terça-feira, 13 de agosto de 2013

Recusa de jovem israelense levanta discussão sobre serviço militar obrigatório

 


Guila Flint, Tel Aviv – Opera Mundi
 
Eyal Yablonko, de 18 anos, se negou a servir o exército por discordar da política de ocupação dos territórios palestinos
 
Quando completou 18 anos, idade com a qual os jovens israelenses abandonam suas casas para cumprir o serviço militar obrigatório, Eyal Yablonko se recusou a seguir a tradição e dessa forma se juntou a um pequeno grupo de cidadãos do país que se nega a ir para o exército. Há três semanas preso em uma cadeia militar como punição, o rapaz justificou a decisão declarando ser contra a ocupação dos territórios palestinos.
 
No momento, ele está incomunicável. De acordo com a advogada de Yablonko, Rawan Eghbariah, o jovem sustenta razões politicas e pacifistas. “Ele é contra o militarismo, em geral, e também contra a situação politica específica da ocupação", disse a Opera Mundi. Yablonko já foi julgado duas vezes por tribunais militares. Na primeira, foi condenado a 10 dias de prisão e na segunda, a 20.

De acordo com a linha adotada em outros casos como o dele, o Exército tenta pressionar os jovens que se recusam a prestar serviço militar por meio de sucessivos julgamentos. Em um episódio anterior ao de Yablonka, Natan Blanc ficou preso durante 6 meses e foi julgado 10 vezes. O israelense foi solto em junho deste ano após uma "comissão de incompatibilidade" o classificar como "inadequado" para servir o exército. Em Israel, já houve casos de jovens que se recusaram por razões politicas e passaram dois anos em prisões militares.
 
O pioneiro em recusar o serviço militar foi Giyora Neumann, em 1971. Ele era contra a ocupação. Desde então, houve casos isolados até a primeira Guerra do Líbano, em 1982, quando a recusa se tornou um fenômeno mais amplo, com a criação do movimento Yesh Gvul (em hebraico o termo tem dois significados – Existe uma Fronteira ou Existe um Limite). O grupo, fundado por soldados da reserva durante a guerra, incentivou soldados a se negarem a lutar no Líbano. Naquela época, cerca de dois mil reservistas não participaram da guerra – 200 foram presos.
 
Ishai Menuchin, de 55 anos, foi um dos fundadores do Yesh Gvul. "É difícil saber os números exatos daqueles que se recusaram ao longo dos anos", disse a Opera Mundi, "mas sabemos que foram milhares, centenas foram presos".
 
[Yeshayahu Leibowitz, intelectual israelense morto em 1994 que militou pela recusa do serviço militar]
Segundo ele, o exército não tem interesse em divulgar esses números e "podemos nos basear apenas nas informações que recebemos diretamente dos próprios soldados”. Ele atualmente é o diretor da Comissão contra a Tortura em Israel.

De acordo com Menuchin, as forças armadas tendem a libertar aqueles que se recusam alegando "incompatibilidade", preferindo não enviá-los para a prisão.
 
Histórico

As grandes ondas de recusa ocorreram em momentos especialmente dramáticos na história do país. Durante a primeira Intifada – levante palestino, em 1987 –, calcula-se que cerca de dois mil soldados se recusaram a servir nos territórios ocupados e na segunda Intifada (2000), o número foi semelhante.

De acordo com Menuchin, na primeira Intifada, 180 reservistas foram presos por se negarem a servir nos territórios ocupados e na segunda houve mais de 200 presos. "Desde a criação do Yesh Gvul, apoiamos todos aqueles que, por razões de consciência, decidiram não servir, tanto reservistas como soldados das forças regulares", disse.

Líder espiritual

Yeshayahu Leibowitz, um dos mais proeminentes intelectuais da história de Israel, é considerado o líder espiritual do movimento da recusa. Leibowitz, que morreu em 1994, lançou um apelo explícito aos jovens israelenses os convocando a se recusarem a prestar serviço militar. "A ocupação vai corromper a sociedade israelense", afirmou Leibowitz logo após a guerra de 1967, quando Israel ocupou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental. "Se 500 soldados se recusarem a prestar serviço militar, a ocupação acabará", sugeriu na época.

No entanto, 46 anos depois e após milhares de soldados regulares e reservistas já terem se recusado, o cenário não foi alterado. "Devemos continuar trabalhando duro para acabar com a ocupação", sustentou Menuchin. “Constatamos que, nesse ponto, a avaliação de Leibowitz foi otimista demais. Não basta que haja 500 se recusando para pôr um fim à ela". No entanto, ele diz ter certeza “que a ocupação vai acabar, a situação atual não pode continuar por muito mais tempo. Não se pode manter tantas pessoas sob ocupação por tantos anos".
 
 

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