sexta-feira, 5 de julho de 2013

Angola: A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA



Jornal de Angola, editorial - 5 de Julho, 2013

Já temos uma lei específica sobre a violência doméstica, mas continuam a existir casos que atentam contra a integridade física e moral de mulheres, crianças, idosos ou cidadãos portadores de deficiência. E muitas acções são protagonizadas por familiares e dentro do lar.

O facto de termos uma lei que prevê penalidades contra os que cometem ilícitos criminais no seio familiar não constitui garantia para que os problemas da violência doméstica sejam resolvidos. O problema resolve-se em cada um de nós.

Todos os dias decorrem em Angola acções que visam mobilizar as comunidades contra a violência doméstica. Até há quem considere que existe um exagero por parte do Ministério da Família e Promoção da Mulher e instituições públicas ou privadas que batem na tecla desse mal que está a corroer por dentro as nossas famílias. Até os efectivos das Forças Armadas e da Polícia Nacional participam em seminários, conferências e sessões de esclarecimento sobre a violência no lar.

Esta é a via certa para contrapor aos traumas adquiridos durante décadas de uma guerra que foi desencadeada por quem tinha como objectivo a violência gratuita e fazia da política um acto bélico e das pessoas alvos a abater.

Foi bom o Parlamento ter produzido uma lei contra a violência doméstica, mas é necessário que, além  desse diploma legal, haja acções que, promovidas por instituições da sociedade civil e mesmo do Estado, sejam orientadas para a promoção da harmonia no seio das famílias.

A estabilidade das famílias é fundamental para a nossa sociedade. É no seio familiar que se educam as crianças e se transmitem os valores que sustentam uma sociedade equilibrada e sadia. Não é admissível que exista violência neste espaço de comunhão e partilha. Mas existe e temos de encarar esta realidade sem meter a cabeça debaixo da areia. Existe a todos os níveis e em todos os estratos sociais.

O legislador ordinário produziu a Lei Contra a Violência doméstica, na perspectiva de assegurar que sejam protegidas as pessoas vulneráveis. E muito particularmente dentro do lar.

A lei existe, está em vigor, e pelos dados que são conhecidos, em alguns meios da sociedade angolana a violação da integridade física das pessoas nos lares tem diminuído de uma forma significativa. Mas há ainda muitos casos, sobretudo em zonas onde a pobreza e o analfabetismo estão presentes. É para aí que devem ser dirigidos todos os esforços no sentido de resolver o problema de uma forma definitiva. E a lei por si de nada vale. É preciso apostar nas campanhas de alfabetização, redobrar esforços para incluir todas as crianças no sistema público de ensino, criar postos de trabalho e garantir a todos um rendimento mínimo que garanta a todas as famílias angolanas o mínimo para viverem de uma forma harmoniosa e equilibrada.

A Lei Contra a Violência Doméstica foi feita na perspectiva de acabar ou reduzir os casos de agressões nos lares, contra mulheres, crianças, idosos e pessoas portadores de deficiência. Queremos que em Angola os lares sejam locais em que as pessoas possam viver em harmonia e felizes.

Temos instituições que estão vocacionadas para trabalhar na educação moral e cívica dos cidadãos. É necessário traçar planos que estabeleçam programas que reduzam substancialmente o índice de violência doméstica, pelo que é imperiosa uma conjugação de esforços na assistência às famílias mais desprotegidas, no seio das quais se registam casos de violência sobretudo contra as crianças e mulheres.

Vários meses depois da lei contra a violência doméstica ter sido promulgada e publicada, é hora de se fazer um balanço para sabermos em que medida o diploma exerceu um efeito preventivo, em termos de casos de actos contra a integridade física das pessoas.
 
Os bens e as pessoas devem ser protegidos nos termos da lei. Faz bem o Estado produzir legislação que salvaguarde direitos e interesses legítimos dos cidadãos. Mas não basta apenas existirem leis bem feitas a prever penalidades para os que tenham condutas criminosas. É importante que existam acções preventivas, a fim de se evitarem os problemas.

Em consequência da violência doméstica têm ocorrido mortes e é dever de todos nós defender um bem fundamental que é vida. A defesa da vida não cabe apenas às autoridades policiais ou aos Tribunais. Os cidadãos devem colaborar denunciando todos os que possam pôr em perigo a vida das pessoas, mesmo nos seus lares.

Que continue a haver uma ampla divulgação da Lei Contra a Violência Doméstica, para que as pessoas possam conhecer o seu conteúdo, a fim de contribuírem para o combate contra todos os que põem em perigo a integridade física das pessoas. Que o Ministério da Família e Promoção da Mulher prossiga no seu papel de divulgação de valores morais e cívicos para que tenhamos em Angola lares com muita harmonia e paz.

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