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O jurista Adli
Mansur assumiu como presidente interino do Egito após a destituição de Mohammed
Morsi. Mas o poder no país está onde sempre esteve: nas mãos dos militares,
comandados pelo general Abdel Fattah al-Sisi.
"Juro, em nome
de Deus, cumprir a lei e a Constituição e governar com justiça." Menos de
24 horas após a queda do presidente Mohammed Morsi, Adli Mansur fazia seu
juramento, assumindo como presidente interino do Egito.
O chefe das Forças
Armadas, Abdel Fattah al-Sisi, anunciou a destituição de Morsi na noite desta
quarta-feira (03/07), em pronunciamento transmitido pela televisão.
Após dias de
protestos contra Morsi, o general havia dado um ultimato de 48 horas ao
primeiro presidente eleito do Egito, para que atendesse às demandas da
população. Até a realização de novas eleições, Mansur deve governar o país,
juntamente com um conselho de transição, formado por tecnocratas.
Candidato de
consenso
"No cenário
político do Egito, Mansur é uma personalidade completamente desconhecida",
observa o cientista político Christian Achrainer, da Sociedade Alemã de
Política Externa (DGAP, na sigla original).
O jurista de 67
anos, membro do Supremo Tribunal Constitucional desde 1992, ocupava o cargo de
presidente do órgão havia apenas dois dias. Morsi o promovera do cargo de
vice-presidente para suceder Maher al-Behairi, que havia se aposentado no final
de junho.
Devido a uma lei
que passou a vigorar após a queda do ditador Hosni Mubarak, o presidente não
pode mais ocupar o posto mais alto do Supremo Tribunal Constitucional com um
candidato externo, sendo obrigado a escolher um dos três vice-presidentes mais
antigos do órgão.
Durante as disputas
entre o governo Morsi e o judiciário egípcio, Mansur sempre teve uma posição
discreta, diz Achrainer. Entre outras coisas, Morsi revogou emendas
constitucionais e negou ao Supremo Tribunal Constitucional a competência para
se pronunciar sobre a legalidade da Assembleia Constituinte, dominada por
islamitas. Já o Supremo Tribunal Constitucional retirou, em junho, a
legitimidade da câmara alta do Parlamento, dominada pela Irmandade Muçulmana.
Mas Mansur esteve
muito envolvido nas principais decisões da era pós-Mubarak, ressalta Achrainer.
"Antes da última eleição presidencial, ele foi uma das pessoas que lutaram
para garantir que representantes do antigo regime fossem autorizados a
participar nas eleições." Esse foi um motivo de críticas, assim como a sua
longa carreira jurídica durante o governo do presidente Mubarak.
Jovem general
Mas o poder no país
não está nas mãos do presidente interino, e sim do Exército – tal como após o
golpe de Estado de 1952 e após a queda de Mubarak, em 2011. "Sem os
militares, Mansur não teria se tornado presidente", destaca Ronald
Meinardus, diretor do escritório no Cairo da Fundação Friedrich Naumann.
E à frente do
Exército está Abdel Fattah al-Sisi. Em agosto de 2012, após a queda do ministro
da Defesa, Mohammed Hussein Tantawi, Morsi nomeou al-Sisi para o cargo. O
general é tido como um muçulmano devoto. "Ao mesmo tempo, ele foi
socializado na tradição do nasserismo", sublinha Meinardus. "O
Exército egípcio vem dessa tradição. O corpo de oficiais é de tendência
laica." O ex-presidente Gamal Abdel Nasser era considerado um opositor ferrenho
da Irmandade Muçulmana.
Com 58 anos,
al-Sisi é um dos generais mais jovens do país. Ele não lutou nas guerras contra
Israel em 1967 e 1973. Após a queda de Mubarak, em fevereiro de 2011, tornou-se
o membro mais jovem do Supremo Conselho Militar e chefe da inteligência
militar.
Após a renúncia de
Mubarak, al-Sisi foi criticado por ter justificado publicamente, em 2011,
agressões sexuais de soldados a mulheres egípcias, os chamados "testes de
virgindade". Após indignação internacional, al-Sisi reviu sua posição e
anunciou que tais "exames" não ocorreriam mais.
"A ditadura
militar após a remoção de Mubarak foi um período não muito feliz na história do
Egito", reconhece Meinardus, referindo-se aos 17 meses em que Tantawi
dirigiu o Supremo Conselho Militar como a mais alta autoridade no Egito e
concedeu aos militares amplos poderes políticos.
Nova Constituição e
antigos interesses
Com a nomeação de
Mansur como presidente interino, os militares não estão na linha de frente do
governo. Al-Sisi ressaltou à imprensa que os militares "vão ficar longe da
política".
A Constituição de
forte influência islâmica, aprovada na gestão Morsi, foi revogada. Um grêmio
deve preparar uma nova Constituição para o país, que deverá ser aprovada por
referendo.
"Mas, por trás
dos acontecimentos, ainda estão os interesses dos militares", alerta Achrainer.
"O império econômico dos militares não deve ser posto em perigo, e a
liderança do país não deve se intrometer nos assuntos das Forças Armadas",
resume. No governo Morsi, os militares sentiram seus interesses ameaçados e
decidiram intervir.
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