terça-feira, 9 de julho de 2013

Portugal: UMA SEMANA QUE DESACREDITOU O PAÍS





1- Toda a gente pensava - e dizia, com mais ou menos razão - que o Governo estava moribundo e que a política de austeridade, além de ser uma desgraça para Portugal, nos levaria de mal a pior. Assim tem sido, como se tem visto.

Entretanto, veio a bomba da demissão de Vítor Gaspar, com uma carta para o primeiro-ministro, especialmente bem escrita, a dizer que tinha errado, sem remédio, sem o apoio necessário do primeiro-ministro. A carta, note-se, foi divulgada pelo seu autor.

Seria que a política financeira e económica, mal conhecida pelos portugueses, ia mudar? Não! Visto que o primeiro-ministro nomeou como ministra das Finanças a antiga secretária de Estado de Gaspar, Maria Luís Albuquerque, extremamente próxima do anterior ministro. Quer dizer: com a demissão de Gaspar nada iria mudar, não obstante a nova ministra ser uma pessoa polémica, dado que tinha mentido, mais de uma vez, no Parlamento.

Passos Coelho não perdeu tempo e pediu ao seu amigo e aliado (de agora, note-se), o Presidente Cavaco Silva, para lhe dar posse imediata - o que aconteceu, estando pouca gente, o que faz pensar que nem todo o Governo foi posto ao corrente.

Ao que parece, ainda a cerimónia não tinha acabado quando rebentou outra bomba: o discurso, completamente inesperado, de Paulo Portas a demitir-se. Também não avisou ninguém nem sequer os seus companheiros mais próximos do partido e membros do Governo. Um discurso bem estruturado, dito pelo autor como irrevogável, que deixou o País entusiasmado. Porque representava o fim de um Governo moribundo, há semanas completamente paralisado.

Direi que esta segunda bomba foi maior do que a primeira. Porque sem os votos do CDS-PP, o Governo perderia a maioria, o que implicava a sua queda automática.

Contudo, o discurso de Paulo Portas foi feito sem dizer nada aos seus companheiros do partido, nem sequer os informou. Souberam tudo pela televisão e pela rádio. Estranha posição de um líder que ignora os seus pares e que talvez julgue que só o que ele diz é o que conta. Enganou-se redondamente, porque os protestos dos membros do CDS-PP não se fizeram esperar... Mesmo dos mais próximos e sobretudo dos dois membros do Governo: Assunção Cristas e Mota Soares.

Perante esta invulgar situação, completamente absurda, o primeiro-ministro, Passos Coelho, não perdeu tempo. E começou por dizer que não aceitava a demissão de Portas, como se alguém, em democracia, pudesse dizer não a um ministro que se demite.

E assim começou a "ópera bufa", como lhes chamaram, das conversas mais ou menos clandestinas entre os três protagonistas principais: Portas, Passos Coelho e Cavaco Silva, este último em silêncio, como de costume, ouvindo e calando.

Até que veio a notícia, depois de muitos boatos e rumores, de que, afinal, Portas aceitava ficar no Governo. Foi na sexta-feira ao fim da tarde. Mas onde, em que pasta e porquê? Ter-se-á arrependido do discurso que fez por estar embriagado ou qualquer outra razão singular?

A verdade é que as conversações entre Passos Coelho e Paulo Portas se prolongaram durante dois ou três dias e finalmente, depois de o primeiro-ministro ouvir várias vezes o Presidente, Cavaco Silva, chegou-se a acordo: Paulo Portas deu o dito pelo não dito e afinal deixou cair o que era irrevogável. Ficou no Governo, ao que diz oDiário de Notícias, como "vice" de Passos Coelho, entrando mais membros do CDS-PP para o Governo.

No entanto, os mercados pronunciaram-se, as bolsas caíram a pique, os juros aumentaram e as agências de rating perceberam finalmente que o Governo português não tinha consistência política e social nenhuma. E é incapaz de ter alguma ideia de mudança.

O Presidente, Cavaco Silva, parece ter gostado da solução, embora tenha continuado em silêncio. A legitimar este Governo, apesar de totalmente desacreditado pela imprensa internacional e pelos portugueses, porque o Presidente não quer é que lhe ponham "o menino nos braços" (ou seja o Governo)...

No sábado passado foi vaiado outra vez pelas duas centrais sindicais em conjunto e por representantes de diversos partidos, mas de janelas fechadas no seu palácio, não deve ter ouvido as vaias, como de costume. E depois de ter falado na Europa, não parece ter dado conta das vaias que lhe fizeram e que se transmitem cada vez mais aos portugueses desempregados e mesmo com emprego, que o detestam. Nunca se viu, desde o 25 de Abril, um Presidente tão impopular.

Entretanto, alguém desapareceu: a jovem ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que se retirou para parte incerta. Ainda é ministra ou já não, devido ao novo aparelho governamental que está a ser fabricado por Passos Coelho e Paulo Portas? Ninguém sabe responder, se calhar nem a própria...

Nestes poucos dias, o atual Governo perdeu completamente o crédito. A imprensa internacional assim o escreveu. E a troika está já a fazê-lo sentir. Assim não! Não há qualquer base social de apoio. Acontece que a verdade vem sempre à tona de água. Será que Cavaco Silva continua a pensar no pós-troika, daqui a vários anos, e não pensa no descrédito total de um Governo que, ao contrário do que julga, vai de mal a pior e em pouco tempo tudo lhe vai cair em cima, sem remédio? Alguém com um mínimo de senso acredita que o Governo que aí vem, mais desprestigiado do que nunca, com ou sem Portas, não terá ficado totalmente desacreditado nos últimos dias?

Que gente mais incompetente, desacreditada e incapaz! Esperem pelo que aí vem. Porque os portugueses estão fartos e começam a pensar que sem alguma violência as coisas irão sempre de mal a pior. O Presidente que se cuide também... Com este Governo pobre e incapaz, de que ninguém gosta e que nesta semana ficou completamente desfeito, sobretudo no contexto internacional.

Realmente, como é que os mercados podem acreditar num Governo que não tem qualquer base social de apoio e os partidos da coligação, como se tem visto, não têm qualquer impacte na população, sendo que o partido maioritário, o PSD, na sua esmagadora maioria, não se revê no seu partido e que os candidatos às próximas eleições autárquicas se dizem "independentes" para as poderem ganhar...

A composição do Governo refeito não é ainda conhecida, mas parece ter mais representantes do CDS-PP do que sociais-democratas. Tirando a ministra das Finanças, que tendo desaparecido fica agora dependente do seu antagonista, Paulo Portas. Que interessante composição... Ninguém pode esperar nada de uma tal equipa, morta antes de nascer.

2 - TEMOS ESPERANÇA NO NOVO PATRIARCA?

No último domingo, realizou-se a primeira missa de D. Manuel Clemente, atual patriarca, no Mosteiro dos Jerónimos. Havia a esperança de ser um novo impulso para a Igreja portuguesa, muito mais aberta do que a espanhola e mais próxima do pensamento do novo Papa Francisco.

Mas não foi. A missa, instrumentalizada pelo Governo moribundo que temos, tornou-se uma vergonha inaceitável. A presença do Presidente da República, nada discreta, de Passos Coelho e de Paulo Portas e mais a claque dos capangas que lá puseram para bater palmas aos políticos presentes resultou num escândalo. Nenhum católico verdadeiro pode aceitar uma tal humilhação a que sujeitaram o patriarca, que, julgo, não a merecia. Mas a verdade é que não reagiu e pelo contrário parecia satisfeito, como se viu na televisão.

Se a Igreja não deve intrometer-se na política, a verdade é que os políticos também não devem aproveitar-se da Igreja para fazerem propaganda. Teremos voltado ao tempo triste do fascismo?

Foi o que aconteceu, sem que o senhor patriarca tivesse reagido minimamente. Começou muito mal com a sua primeira missa. Direi mesmo que foi uma vergonha que infelizmente o vai marcar negativamente perante os católicos sinceros e progressistas, sem falar dos leigos, como eu, que se lembram bem dos tempos em que o fascismo utilizava a religião...

Não sei agora como é que o senhor patriarca vai falar dos desempregados e dos pobres, quando deixou que os responsáveis por essa desgraça nacional fossem aplaudidos nessa primeira missa, obviamente organizada pelos políticos, como está à vista, quando são vaiados sempre que se atrevem a aparecer na rua.

É óbvio que uma Igreja como o Mosteiro dos Jerónimos é um local sagrado. Não se compreende assim que o novo patriarca, que é uma pessoa culta e experiente, deixasse que os políticos presentes fossem aplaudidos sem que ele, patriarca, lhes lembrasse que a Igreja onde estavam é um lugar sagrado, não é um lugar próprio para esse tipo de manifestações políticas. Começou mal, muito mal, as suas novas funções, como o povo católico mais humilde vai compreender.

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