sexta-feira, 5 de julho de 2013

Portugal: PRODUÇÕES NÃO FICTÍCIAS



Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

O filme da crise passou a ter Cavaco como figura fulcral

Só mais tarde se poderá, com algum rigor, fazer o historial destes dias de crise política em que dois alegados responsáveis bateram a porta com estrondo, deixando o primeiro-ministro sem número dois e sem número três.

À hora do fecho desta edição nada estava resolvido e aparentemente até havia muita coisa por esclarecer, passando pela posição final de Cavaco Silva relativamente às propostas de remodelação que Passos Coelho lhe apresentou depois de as negociar com Paulo Portas.

O Presidente quer uma solução sólida e sabe que a pressa é má conselheira pelo que não se irá importar de esperar até ao fim do congresso do CDS e às audiências com os partidos parlamentares para decidir, em última instância.

Engana-se quem acha que o Presidente é um simples verbo de encher que vai abdicar das suas prerrogativas e dos seus poderes. Não é do seu perfil. Pelo menos do ponto de vista formal, Cavaco Silva vai querer que haja uma legitimidade inquestionável de quem integrar o executivo. E isso é algo que na verdade só pode existir se estiverem os dois líderes no governo, sejam eles quais forem.

Quem tiver dúvidas que veja o que aconteceu ao governo PS/CDS que Mário Soares liderou e no qual Freitas do Amaral não quis entrar, dando a vez a Basílio Horta.

Mas para além das questões ligadas à recauchutagem do governo, importa voltar aos motivos da fuga de Gaspar e da atitude, até ver irrevogável, de Portas.

À falta de explicações substanciais há que perguntar o que é que eles sabiam que o país não soubesse para que tenham desertado daquela maneira?

Se as coisas estavam a melhorar, menos sentido fazem as suas atitudes respectivas. O que aconteceu adensa as dúvidas e o mistério sobre o estado real da economia do país, sendo lícito pensar que tudo está bem pior do que nos é dito e transmitido.

Esta forma de abandonar o barco remete para o Titanic e a fuga dos privilegiados da primeira classe, enquanto os outros passageiros eram entregues à sua sorte e a orquestra tocava sob a batuta do maestro que nesta versão foi interpretado por Passos Coelho.

Aparentemente ainda não fomos ao fundo, mas, sem um acrescento sério de maturidade por parte dos governantes executivos, dificilmente evitaremos uma ida a pique se é que ela não é já inevitável e que não é exactamente por isso que se verificam deserções que pouco terão a ver com os motivos invocados.

Vai ter de se esperar um tempo para se perceber minimamente os meandros subterrâneos dos jogos políticos dos últimos dias.

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