Pedro Tadeu – Diário
de Notícias, opinião
António Guterres
comparado com Durão Barroso, deixou saudades. Durão comparado com Santana
Lopes, deixou saudades. Santana comparado com José Sócrates, deixou saudades
(bom, talvez aqui haja uma excepção que confirme a regra...). Sócrates,
comparado com Passos Coelho, deixou saudades. Antóno José Seguro, se tomar o
poder, vai deixar-nos, quase de certeza, com saudades do Passos Coelho que hoje
detestamos.
As teorias sobre as
razões da continuada degradação da classe política podem somar-se: o
carreirismo partidário clientelar; a fraca aprendizagem académica e
profissional fora da vida política; a profissão política mal paga e exposta; um
rotativismo partidário circular que, por isso, perde competência, imaginação e
criatividade; o sistema eleitoral. Há quem alvitre isso, parte disso ou a soma
total disso. Não chega.
Nenhuma daquelas
hipóteses nos dá uma verdadeira resposta: esta degradação no tempo é contínua e
linear e não corresponde ao valor individual, pessoal e profissional de cada
uma das personagens envolvidas, cujo gráfico tem variações, para cima e para
baixo, bem mais dinâmicas do que esta longa e constante linha descendente.
O valor das pessoas
que entra na política está, portanto, a ser esmagado por outra coisa e a
demonstração disso está em termos chegado ao ponto de ser impossível constituir
um governo com homens e mulheres que tenham um passado insuspeito de captura
pelo bloco central de interesses, que construiu uma teia de relações
interdependentes entre o poder político e o poder financeiro, que produz a
falsa harmonia do regime.
A resposta foi
candidamente dada pelo Presidente da República. Para resolver a crise aberta
pelas demissões de Vítor Gaspar e Paulo Portas, Cavaco Silva aceitou abrir a
porta do poder, recorde-se, a quem formalmente cantasse obediência à União
Europeia, ao BCE e ao FMI, o que incluía não haver eleições antes de 2014, a
aceitação de cortes de despesas violentas no Estado e reduções rápidas e
draconianas de défice e de dívida pública.
Isto não é novo.
Desde 1986 a política portuguesa é, apenas e só, a entoação do canône europeu.
Com a chegada do euro, entretanto, o poder central europeu cresceu demasiado e
transformou o palácio de São Bento numa espécie de delegação de Bruxelas e
Berlim.
Este é o verdadeiro
motivo da degradação contínua do pessoal político: não interessa quem está lá,
não interessa o nome do maestro. A pauta é única e até lhe chamam Hino à
Alegria... Em cada mudança de Governo o novo boneco que lá põem a fingir que
dirige a orquestra, que aceita limitar-se a macacaear o boneco anterior, faz
sempre, é fatal, pior figura. Eis o problema.
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