Liliana Valente –
Jornal i
Direcção do CDS
colocou nas mãos do líder os detalhes das negociações. Querem apenas que o
partido seja ouvido e seja "útil" nas linhas gerais de política e que
seja invertido o rumo de austeridade para entrar no crescimento
Foi com o título de
ministro demissionário e líder do partido minoritário da coligação que Paulo
Portas se sentou ontem à mesa com Passos Coelho. Mas do CDS tinha a carta
branca para defender como quisesse os interesses do partido.
Os centristas não
definiram as condições em detalhe que exigem a Passos para continuarem no
governo, na reunião da comissão executiva ontem à tarde, e depositaram em
Portas a condução de todo o processo. Querem apenas que o partido tenha
"utilidade" no governo e que seja invertido o caminho de austeridade
sem pensar no crescimento.
Tudo acontece a
dias de acabar o prazo com a troika para a entrega das restantes medidas de
corte na despesa e da reforma do Estado com que se comprometeu o governo. Até
dia 15 de Julho, têm de ser entregues no parlamento as medidas que faltam, como
a convergência dos regimes de pensões e o aumento da idade real da reforma para
os 66 anos via alterações ao factor de sustentabilidade, e entregue o guião da
reforma do Estado, a cargo de Portas.
Perante o timing e
por ter sido uma decisão independente, a cúpula do CDS foi apanhada de surpresa
pela decisão do líder e alguns membros, sabe o i, não esconderam até
alguma desilusão. E foi no jogo de palavras que aceitaram a decisão
"irrevogável" de Portas, mas salientam, em comunicado, que o CDS
continua a considerar de extrema importância o "cumprimento das obrigações
externas de Portugal, condição essencial para recuperar a liberdade e a
soberania do Estado português".
Os centristas até
assinalam que muitas vezes para assegurar as condições de governabilidade
sacrificaram "algumas das suas próprias convicções", - em jeito de
lembrança do que aconteceu na aprovação do Orçamento do Estado para este ano -,
mas logo a seguir relembram no comunicado o que o CDS quer de Passos: que a sua
promessa de diálogo signifique que quer "assegurar um novo ciclo económico
e social".
Além disso, o CDS,
quer "garantir a utilidade efectiva do contributo do CDS no quadro da
definição das políticas da maioria", apoiando as palavras de Portas no
comunicado sobre a sua demissão em que dizia que não era ouvido.
Vários são os
cenários em cima da mesa, sendo que a vontade para já é evitar a queda do
governo e evitar eleições legislativas antecipadas. O dirigente do CDS, Altino
Bessa, defende que "Portas não tem obrigação de estar no governo. Podem
ser outros ministros", sem o líder no executivo. Esta solução deixaria
Portas, conhecido por ser bom comunicador, fora do constrangimento do governo,
mais virado para a vida interna do partido, quando se prevê um ciclo eleitoral que
inclui autárquicas, europeias e legislativas.
O dirigente e
também deputado não põe de parte a possibilidade de haver apenas um apoio
parlamentar, em última instância. "A segunda alternativa [à participação
com ministros, mas sem Portas] é validarmos o governo pela via parlamentar.
Basta a abstenção do CDS para o governo conseguir aprovar as medidas mais
importantes, nomeadamente o Orçamento do Estado". Uma solução deste tipo
obrigaria a uma negociação mais próxima entre os dois partidos para dossiês muito
complicados e, sendo mais instável, não garantiria a sustentabilidade do
governo (aqui só do PSD) por muito tempo.
Com Luís Claro
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