segunda-feira, 15 de julho de 2013

“Ukusa” e “Echelon”, ou a base da capacidade “inteligente” do poder hegemónico - I



Martinho Júnior, Luanda

A vitória dos aliados na IIª Guerra Mundial, sobre as potências do Eixo, foi sentida como um passo importante na construção da humanidade, pelas implicações que isso trazia não só para a liberdade e a democracia, mas também para o espaço em aberto na tentativa de encontrar soluções mais exequíveis, para que os níveis de desenvolvimento humano, se pudessem estabelecer duma maneira muito mais justa, solidária e compartilhada que antes, de modo a que a vida no planeta pudesse fruir num maior equilíbrio, tanto em relação aos factores humanos propriamente ditos, como em relação aos factores geográfico-físico-ambientais.

Fenómenos como aqueles que se identificavam com a perseguição aos judeus, com o holocausto, foram sentidos pouco a pouco, por toda a humanidade, como um caminho proibido, contra natura, que estavam na origem da barbárie medieval que dominava as relações sociais e psicológicas entre os seres humanos e as relações internacionais entre os estados, as nações e os povos, a que urgia pôr cobro.

As expectativas então criadas e as ideias construtivas que animaram a filosofia e a história, permitiam supor que o homem podia encontrar soluções capazes de se sublimar e mobilizando esforços e vontades, se pudesse dar início à construção da aldeia comum que é o planeta Terra, garantindo a satisfação e melhores condições de guarida e de vida a todos os seres que compõem a própria natureza cognoscível.

As lições do post IIª Guerra Mundial, conduzem-nos contudo e cada vez mais para um beco sem saída, que contraria com toda a evidência essas salutares expectativas:

A concentração do poder económico e financeiro numa aristocracia que detém a capacidade de gerir os relacionamentos causa-efeito, por dentro do processo cultural que mexe com toda a Humanidade e com todo o planeta, mantendo conjunturas que correspondem aos interesses da elite de que são substância, acarretou num conjunto muito grande de falências, que historicamente passaram primeiro pela deriva da utopia socialista de potências como a URSS, depois pela falência progressiva dos padrões que se lhe foram seguindo, no fundo resultantes da polarização entre um punhado de nações consideradas de desenvolvidas e a esmagadora maioria de povos e de nações que, de manipulação em manipulação, foram sobrevivendo ou vegetando em estágios de subdesenvolvimento crónico, ou de dependência, um subdesenvolvimento ou dependência que nutrem também, quantas vezes, a medula dos próprios estados atirados para essas condições extremas, estados artificiosos, estados “inertes”, estados desajustados, estados “fracos”, estados desenquadrados das raízes sócio-culturais em relação aos povos de que são ao mesmo tempo emanação e elemento tutor e sobrevivendo num quadro geo estratégico que, logo à partida, é ditado pela filiação ao contínuo exercício do poder das potências e dos consórcios multinacionais.

A aristocracia financeira Mundial, se foi criando Revoluções Tecnológicas atrás de Revoluções Tecnológicas, valorizando sempre a economia, a tecnologia e as finanças, subvalorizando sempre a vida, a sociedade e o ambiente, em vez de promover a busca incessante de solidariedade e de equilíbrio, acabou por radicalizar os termos da competição capitalista, determinando não só a utopia do estado totalitário socialista, mas também a fatalidade das regras do jogo num contexto capitalista, começando por instrumentalizar o poder das potências e mantendo a gestão da imensa maioria segundo padrões, métodos, processos e técnicas que tocam as características e as práticas da Idade Média, conforme ao que se foi assistindo na época da Guerra Fria e com o que temos presenciado com a globalização que em tempo se lhe seguiu.

Pouco depois do final da IIª Guerra Mundial os aliados, aqueles que foram imbuídos a manter um “modelo” Ocidental e anglófono, em função das características globais resultantes da própria IIª Guerra Mundial decidiram, correspondendo às orientações emanadas dos “think tanks” de conveniência das elites como o “Council on Foreign Relations”, dar início à construção da comunidade de inteligência com raio de acção planetário, criando as condições optimizadas para o exercício do poder hegemónico sobre toda a humanidade e a qualificação das capacidades geo estratégias exclusivas aos interesses endógenos dessas elites.

Essa decisão, tirou historicamente partido das características planetárias do império colonial britânico:

Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, estabeleceram uma aliança secreta para o tratamento de informação à escala planetária, explorando as novas tecnologias que foram surgindo: o rádio, o foguetão, o satélite, o computador, as comunicações, dando início ao contexto do sistema UKUSA (nome por que é conhecida essa aliança secreta, redundante da definição “United Kingdom” + “United States of América”).

As Agências que se tornaram membros actuantes desde o início, em finais da década de 40, foram:

- A Norte Americana “National Security Agency” (“NSA).
- A Britânica “Government Communications Headquarters” (“GCHQ”).
- A Canadiana “Communications Security Estabelishment” (“CSE).
- A Australiana “Defence Signals Directorate” (“DSD”).
- A Neo Zelandesa “Government Communications Security Bureau” (“GCSB”).

Alguns outros Estados considerados desenvolvidos, como a Alemanha, o Japão, a Noruega, a Coreia do Sul e a Turquia, vieram a engrossar “a posteriori” a comunidade “SIGINT”, ou seja a rede de tratamento de informações obtidas através da intercepção e captação de sinais de emissão rádio, em todo o globo, em conexão com o sistema UKUSA, que se manteve essencialmente dominado pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha.

A repartição das tarefas foi feita explorando as Regiões de implantação de cada espaço nacional-territorial, da implantação das técnicas e no quadro dum concerto de geo estratégias tentaculares, tendo como vértice da pirâmide a potência que, ao longo dos decénios seguintes se veio a tornar na potência hegemónica.

A Guerra Fria, por parte dos países de orientação capitalista “Ocidentais” teve no âmbito da aliança estratégica UKUSA, a possibilidade de estabelecer técnicas e instrumentos que criaram a capacidade de gerir a resposta de um dos campos, em matéria de inteligência, a partir da pesquisa, intercepção, valorização de sinais e de dados resultantes da exploração das comunicações do que era considerado campo adverso.

A década de 70 foi decisiva para o apuramento dessa capacidade de inteligência e, entre os muitos documentos que foram criados a fim de reger o exercício desse poder, está a Directiva nº 6 do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com data de 23 de Dezembro de 1971 (“nº S-5100.20”) dirigida para o “National Security Agency” e o “Central Security Service”, tendo como referência o “National Security Council Intelligence”.

A partir dessa Directiva, à medida que as tecnologias foram evoluindo tendo como proveito o aumento das capacidades de obtenção da informação, foram sendo estabelecidos os propósitos, os conceitos, as definições, as regras de aplicabilidade, os modelos e características das organizações, o inventário e mobilização dos meios e dos recursos, a distribuição dos papeis, das responsabilidades e das funções, o quadro da autoridade e de relacionamentos, assim como o exercício administrativo adequado à monitorização de todo o espectro de componentes estruturais e equipamentos, de forma a que fosse possível chegar ao “patamar” tecnológico-conceptual do ECHELON.

O ECHELON tornou-se assim no sucedâneo tecnológico da aliança UKUSA, como processo de inteligência típico da época de globalização que à escala planetária, utilizando métodos secretos e mobilizando as capacidades das Agências acima referenciadas, em reforço da potência hegemónica e do exercício do seu poder, acompanhou o dinamismo só possível com as novas tecnologias, possibilitando a intercepção e escuta das comunicações telefónicas, de fax, de telex e de email em todo o mundo, bem como o tratamento das mensagens e o seu processamento analítico em tempo real, de acordo com os automatismos programados, segundo os quesitos e interesses que forem estabelecidos.

Foi o “NSA” que o foi concebendo, o tem desenvolvido e o coordena, extrapolando-o na sua capacidade virtual de utilização para alvos não militares, como governos, empresas e negócios, instituições de toda a ordem, bem como individualidades de interesse, conforme as pesquisas do perito-analista Nicky Hager, autor do livro “O poder secreto” e do artigo publicado no “Cover Action Quarterly” subordinado ao tema “Expondo o Sistema de Vigilância Global”:

… “Milhares de mensagens simultâneas são lidas em tempo real, seja quando elas são feitas em e-mail, ou quando são transmitidas com a utilização do fax. O sistema funciona interceptando uma enorme quantidade de comunicações e usando computadores para identificar e extrair as mensagens de interesse da enorme massa daquelas que foram alvo da exploração. A cadeia dos equipamentos de intercepção foi estabelecida em todo o mundo de forma a cobrir os maiores componentes das redes de telecomunicações internacionais, uma parte em função da capacidade de escuta-intercepção a partir dos satélites, uma outra parte da capacidade a partir de estações terrestre, incluindo com o recurso aos meios rádio. O ECHELON conecta todos esses equipamentos, fornecendo aos Estados Unidos e aos seus aliados as possibilidades de intercepção sobre uma enorme proporção das comunicações no Planeta”.

(Continua)

Artigo elaborado a 15 de Março de 2003 e publicado, na altura, no semanário Actual.

Leia mais relacionados no PG em MARTINHO JÚNIOR

1 comentário:

Anónimo disse...

CONSTATE-SE NO PÁGINA UM:

O ECHELON ACTUA EM PLENA ONU - http://pagina--um.blogspot.com/2010/09/o-echelon-actua-em-plena-onu.html

13 de Setembro de 2010.

16 de Julho de 2013 às 14:58

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