Deutsche Welle
Representante do
fundador do Wikileaks, Michael Ratner afirma que Snowden errou ao não buscar
refúgio inicialmente na Venezuela. Para ele, o julgamento de Bradley Manning
foi injusto e manda um sinal ao delator da NSA.
Para Michael
Ratner, advogado de Julian Assange nos Estados Unidos, o julgamento do soldado
Bradley Manning enviou uma mensagem clara: a Justiça americana trata os dois –
e o Wikileaks – como parte de uma única conspiração. E vai fazer o possível
para colocá-los atrás das grades.
Em entrevista à DW
Brasil, Ratner admite que Assange e o Wikileaks estão ajudando como podem
Edward Snowden, atualmente em asilo na Rússia, mas nega o estar
representantando juridicamente. Ele deixa, no entanto, um conselho ao delator
do megaesquema de espionagem da Agência de Segurança Nacional: "Fique
longe dos EUA".
Deutsche Welle: O
Wikileaks e Julian Assange vêm ajudando Edward Snowden. Você também representa
Snowden?
Michael Ratner:
Não, nós não representamos Snowden. Julian, é claro, adotou uma posição de
bastante princípio sobre o caso. Como você disse, ele vem sendo aconselhado por
Julian e tem uma pessoa do Wikileaks, Sarah Harrison, o acompanhando.
O que você
aconselharia a Snowden se você fosse o advogado dele?
Desde o início, eu
teria ido imediatamente para outro país que não fosse China e Hong Kong.
Talvez, eu teria ido para a Venezuela. E, agora, os EUA seriam o último lugar
para onde eu iria. Viu-se como Bradley Manning foi tratado: ele vai passar
provavelmente um longo período na prisão. As condições em que ele está preso
são conhecidas e sabe-se quão injusto foi seu processo.
Também é possível
ver que Julian Assange está praticamente preso numa embaixada, vivendo com o
medo de ser extraditado para os EUA, de não obter fiança, de não ter contato
com o mundo exterior e de se submeter a um processo injusto. Assim, o melhor conselho
que eu poderia dar a Edward Snowden é: fique longe dos EUA.
Que recado o
veredicto de Bradley Manning manda para Assange?
Durante o
julgamento, Wikileaks e Julian Assange foram mencionados diversas vezes. Todos
os dias, eles queriam denegrir a imagem do Wikileaks e de Assange ou dizer que
eles foram, praticamente, cúmplices de Bradley Manning. E há um esforço para
diferenciar WikiLeaks e Julian Assange do jornal New York Times.
A única forma que
eles têm para pegar o Wikileaks e Julian Assange é de alguma forma dizer que
eles não são jornalistas, que não são como o New York Times. Os promotores
sabem que têm um problema. Eles talvez queiram processar os editores por
espionagem, mas, pelo menos por agora, parece que isso seria inaceitável nos
EUA.
Essa foi uma parte
assustadora do processo, porque eles estão, claramente, atrás de Assange e do
Wikileaks. O recado do julgamento é o seguinte – levando em conta que para eles
Assange e o Wikileaks são conspiradores: uma parte da conspiração foi
condenada. Se eles não tivessem conseguido isso, naturalmente, um processo
contra o Wikileaks ficaria muito mais difícil.
Só para esclarecer:
nos EUA, nunca houve investigação por espionagem contra jornalistas. Por esse
motivo, você acha que na possível queixa contra Assange está escrito que ele
não é jornalista, para que ele possa ser processado. Certo?
Exatamente. Eles
vão alegar que Julian Assange é um ativista e que as pessoas do Wikileaks não
se encaixam na imagem que os poderosos têm de jornalistas. Até mesmo alguns dos
grandes órgãos de comunicação tentam, desde então, distanciar-se de Assange. O
Ministério Público dos EUA tentará fazer com que um processo contra um editor
se torne aceitável para os cidadãos americanos.
Há mais de um ano,
Julian Assange não pode deixar a Embaixada do Equador em Londres. Você está
otimista sobre o destino dele num futuro próximo?
Otimista? Não sei.
Ele acredita que não vai ficar lá por mais um ano. O ponto decisivo para
Assange é obter uma garantia da Suécia e/ou do Reino Unido de que ele não será
extraditado imediatamente para os EUA quando ele deixar a embaixada. O problema
dele não é a Suécia. Ele está disposto a enfrentar as alegações de assédio
sexual. Mas o problema é que, quando ele for para a Suécia, muito provavelmente
um bilhete somente de ida para os EUA estará esperando por ele.
Mas qual a
possibilidade de que a Suécia e o Reino Unido, com suas estreitas relações com
os EUA, possam garantir que ele não será extraditado?
Até agora, eles não
deram nenhuma garantia. O Reino Unido é muito próximo dos EUA, e também a
Suécia. Os suecos fazem praticamente tudo que os EUA querem. Ou seja, nesse
ponto, ambos os países têm um problema. E no caso de Edward Snowden, vimos o
que é preciso para desafiar os EUA. Edward Snowden teve de fugir para um país
que estava disposto a enfrentar os EUA. E a Rússia estava, em grande parte,
disposta a tal.
O que acha que vai
acontecer a Snowden?
Minha esperança
para Edward Snowdern é de que ele possa viajar para um país de sua escolha. No
momento, esse país parece ser em primeiro lugar a Venezuela. O problema de
Snowden é que será difícil chegar à Venezuela a partir da Rússia, sem que
Washington obrigue o avião a aterrissar à força nos EUA. Essa é a situação dele
agora. Mas ao mesmo tempo, ele é ao menos um homem livre, comparado com aquilo que
poderia acontecer a ele numa prisão secreta americana.
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