terça-feira, 9 de julho de 2013

Portugal: O PAPÃO DO RESGATE




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Antes de Gaspar sair, já o resgate, suave ou não, vinha a caminho

Não vale a pena inventar um cenário em que a crise política iria gerar um segundo resgate. Trata-se de uma falácia que contribui estrategicamente para criar um ambiente favorável à aceitação da reconfiguração governativa que Passos Coelho e Paulo Portas ainda discutiam ontem.

O facto de Gaspar ter falhado praticamente todos os objectivos torna inevitável uma segunda grande ajuda ou um perdão de dívida. A fuga do ministro e a sua carta desleal e cínica podem ter agravado a conjuntura, mas o caminho estava traçado.

A recessão profunda explica que Portugal precise de mais dinheiro para pagar dívidas. Obviamente a forma que o novo resgate irá tomar terá contornos menos dramáticos que os do anterior. Isto porque tanto a troika como Angela Merkel tomaram consciência de que a metodologia brutal não era adequada.

Quanto aos termos e à inevitabilidade do resgate, não há dúvidas, seja qual for o nome que lhe derem. Invocar esse papão como consequência da actual crise política é atirar areia para os olhos dos portugueses.

Quanto ao acordo Passos-Portas, há ainda dois pontos essenciais a considerar, para além dos acertos na estrutura do governo.

Primeiro, o que vai fazer Cavaco Silva, sendo maior a probabilidade de aceitar o compromisso do que a hipótese de o rejeitar.

Em segundo lugar, saber o que pensam do assunto as bases do PSD. E aqui a coisa não está fácil, apesar de ontem Passos ter posto as distritais a sair em defesa do acordo. No entanto, a forma como a questão foi apresentada indiciou uma cedência do primeiro-ministro, ao ponto de se poder questionar se sua função não passou a ser meramente decorativa, uma vez que Portas reúne um poder enorme. É como se o CDS tivesse passado à posição de partido maioritário sem eleições.

É certo que em termos de opinião pública Passos Coelho se saiu melhor que Portas. Mas os aparelhos partidários têm outras lógicas, que importa recordar. Os efeitos potencialmente devastadores que o comportamento de Portas teria em resultados eleitorais do CDS transformam a garantia de listas conjuntas para as europeias num seguro de vida para os centristas, o que a prazo pode incomodar sectores do PSD, aos quais não agrada a ideia de ceder um em cada três lugares nas listas.

Não é provável que estas situações laterais ponham em causa a substância do acordo, mas é natural que Passos Coelho tenha ainda algum trabalho de casa a fazer para garantir uma aceitação maioritária dos seus termos, porque no PSD os líderes só têm o tempo de vida que as bases querem.

E há paciências que podem estar a esgotar-se. 

Aplausos nas igrejas

Aplaudir a entrada de uma criança na comunidade cristã é um gesto bonito. Vê-se modernamente nos baptizados. Também é bonita a salva de palmas de júbilo pela tomada de posse de um bispo, mais a mais patriarca.

Já o aplauso a um chefe de governo ou de Estado num templo é diferente. Afinal pode haver quem não partilhe da fé no celebrado e desate a apupar. O que aconteceria então? Vinha o corpo de intervenção?

Com tantas notas pastorais, talvez uma a aconselhar moderação na manifestação política de apoios ou repúdios nas igrejas fosse oportuna.

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