Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Passos e Portas
geraram uma situação só ultrapassável com eleições
Há um ponto que
importa enfatizar no meio da gravíssima crise política que vivemos e que não
sabemos exactamente como vai evoluir internamente e as consequências externas
que pode acarretar. Trata-se da constatação da evidência de que os principais
responsáveis da governação não souberam estar à altura das responsabilidades
que os portugueses neles delegaram.
Passos Coelho,
Paulo Portas e Vítor Gaspar têm necessariamente de ser responsabilizados e
censurados pela imaturidade que patentearam e, ao mesmo tempo, pelos erros de
governação que foram acumulando, com opções desastrosas ao nível da economia e
com jogos de tacticismo político de bastidores que precipitaram a crise.
Gaspar errou nas contas
e nas opções económicas. Portas errou ao andar sempre com um pé dentro e outro
fora, fugindo sistematicamente aos compromissos e estoirando com o governo para
escapar ao envolvimento em dossiês da maior importância. Passos errou porque
achou que podia pôr e dispor como se os outros fossem marionetas e mostrou um
apego ao poder que nos remete para Vasco Gonçalves. Este comportamento
colectivo elevou à condição de grandes estadistas todos os ex-chefes de governo
do período constitucional.
Ao ponto a que as
coisas chegaram, a antecipação de eleições, com as vantagens e desvantagens que
isso comporta, parecem a melhor forma de tentar desbloquear a situação.
As negociações que
Passos e Portas vão abrir para os centristas darem cobertura política a outro
desiderato podem gerar uma solução governativa formal, mas não substancial.
Um governo (este ou
outro) resultante dessas negociações será fatalmente mais frágil e não terá as
condições essenciais para gerir o país num clima de estabilidade, muito menos
com o mesmo primeiro-ministro à frente dele. Será uma alternativa redutora. E
também não faria sentido agora o CDS aceitar Maria Luís Albuquerque ou o
primeiro-ministro substituí-la. Nada já faz sentido, nem mesmo a hipótese de o
CDS impor o tal ministro de Estado e da Economia que proclamou essencial.
Há momentos em que
se deve devolver a palavra ao povo para legitimar soluções. Há agora uma janela
de oportunidade que o permite, fazendo coincidir autárquicas e legislativas,
como defendeu o PS.
Obviamente que isso
criará dificuldades suplementares em relação à situação que tínhamos há uma
semana apenas. É evidente também que as eleições não irão trazer nenhuma
bonança económica e social. Nada disso. Mas há um ponto para o qual serviriam
indiscutivelmente: a validação democrática de soluções políticas futuras.
Até lá, PSD e CDS
teriam de decidir se enfrentariam esses actos eleitorais com os actuais líderes
ou com outros dos seus notáveis. Mas isso são contas de outro rosário.
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