Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
O filme da crise
passou a ter Cavaco como figura fulcral
Só mais tarde se
poderá, com algum rigor, fazer o historial destes dias de crise política em que
dois alegados responsáveis bateram a porta com estrondo, deixando o
primeiro-ministro sem número dois e sem número três.
À hora do fecho
desta edição nada estava resolvido e aparentemente até havia muita coisa por
esclarecer, passando pela posição final de Cavaco Silva relativamente às
propostas de remodelação que Passos Coelho lhe apresentou depois de as negociar
com Paulo Portas.
O Presidente quer
uma solução sólida e sabe que a pressa é má conselheira pelo que não se irá
importar de esperar até ao fim do congresso do CDS e às audiências com os
partidos parlamentares para decidir, em última instância.
Engana-se quem acha
que o Presidente é um simples verbo de encher que vai abdicar das suas
prerrogativas e dos seus poderes. Não é do seu perfil. Pelo menos do ponto de
vista formal, Cavaco Silva vai querer que haja uma legitimidade inquestionável
de quem integrar o executivo. E isso é algo que na verdade só pode existir se
estiverem os dois líderes no governo, sejam eles quais forem.
Quem tiver dúvidas
que veja o que aconteceu ao governo PS/CDS que Mário Soares liderou e no qual
Freitas do Amaral não quis entrar, dando a vez a Basílio Horta.
Mas para além das
questões ligadas à recauchutagem do governo, importa voltar aos motivos da fuga
de Gaspar e da atitude, até ver irrevogável, de Portas.
À falta de
explicações substanciais há que perguntar o que é que eles sabiam que o país
não soubesse para que tenham desertado daquela maneira?
Se as coisas
estavam a melhorar, menos sentido fazem as suas atitudes respectivas. O que
aconteceu adensa as dúvidas e o mistério sobre o estado real da economia do
país, sendo lícito pensar que tudo está bem pior do que nos é dito e transmitido.
Esta forma de
abandonar o barco remete para o Titanic e a fuga dos privilegiados da primeira
classe, enquanto os outros passageiros eram entregues à sua sorte e a orquestra
tocava sob a batuta do maestro que nesta versão foi interpretado por Passos
Coelho.
Aparentemente ainda
não fomos ao fundo, mas, sem um acrescento sério de maturidade por parte dos
governantes executivos, dificilmente evitaremos uma ida a pique se é que ela
não é já inevitável e que não é exactamente por isso que se verificam deserções
que pouco terão a ver com os motivos invocados.
Vai ter de se
esperar um tempo para se perceber minimamente os meandros subterrâneos dos
jogos políticos dos últimos dias.
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