros dos seus notáveis. Mas isso são contas de outro rosário.

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