Martinho Júnior,
Luanda
A vitória dos aliados
na IIª Guerra Mundial, sobre as potências do Eixo, foi sentida como um passo
importante na construção da humanidade, pelas implicações que isso trazia não
só para a liberdade e a democracia, mas também para o espaço em aberto na
tentativa de encontrar soluções mais exequíveis, para que os níveis de
desenvolvimento humano, se pudessem estabelecer duma maneira muito mais justa,
solidária e compartilhada que antes, de modo a que a vida no planeta pudesse
fruir num maior equilíbrio, tanto em relação aos factores humanos propriamente
ditos, como em relação aos factores geográfico-físico-ambientais.
Fenómenos como
aqueles que se identificavam com a perseguição aos judeus, com o holocausto,
foram sentidos pouco a pouco, por toda a humanidade, como um caminho proibido,
contra natura, que estavam na origem da barbárie medieval que dominava as
relações sociais e psicológicas entre os seres humanos e as relações
internacionais entre os estados, as nações e os povos, a que urgia pôr cobro.
As expectativas
então criadas e as ideias construtivas que animaram a filosofia e a história,
permitiam supor que o homem podia encontrar soluções capazes de se sublimar e
mobilizando esforços e vontades, se pudesse dar início à construção da aldeia
comum que é o planeta Terra, garantindo a satisfação e melhores condições de
guarida e de vida a todos os seres que compõem a própria natureza cognoscível.
As lições do post
IIª Guerra Mundial, conduzem-nos contudo e cada vez mais para um beco sem
saída, que contraria com toda a evidência essas salutares expectativas:
A concentração do
poder económico e financeiro numa aristocracia que detém a capacidade de gerir
os relacionamentos causa-efeito, por dentro do processo cultural que mexe com
toda a Humanidade e com todo o planeta, mantendo conjunturas que correspondem
aos interesses da elite de que são substância, acarretou num conjunto muito
grande de falências, que historicamente passaram primeiro pela deriva da utopia
socialista de potências como a URSS, depois pela falência progressiva dos
padrões que se lhe foram seguindo, no fundo resultantes da polarização entre um
punhado de nações consideradas de desenvolvidas e a esmagadora maioria de povos
e de nações que, de manipulação em manipulação, foram sobrevivendo ou vegetando
em estágios de subdesenvolvimento crónico, ou de dependência, um
subdesenvolvimento ou dependência que nutrem também, quantas vezes, a medula
dos próprios estados atirados para essas condições extremas, estados
artificiosos, estados “inertes”, estados desajustados, estados “fracos”,
estados desenquadrados das raízes sócio-culturais em relação aos povos de que
são ao mesmo tempo emanação e elemento tutor e sobrevivendo num quadro geo
estratégico que, logo à partida, é ditado pela filiação ao contínuo exercício
do poder das potências e dos consórcios multinacionais.
A aristocracia
financeira Mundial, se foi criando Revoluções Tecnológicas atrás de Revoluções
Tecnológicas, valorizando sempre a economia, a tecnologia e as finanças,
subvalorizando sempre a vida, a sociedade e o ambiente, em vez de promover a
busca incessante de solidariedade e de equilíbrio, acabou por radicalizar os
termos da competição capitalista, determinando não só a utopia do estado
totalitário socialista, mas também a fatalidade das regras do jogo num contexto
capitalista, começando por instrumentalizar o poder das potências e mantendo a
gestão da imensa maioria segundo padrões, métodos, processos e técnicas que
tocam as características e as práticas da Idade Média, conforme ao que se foi
assistindo na época da Guerra Fria e com o que temos presenciado com a
globalização que em tempo se lhe seguiu.
Pouco depois do
final da IIª Guerra Mundial os aliados, aqueles que foram imbuídos a manter um “modelo”
Ocidental e anglófono, em função das características globais resultantes da
própria IIª Guerra Mundial decidiram, correspondendo às orientações emanadas
dos “think tanks” de conveniência das elites como o “Council on Foreign
Relations”, dar início à construção da comunidade de inteligência com raio de
acção planetário, criando as condições optimizadas para o exercício do poder
hegemónico sobre toda a humanidade e a qualificação das capacidades geo
estratégias exclusivas aos interesses endógenos dessas elites.
Essa decisão, tirou
historicamente partido das características planetárias do império colonial
britânico:
Os Estados Unidos,
a Grã-Bretanha, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, estabeleceram uma
aliança secreta para o tratamento de informação à escala planetária, explorando
as novas tecnologias que foram surgindo: o rádio, o foguetão, o satélite, o
computador, as comunicações, dando início ao contexto do sistema UKUSA (nome
por que é conhecida essa aliança secreta, redundante da definição “United
Kingdom” + “United States of América”).
As Agências que se
tornaram membros actuantes desde o início, em finais da década de 40, foram:
- A Norte Americana
“National Security Agency” (“NSA).
- A Britânica “Government
Communications Headquarters” (“GCHQ”).
- A Canadiana “Communications
Security Estabelishment” (“CSE).
- A Australiana “Defence
Signals Directorate” (“DSD”).
- A Neo Zelandesa “Government
Communications Security Bureau” (“GCSB”).
Alguns outros
Estados considerados desenvolvidos, como a Alemanha, o Japão, a Noruega, a
Coreia do Sul e a Turquia, vieram a engrossar “a posteriori” a comunidade “SIGINT”,
ou seja a rede de tratamento de informações obtidas através da intercepção e
captação de sinais de emissão rádio, em todo o globo, em conexão com o sistema
UKUSA, que se manteve essencialmente dominado pelos Estados Unidos e
Grã-Bretanha.
A repartição das
tarefas foi feita explorando as Regiões de implantação de cada espaço
nacional-territorial, da implantação das técnicas e no quadro dum concerto de
geo estratégias tentaculares, tendo como vértice da pirâmide a potência que, ao
longo dos decénios seguintes se veio a tornar na potência hegemónica.
A Guerra Fria, por
parte dos países de orientação capitalista “Ocidentais” teve no âmbito da
aliança estratégica UKUSA, a possibilidade de estabelecer técnicas e
instrumentos que criaram a capacidade de gerir a resposta de um dos campos, em
matéria de inteligência, a partir da pesquisa, intercepção, valorização de
sinais e de dados resultantes da exploração das comunicações do que era
considerado campo adverso.
A década de 70 foi
decisiva para o apuramento dessa capacidade de inteligência e, entre os muitos
documentos que foram criados a fim de reger o exercício desse poder, está a
Directiva nº 6 do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com data de 23 de
Dezembro de 1971 (“nº S-5100.20”) dirigida para o “National Security Agency” e
o “Central Security Service”, tendo como referência o “National Security
Council Intelligence”.
A partir dessa
Directiva, à medida que as tecnologias foram evoluindo tendo como proveito o
aumento das capacidades de obtenção da informação, foram sendo estabelecidos os
propósitos, os conceitos, as definições, as regras de aplicabilidade, os
modelos e características das organizações, o inventário e mobilização dos
meios e dos recursos, a distribuição dos papeis, das responsabilidades e das
funções, o quadro da autoridade e de relacionamentos, assim como o exercício
administrativo adequado à monitorização de todo o espectro de componentes
estruturais e equipamentos, de forma a que fosse possível chegar ao “patamar” tecnológico-conceptual
do ECHELON.
O ECHELON tornou-se
assim no sucedâneo tecnológico da aliança UKUSA, como processo de inteligência
típico da época de globalização que à escala planetária, utilizando métodos
secretos e mobilizando as capacidades das Agências acima referenciadas, em
reforço da potência hegemónica e do exercício do seu poder, acompanhou o
dinamismo só possível com as novas tecnologias, possibilitando a intercepção e
escuta das comunicações telefónicas, de fax, de telex e de email em todo o
mundo, bem como o tratamento das mensagens e o seu processamento analítico em
tempo real, de acordo com os automatismos programados, segundo os quesitos e
interesses que forem estabelecidos.
Foi o “NSA” que o
foi concebendo, o tem desenvolvido e o coordena, extrapolando-o na sua
capacidade virtual de utilização para alvos não militares, como governos,
empresas e negócios, instituições de toda a ordem, bem como individualidades de
interesse, conforme as pesquisas do perito-analista Nicky Hager, autor do livro
“O poder secreto” e do artigo publicado no “Cover Action Quarterly” subordinado
ao tema “Expondo o Sistema de Vigilância Global”:
… “Milhares de
mensagens simultâneas são lidas em tempo real, seja quando elas são feitas em e-mail,
ou quando são transmitidas com a utilização do fax. O sistema funciona
interceptando uma enorme quantidade de comunicações e usando computadores para
identificar e extrair as mensagens de interesse da enorme massa daquelas que
foram alvo da exploração. A cadeia dos equipamentos de intercepção foi
estabelecida em todo o mundo de forma a cobrir os maiores componentes das redes
de telecomunicações internacionais, uma parte em função da capacidade de
escuta-intercepção a partir dos satélites, uma outra parte da capacidade a
partir de estações terrestre, incluindo com o recurso aos meios rádio. O
ECHELON conecta todos esses equipamentos, fornecendo aos Estados Unidos e aos
seus aliados as possibilidades de intercepção sobre uma enorme proporção das
comunicações no Planeta”.
(Continua)
Artigo elaborado a
15 de Março de 2003 e publicado, na altura, no semanário Actual.
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1 comentário:
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O ECHELON ACTUA EM PLENA ONU - http://pagina--um.blogspot.com/2010/09/o-echelon-actua-em-plena-onu.html
13 de Setembro de 2010.
16 de Julho de 2013 às 14:58
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