Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Antes de Gaspar
sair, já o resgate, suave ou não, vinha a caminho
Não vale a pena
inventar um cenário em que a crise política iria gerar um segundo resgate. Trata-se de uma
falácia que contribui estrategicamente para criar um ambiente favorável à
aceitação da reconfiguração governativa que Passos Coelho e Paulo Portas ainda
discutiam ontem.
O facto de Gaspar
ter falhado praticamente todos os objectivos torna inevitável uma segunda
grande ajuda ou um perdão de dívida. A fuga do ministro e a sua carta desleal e
cínica podem ter agravado a conjuntura, mas o caminho estava traçado.
A recessão profunda
explica que Portugal precise de mais dinheiro para pagar dívidas. Obviamente a
forma que o novo resgate irá tomar terá contornos menos dramáticos que os do
anterior. Isto porque tanto a troika como Angela Merkel tomaram consciência de
que a metodologia brutal não era adequada.
Quanto aos termos e
à inevitabilidade do resgate, não há dúvidas, seja qual for o nome que lhe
derem. Invocar esse papão como consequência da actual crise política é atirar
areia para os olhos dos portugueses.
Quanto ao acordo
Passos-Portas, há ainda dois pontos essenciais a considerar, para além dos
acertos na estrutura do governo.
Primeiro, o que vai
fazer Cavaco Silva, sendo maior a probabilidade de aceitar o compromisso do que
a hipótese de o rejeitar.
Em segundo lugar,
saber o que pensam do assunto as bases do PSD. E aqui a coisa não está fácil,
apesar de ontem Passos ter posto as distritais a sair em defesa do acordo. No
entanto, a forma como a questão foi apresentada indiciou uma cedência do
primeiro-ministro, ao ponto de se poder questionar se sua função não passou a
ser meramente decorativa, uma vez que Portas reúne um poder enorme. É como se o
CDS tivesse passado à posição de partido maioritário sem eleições.
É certo que em
termos de opinião pública Passos Coelho se saiu melhor que Portas. Mas os aparelhos
partidários têm outras lógicas, que importa recordar. Os efeitos potencialmente
devastadores que o comportamento de Portas teria em resultados eleitorais do
CDS transformam a garantia de listas conjuntas para as europeias num seguro de
vida para os centristas, o que a prazo pode incomodar sectores do PSD, aos
quais não agrada a ideia de ceder um em cada três lugares nas listas.
Não é provável que
estas situações laterais ponham em causa a substância do acordo, mas é natural
que Passos Coelho tenha ainda algum trabalho de casa a fazer para garantir uma
aceitação maioritária dos seus termos, porque no PSD os líderes só têm o tempo
de vida que as bases querem.
E há paciências que
podem estar a esgotar-se.
Aplausos nas
igrejas
Aplaudir a entrada
de uma criança na comunidade cristã é um gesto bonito. Vê-se modernamente nos
baptizados. Também é bonita a salva de palmas de júbilo pela tomada de posse de
um bispo, mais a mais patriarca.
Já o aplauso a um
chefe de governo ou de Estado num templo é diferente. Afinal pode haver quem
não partilhe da fé no celebrado e desate a apupar. O que aconteceria então?
Vinha o corpo de intervenção?
Com tantas notas
pastorais, talvez uma a aconselhar moderação na manifestação política de apoios
ou repúdios nas igrejas fosse oportuna.
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