Mariana Cabral -
Expresso
Ex-primeiro-ministro
lamenta "continuação de um pântano e deterioração das condições
políticas" com uma remodelação que foi "imposta" a Passos Coelho.
"Tudo isto foi mau demais". José Sócrates não poupou nenhum dos
intervenientes da crise política atual, criada "de forma irresponsável e
degradante", hoje à noite, no seu espaço de comentário habitual na RTP1.
"Acho que
ficámos muito pior do que estávamos", opinou o ex-primeiro-ministro.
"Isto é a continuação de um pântano e a deterioração das condições
políticas. Temos um vice-primeiro-ministro que troca a sua palavra por um pouco
de poder", acrescentou, referindo-se a Paulo Portas.
"Temos uma
coligação invertida porque os principais dossiês do país foram entregues ao
CDS", explicou, considerando que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros
não saiu nada bem deste "folhetim".
"O que tenho
para dizer de Paulo Portas não é nada lisonjeiro. É um bailarino que acabaria
por tropeçar nos seus próprios pés", exemplificou. "Na carta que
escreveu houve três palavras-chave: irrevogável, consciência e dissimulação.
Uma carta destas não tem volta atrás. O nível de credibilidade de Paulo Portas
está neste momento reduzido a zero".
"Quando li
este pedido de demissão achei que Paulo Portas tinha acertado na mouche",
disse, surpreendido com o aparente desfecho da crise política.
O
"cinismo" de Vítor Gaspar
Antes, José
Sócrates também já tinha criticado Vítor Gaspar, cuja saída demonstrou que
"ao longo destes dois anos o resultado do Governo é de falhanço" e
cuja carta de demissão teve "um notável cinismo" que não é
"próprio de um governante".
"Deixou
algumas alfinetadas. O ministro das Finanças nunca achou que houvesse nem
liderança nem coesão no Governo", afirmou o ex-líder do PS, assumindo que
também não crê que Passos Coelho seja um líder.
"O
primeiro-ministro revelou uma completa impreparação e incapacidade",
disse, não percebendo como é que, sabendo da vontade de demissão de Vítor
Gaspar há oito meses, Passos Coelho "teve uma escolha fraca",
referindo-se à nomeação de Maria Luís Albuquerque para a pasta das Finanças.
"Não tem
dimensão política para ser ministra das Finanças. Está fragilizada pelo dossiê
Swap, por não ter dito a verdade no Parlamento e porter um voto de desconfiança
do vice-primeiro-ministro".
"Esta
remodelação é uma vergonha"
Por fim, o
Presidente da República, que Sócrates crê que irá aprovar a proposta para o
'novo' Executivo. "Confirmou-se como protetor e seguro deste
Governo", afirmou, acrescentando que Cavaco deveria ter adiado a tomada de
posse de Maria Luís Albuquerque quando foi informado da demissão de Paulo
Portas. "Foi um enxovalho para as instituições portuguesas".
O socialista
concluiu que ninguém demonstrou "o mínimo de sentido de Estado" em
toda a crise. Para o PSD, "esta remodelação é uma vergonha" e, para o
país, a situação é ainda pior, diz. "Não auguro nada de bom para esta
governação".
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