quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Brasil: PREGOS E ESTOPAS

 


Rodolpho Motta Lima* – Direto da Redação
 
Parto hoje de uma coluna de “O Globo”, não pela importância que atribua ao jornal, mas porque alguns de seus colaboradores exemplificam claramente, com sua posições, o pensamento do neoliberalismo nacional (ou será melhor dizer “antinacional”?).
 
No dia 08.08.2013, Merval Pereira tentou justificar a pisada na bola que deu ao afirmar que a confirmação das falcatruas do tucanato com a Siemens e outras empresas seria “o pior dos mundos para a democracia”. Defendendo-se da acusação de que teria deixado implícito que a corrupção “boa” para a democracia seria a do PT, Merval chamou seus críticos de “pseudojornalistas a serviço do governo petista”. Talvez tenha cometido, então, um segundo ato falho, pois essa afirmação permite que se faça o mesmo juízo de valor a respeito de jornalistas que, como ele, poderiam estar a serviço dos partidos de oposição ao PT.
 
Em princípio, é saudável que os órgãos “globais” estejam falando do assunto, ainda que se possa supor que só o fizeram pressionados por denúncias anteriormente feitas por outras mídias. Prefiro, contudo, aguardar o desenvolvimento dos acontecimentos, porque também pode ser que esteja em curso estratégia que, ao fim, pretenda beneficiar alguém nesse nosso complexo jogo político-eleitoral. Quando jovem, ouvi muitas vezes o dito popular “Ele não prega prego sem estopa”, para caracterizar uma pessoa cujas atitudes objetivas trazem sempre uma finalidade não declarada. É esperar para ver.
 
A propósito desse jogo político, aliás, acho que se enganam os que imaginam que Dilma entrará enfraquecida na disputa. Em primeiro lugar, porque ela contará com seus próprios méritos, consubstanciados na continuidade de um projeto empenhado na redução das desigualdades e na inclusão social. Em segundo plano, porque o quase único programa político da assim chamada oposição tem como mantra o combate à corrupção, que agora, ironicamente, atinge de cheio os baluartes tucanos, a mostrar que o nosso problema nesse âmbito é endêmico, visceral, quase generalizado, resultante de uma estrutura fundada no lucro, no capital, no mercado.
 
Evidentemente, não se pode considerar que o atual Governo seja imune a críticas. Ele tem problemas, é certo. No sistema político, não há vestais, e o primeiro desses problemas decorre de uma série de ligações pouco aceitáveis, composições paradoxais, comprometimentos nem sempre republicanos, tudo em nome da malfadada “governabilidade”. O nosso poder legislativo há muito está na boca do povo e, seguramente, não com adjetivos favoráveis. Há uma chantagem permanente nos movimentos dos nossos deputados e senadores, que, de forma surreal, colocam em primeiro lugar os seus interesses – confessados ou inconfessáveis – deixando de votar o que interessa aos cidadãos que os elegeram. Fatos como o “mensalão”, certamente, derivam desse panorama.
 
É realmente um problema sério, comprometedor dos interesses nacionais, a existência de um Executivo cercado de não confiáveis por todos os lados, na chamada “base governamental”, fruto de uma estrutura política que tem que ser urgentemente reformada. Mas há também a inação de Dilma com relação a essa mídia que manipula informações e atua diuturnamente contra o Governo que, de forma inaceitável, financia seus detratores com expressivas verbas publicitárias, abrindo mão da colocação em pauta, como primordial, da chamada Lei dos Meios.
 
Apesar de tudo, é favorável o saldo dos últimos governos comprometidos com causas populares. O país vem experimentando uma nova realidade social, fruto de ações políticas cujos resultados estão aparecendo claramente, digam o que disserem os nossos conhecidos urubus. Embora ainda falte muita estrada a percorrer para que possamos celebrar a desejável e definitiva inclusão social dos menos favorecidos, não há como negar os avanços já obtidos. A recente divulgação dos índices alcançados no IDH mostra isso. São dados muito mais relevantes para a cidadania do que o sagrado PIB dos economistas, porque revelam que as crianças brasileiras estão morrendo bem menos e os adultos estão vivendo bem mais. E como não há nada mais importante do que a “sempre desejada” vida, os brasileiros têm razões inéditas para se alegrar.
 
A Presidenta, com erros e acertos, não dá mostras de que pretenda se afastar da rota que traçou para seu governo, de combate à pobreza. Vitórias genéricas como essas, visualizáveis no IDH e nunca verificadas nos governos anteriores – que não tinham essa preocupação – se fazem acompanhar de muitos outras medidas de caráter social. Seria inimaginável, no tempo dos governos neoliberais, uma semana em que se anunciassem, simultaneamente, além da queda da mortalidade infantil e do aumento da expectativa de vida dos brasileiros, a sanção de uma lei punitiva para as empresas corruptoras, um índice deflacionário no IPCA, a criação de 239.000 vagas gratuitas em cursos técnicos, um expressivo lucro da Petrobras, a continuidade do programa “mais médicos” ou a inauguração de um moderníssimo Instituto do Cérebro com atendimento exclusivo para os usuários do SUS.
 
É claro que, daqui até outubro de 2014, muitos tomates e pepinos vão ser “plantados” para desestabilizar o Governo. E a mídia hegemônica, essa vai continuar procurando quem possa representar melhor os interesses corporativos que ela defende. Parece que não será fácil continuar com os tucanos, contaminados pela corrupção. São boas as chances de estes serem abandonados. As alternativas, então, passariam por uma Rede em que tudo que cai é peixe ou por ex-aliados que cresceram politicamente graças aos governos do PT, mas que parecem não hesitar em cuspir imoralmente no prato em que comeram. O perigo é inventarem um novo “messias”, um crítico da classe política estilo Collor. Há gente que já percebe, no ar, essa tendência...
 
*Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.
 

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