Aliados a
monarquias medievais, EUA querem ampliar seu poder geopolítico no Oriente
Médio: eis o real motivo da escalada contra Damasco
Tariq Ali, no London Review of Books -
Tradução: Vinícius Gomes – Outras Palavras
O objetivo da
“guerra limitada” organizada pelos EUA e seus vassalos europeus é simples. O
regime sírio estava lentamente restabelecendo seu controle sobre o país, contra
a oposição armada pelo Ocidente e seus Estados tributários na região (Arábia
Saudita e Qatar). Essa situação exigia correção. Nessa deprimente guerra civil,
era preciso fortalecer militar e psicologicamente a oposição.
Desde quando Obama
afirmou que as armas químicas era a “linha-limite”, era claro que elas seriam
utilizadas. Cui prodest? como costumavam perguntar os romanos. Quem se
beneficia? Claramente, não o regime sírio.
Há várias semanas,
dois jornalistas do Le Monde já tinham descoberto as armas químicas. A questão
é: de fato foram usadas, quem as lançou? O governo Obama e seus seguidores
gostariam que acreditássemos no seguinte enredo: Assad permitiu que os
inspetores de armas químicas da ONU entrassem na Síria; então, anunciou a
chegada deles lançando um ataque de armas químicas contra mulheres e crianças,
a mais ou menos 15 quilômetros do hotel onde estavam hospedados. Isso
simplesmente não faz sentido. Quem, então, cometeu a atrocidade?
No Iraque, sabemos
que foram os EUA a utilizar “fósforo branco” em Fallujah, em 2004 (não havia
“linhas-limites” exceto aquelas traçadas no chão por sangue iraquiano).
Portanto, a justificativa é tão turva quanto nas guerras anteriores.
Desde a invasão e
guerra no Iraque, o mundo árabe está dividido entre sunitas e xiitas. Apoiando
a invasão à Síria estão dois velhos conhecidos: Arábia Saudita e Israel. Ambos
querem o regime do Irã destruído. Os sauditas, por disputas de facção; os
israelenses, por estarem desesperados para acabar com o Hezbollah. Esse é o
grande objetivo que têm em mente e Washington, após resistir por um tempo, está
voltando a considerá-lo. Bombardear a Síria é o primeiro passo. (…)
Os iranianos
reagiram fortemente e ameaçaram retaliação apropriada. Pode ser um blefe, mas o
que isso revela é que até o novo líder “moderado”, prestigiado pela mídia
ocidental, assumiu posição não distinta à de Ahmadinejad. Teerã compreende bem
o que está em jogo e por quê. Cada uma das intervenções ocidentais no mundo
árabe e seus arredores tornou as condições piores. Os ataques que estão sendo
planejados pelo Pentágono e suas filiais na OTAN provavelmente terão o mesmo
padrão.
Enquanto isso, no
Egito, um Pinochet árabe está restaurando a “ordem” da velha maneira violenta
já consagrada e com o apoio dos líderes, ligeiramente constrangidos, do
conglomerado EUA/Europa.
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