quinta-feira, 4 de julho de 2013

João Ferreira do Amaral. Instabilidade política "é um papão que se está a acenar"



Jornal i - Lusa

Para o professor "é normal que um Governo de coligação se possa desfazer, se possa compor ou não, e se não se puder compor que haja eleições"

João Ferreira do Amaral considerou hoje que a instabilidade política no país "é um papão que se está a acenar" porque o que está em causa "é normal num país democrático".

Em declarações à agência Lusa, o economista e professor adiantou que as demissões de ministros, as conversações entre os líderes dos partidos de coligação do Governo e a instabilidade política provocada "é normal" e que não se trata de "golpes de Estado nem de situações de a rua tomar conta do poder".

Para o professor "é normal que um Governo de coligação se possa desfazer, se possa compor ou não, e se não se puder compor que haja eleições".

João Ferreira do Amaral observou que a questão da instabilidade política "afeta os mercados no início porque é uma surpresa, mas depois estabilizarão", acrescentando que se houver um outro Governo com a mesma coligação, "a confiança será a mesma da que existia antes".

Caso haja perspetivas de eleições, o professor frisa que, para os mercados, "isso não significa que se vá entrar em paranoia", até porque o Partido Socialista sempre se considerou "amarrado ao memorando de entendimento".

Para o economista, "Portugal é o primeiro caso de insucesso dos programas [de ajustamento]", porque a Grécia, embora com resultados "desastrosos, foi sempre acusada de não cumprir". Já Portugal "cumpriu e não melhorou nada a situação", afirmou.

"Toda a gente sabe que Portugal não poderia voltar aos mercados sem ajuda", independentemente da instabilidade política, disse João Ferreira do Amaral, considerando que isso significa que o programa da 'troika' (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) "não teve êxito e criou disfunções na economia e no emprego" com as quais vai ser "muito difícil de lidar no futuro".

"Verdadeiramente e sem margem para dúvidas, porque aqui já não há a desculpa de saber se [Portugal] cumpriu ou não cumpriu", a situação atual "pode levar a uma reflexão da Europa sobre este tipo de programas", acrescentou.

A questão da reflexão e da eventual mudança das atuação das entidades europeias tem a ver, segundo João Ferreira do Amaral, com a "consciencialização progressiva de que Portugal chegou a um bloqueio", ou seja, "já não tem grande capacidade com este programa de consolidar as suas finanças públicas porque a economia já não permite isso".

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