Carvalho da Silva –
Jornal de Notícias, opinião
Esta semana,
enquanto os partidos do "arco do poder" andaram com grande afã nas
negociações com vista à obtenção de um "acordo de salvação nacional",
sob a égide do presidente da República (PR), fomos confrontados com uma
catadupa de informações que convergem no pior sentido: são desastrosos os resultados
das políticas seguidas e perspetiva-se agravamento dos problemas económicos,
sociais e políticos com que o país se depara.
O povo português
não merece os vexames a que vem sendo sujeito em resultado das conceções
retrógradas e reacionárias, da tacanhez, da incompetência, das práticas de
traição política dos "estadistas" que nos governam.
O acordo que o PR
sugeriu para ser construído debaixo da obrigação do cumprimento do memorando da
troika até ao fim, a concluir-se, consubstanciar-se-ia num ato de humilhação,
de submissão aos interesses dos credores e de quem se move por detrás deles, de
entrega da soberania nacional, de retrocesso irreparável da sociedade
portuguesa.
O memorando não é
exequível! Aceitá-lo e submeter o povo português às consequências dessa
aceitação significaria abrir caminho a novos resgates que se perspetivam, seja
qual for o nome com que os designem. O "acordo" visava, no imediato,
consumar, com a chancela do Partido Socialista (PS), formas de aplicar o roubo
aos portugueses de mais de 4 mil milhões de euros, que os partidos do Governo
sentem difícil imporem sozinhos, e, para o futuro, prosseguir e aprofundar
políticas de austeridade.
Quem,
conscientemente, propagandeia que este "acordo" visava evitar um
segundo resgate sabe que está a mentir, pois a prossecução das políticas do
memorando vão-nos tornando mais pobres e com menos capacidades para cumprir
compromissos. Esta via apenas serve os objetivos dos credores e os interesses
de alguns trutas nacionais, parasitários e instalados no centrão de poderes,
que nem perante o rebentamento de bombas (elas podem rebentar no plano social e
não só) se disponibilizam a partilhar riqueza e a ceder poder.
O Governo, os
partidos que o sustentam e o PR atuam, há muito tempo, como grupo de
submetidos. É muito importante que o PS não se associe a esse caminho
desastroso. Que este ato signifique, no PS, mudança de rumo!
Passos Coelho diz
que o "êxito prossegue", quando esta semana:
i) O Banco de
Portugal alertou para os perigos de "declínio económico estrutural" e
previu, para 2014, pior comportamento da economia do que já havia projetado;
ii) A OCDE
confirmou que a quebra nos nossos salários é do mesmo nível dos gregos, e quase
quatro vezes mais que a descida dos salários irlandeses, apesar de sermos dos
que mais horas trabalhamos na Europa;
iii) Diversos
estudos credíveis mostram-nos que os portugueses empobreceram aceleradamente e
os pobres estão cada vez mais pobres; que houve forte quebra no consumo de bens
de primeira necessidade; que o investimento, o privado incluído, caiu para
níveis baixíssimos; que o emprego total desceu para o patamar de 1995; que o
desemprego vai aumentar; que os buracos financeiros dos BPN se aprofundam.
Quando se fala na
necessidade de compromissos é com razão que o povo reclama aos partidos e a
outras instituições: entendam-se!
É preciso um
entendimento, sim! Mas, um entendimento para afirmação da dignidade e do
futuro.
Portugal precisa de
um acordo feito por protagonistas sérios, por democratas, por forças
progressistas, pela participação ativa dos partidos da esquerda. Um acordo para
um programa de governação, que, nomeadamente, assuma a denúncia do memorando,
dado várias das suas componentes não serem aplicáveis; que construa uma
estratégia de renegociação da dívida com todos os credores, a ser feita por um
governo que se apresente de cabeça erguida, apoiado pela mobilização dos
portugueses, a exigir condições para que o país não consuma todos os seus recursos
no pagamento de juros e na amortização da dívida e possa recuperar; que
priorize a criação de emprego.
É hora de forçar
este entendimento e os compromissos a ele inerentes. E é indispensável a
convocação de eleições.
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