Jornal i - Lusa
"Portugal
autorizou o sobrevoo do Falcon do Presidente Morales no território
nacional"
O ministro dos
Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, assegurou hoje que o Governo português
autorizou "atempadamente" o sobrevoo em território nacional do
Presidente da Bolívia e não colocou em risco a vida de Evo Morales e da sua
comitiva.
Paulo Portas
participou hoje, ainda na qualidade de ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros, numa audição na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades
Portuguesas, dominada na primeira parte por uma agendamento protestativo do PCP
relacionado com o sobrevoo e autorização de aterragem em Portugal do avião do
Presidente da Bolívia, Evo Morales, por suspeita de levar a bordo o ex-espião
Edward Snowden.
"Portugal
autorizou o sobrevoo do Falcon do Presidente Morales no território nacional.
Não só autorizou como na verdade o avião do Presidente Morales passou no espaço
aéreo português, entrou na zona do Alentejo, até ao espaço aéreo de Porto
Santo", referiu Paulo Portas, que em simultâneo apresentou um mapa com o
trajeto aéreo do avião presidencial boliviano.
Na introdução
prévia, o deputado do PCP Bernardino Soares, considerou que a questão
"justificaria um pedido de demissão, não tivesse o senhor ministro já
tomado esse decisão", e colocou uma questão que considerou decisiva:
"Quem deu a ordem para o avião não aterrar?".
Na resposta, Paulo
Portas optou por separar as duas questões "de substância" e
pronunciar-se de início sobre a denúncia de escutas e vigilâncias por parte dos
serviços de informações dos Estados Unidos (EUA) a missões diplomáticas da UE
ou Estados da EU, "que tanto mais é tanto mais preocupante quando acontece
entre aliados".
O chefe da
diplomacia garantiu que recorreu às informações hoje publicadas em diversos
?media', que excluem a ausência de escutas às representações diplomáticas
portuguesas, mas revelou que o Governo convocou o representante diplomático
norte-americano.
"O embaixador
dos EUA foi convocado ao ministério na semana passada para manifestar a nossa desconformidade
inequívoca com tais práticas e que acompanhamos a posição europeia
relativamente a solicitar explicações de Washington e deixar claro que escutas
no edifício que é o coração da UE em Bruxelas ou em qualquer missão da UE no
mundo são preocupação direta do Estado português", referiu.
Numa alusão ao
incidente com o avião onde viajava em direção a La Paz o Presidente boliviano,
proveniente de Moscovo e forçado a uma escala de 13 horas em Viena, Paulo
Portas reafirmou que o sobrevoo foi autorizado, e de acordo com as regras
aéreas internacionais e no respeito pela soberania dos dois países.
"Em nenhuma
circunstância o Governo português colocou em risco a vida ou a segurança de
quem quer que fosse que estava nesse avião", sublinhou.
"Agimos com
total cautela, a informação de que Portugal autorizava o sobrevoo foi
confirmada diplomaticamente e por escrito com quase 24 horas de antecedência.
Portugal respeitou o plano de voo aprovado, respeitou a legalidade
internacional", frisou ainda.
Numa nova referência
à "questão Snowden", o MNE assinalou que o Executivo "respeita
em absoluto a posição de qualquer Governo legítimo, de qualquer Estado
soberano, sobre Snowden, o seu trânsito e eventual asilo".
Nesta sentido,
assegurou que "a nossa opção foi não pedir informações à República da
Bolívia sobre quem vinha ou quem não vinha no avião. Não exigimos informações
nem garantias".
Na ronda de
perguntas dos deputados, Paulo Portas foi confrontado com as questões colocadas
pela oposição, com a deputada do BE Helena Pinto a insistir "na questão de
fundo, que foi não autorizar a aterragem", Bernardino Soares a insistir
nos reflexos deste incidente nos acordos comerciais entre Portugal e diversos
países da América Latina, ou a deputada do PS, Maria de Belém, a "concluir"
que "afinal não aconteceu nada".
"Não aconteceu
nada, afinal. Estamos a falar de uma ficção e isso é altamente preocupante. De
acordo com as explicações que o senhor ministro deu, não houve violação do
direito internacional, foi tudo avisado com antecedência, o avião sobrevoo o
espaço aéreo", afirmou Maria de Belém Roseira.
A deputada
socialista afirmou que, então, "alguma coisa terá que ser feita para
evitar que uma não ocorrência" tenha impacto nas relações de Portugal com
a América Latina e a Bolívia.
Helena Pinto, do
BE, insistiu que Paulo Portas não respondeu à pergunta sobre quais foram
"as considerações técnicas" que impediram a aterragem do avião de Evo
Morales.
Já Bernardino
Soares disse que as explicações do ministro mostram que "a consideração técnica
não era verdadeira".
"Assumam
isso", afirmou, sublinhando que o motivo avançado por Paulo Portas foi
"Portugal não importar" um problema que não é seu, numa referência ao
caso Snowden, acusando Portas de contribuir para "o cerco" feito
pelos Estados Unidos ao antigo espião.
Paulo Portas voltou
a remeter para a sua intervenção inicial, e reafirmou que Portugal não fechou o
espaço aéreo ao líder boliviano.
"Não julgo o
que fizeram outros Estados, mas Portugal não fechou".
E sublinhou, de
novo: "Não pedi garantias ao Presidente da Bolívia sobre quem viajava no
seu avião, respeito o que cada Estado soberano pensa sobre Snowden e o seu
destino. O problema Snowden não é um problema do Estado português, a soberania
de Portugal e da Bolívia foram inteiramente respeitadas".
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