domingo, 1 de setembro de 2013

Angola: FANTASMA DE CABINDA ATERRORIZA O REGIME

 


Orlando Castro – Folha 8 – Edição 1157 – 31 de agosto de 2013
 
Há muitos anos que o Governo garante a pés juntos que em Cabinda nada de anormal se passa. Se assim é, qual serão a razão de, mais uma vez, o comandante da Região Militar de Cabinda, tenente-general Eugénio de Figueiredo, ter sentido necessidade de reiterar “o apoio inabalável” das tropas ao comandante-em-chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA), José Eduardo dos Santos, presidente da República?
 
Não deixa, aliás, de ser curioso ver as peculiaridades da democracia, embora imposta, que reina no nosso país. Isto porque Eugénio de Figueiredo falava durante a cerimónia que marcou o início das jornadas alusivas ao 71º aniversário do Chefe de Estado, que se assinala dia 28 de Agosto. Se a moda pega… “Estamos sempre prontos para dar o nosso melhor, com vista a fortalecer a coesão, disciplina, unidade no seio do nosso colectivo militar e igualmente no melhoramento do nosso dia-a-dia”, disse o tenente-general Eugénio de Figueiredo, enaltecendo a satisfação pelo facto de o Ministério da Defesa ter escolhido Cabinda para acolher o acto que marca o início das jornadas comemorativas do aniversário do Comandante-em-Chefe.
 
Não ficaria mal que, doravante, os militares também comemorassem os dias dos seus diferentes casamentos, a começar com o de Tatiana Kukanova, do nascimento dos filhos, da tomada de posse, da formatura, da adesão ao MPLA, do monólogo feito entrevista à SIC, etc. do comandante-em-chefe das FAA.
 
“Esta jornada será não só uma reflexão, mas o momento de um olhar para os grandes momentos e desafios até hoje trilhados pelo nosso grande arquitecto da Paz”, prosseguiu o comandante da Região Militar de Cabinda, citado pelo órgão oficial do regime. O tenente-general Eugénio de Figueiredo não se esqueceu, como mandam as regras de qualquer democracia avançada do tipo Coreia do Norte, de exaltar a figura do Chefe de Estado, citando frases célebres de Eduardo dos Santos que, ao que tudo indica, vão fazer parte do curriculum universitários de muitas outras democracias, a começar pela do seu amigo Robert Mugabe.
 
“Vamos fazer de Angola uma boa terra para viver”, “um canteiro de obras”, “trabalhar juntos para o desenvolvimento” e “todos somos necessários para erguer a nova Angola, moderna, próspera e democrática”, recordou comovido (há quem tenha descortinado uma lágrima no canto do olho) Eugénio de Figueiredo, dizendo que estas frases “catapultam o povo angolano rumo ao progresso”. O Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação em Cabinda foi assinado no dia 1 de Agosto de 2006, no Salão Nobre da Administração municipal do Namibe, na presença, na altura, do Presidente da República em exercício, Roberto Victor de Almeida.
 
O documento, rubricado pelo ministro da Administração do Território, Virgílio de Fontes Pereira, pelo Governo, e pelo suposto líder do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), António Bento Bembe, mais tarde ministro do MPLA, previa, entre outras, a atribuição de um estatuto especial para Cabinda, na base do respeito pela Lei Constitucional e demais legislação em vigor na República de Angola, como Nação dita una e indivisível.
 
No seu discurso, Virgílio Fontes Pereira disse que o Governo de Angola sempre assumiu um posicionamento claro em relação ao conflito de Cabinda. Assegurou – à revelia da população local e do Direito Internacional – que Cabinda é parte integrante de Angola, pelo que a sua situação devia passar pelo respeito dos pressupostos legais vigentes no país. Por sua vez, Bento Bembe assegurou que a sua organização jamais iria aceitar qualquer comportamento susceptível de fazer regressar o povo de Cabinda ao clima de inquietação e ausência da paz. Roberto de Almeida, que representou o Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, vincou que, “de facto, desde Abril de 2002que apenas na província de Cabinda continuava a existir um conflito armado, superado pelo patriotismo, bom senso e a capacidade de diálogo de todas as partes envolvidas”. Referiu também, como mandam as regras da democracia do MPLA, ser justo que “neste momento solene se preste a devida homenagem à clarividência do Presidente da República, em primeiro lugar, mas também à todos os que souberam colocar os superiores interesses do país acima de eventuais contingências de natureza geográfica, histórica e cultural”.
 
”Foi, aliás, o reconhecimento, pelo poder central, da sua especificidade que levou à aceitação de um estatuto especial para a província de Cabinda, que permitirá aos seus futuros responsáveis gerir da melhor maneira, no interesse das suas populações e do povo angolano em geral, os seus imensos recursos materiais e humanos”, disse então Roberto de Almeida. No mesmo dia, o Bureau Político do MPLA saudou a assinatura do Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação e todos os intervenientes desse processo, com destaque (mal fora se o não fizesse) para o Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
 
“Conquistada a paz, que tantos sacrifícios custou,é chegado o momento de todos darmos as mãos e sem olhar as diferenças de qualquer tipo rumarmos para o progresso, reconstruindo o país e reforçando os alicerces da sociedade democrática e moderna que almejamos”, referia o comunicado. O Bureau Político reiterou também o seu firme propósito de se manter fiel aos ideais do povo angolano (pelo que se vê hoje só é povo quem for do MPLA) “e tudo fazer para a construção da pátria una e indivisível, onde cada angolano se reveja como parte integrante e imprescindível, independentemente da sua opção política, credo religioso, raça, local de nascimento ou qualquer outra diferença”.
 
No dia 10 de Agosto, a Assembleia Nacional autorizou o Presidente da República, na qualidade de mais alto magistrado da Nação, a fazer a paz em Cabinda, nos termos do respectivo Memorando de Entendimento. Numa resolução aprovada por 129 votos a favor, nenhum contra e sem abstenções, o Parlamento considerou que a autorização decorreu da necessidade premente de obtenção da paz em Cabinda, expressa e sentida diariamente pelas populações de Angola, em geral, e do enclave, em particular. A Assembleia Nacional aprovou igualmente o Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação em Cabinda, conferindo deste modo dignidade legal ao importante documento, que previa um conjunto de acções a serem executadas, para a efectivação do fim do conflito. No mesmo dia, foi igualmente aprovada a Lei de Amnistia para a paz e reconciliação em Cabinda, no quadro do Memorando de Entendimento. A proposta de Lei, que foi depois promulgada pelo Presidente da República, deveria beneficiar todos os crimes militares cometidos igualmente no quadro do conflito, até esta data. O parlamento aprovou também uma resolução que autorizava a aprovação de um Estatuto Especial para Cabinda, no quadro do Memorando de Entendimento, na sequência do reconhecimento, pelo Governo, de especificidades histórico-geográfica e culturais da província. O documento estabelecia as bases gerais do modo de organização, competências, funcionamento e poder regulamentar da Administração do Estado em Cabinda, no âmbito da sua integração na divisão político-administrativa do país e respeito pela Lei Constitucional e demais legislação.
 
Um ano depois da assinatura, Raul Danda, então porta-voz da Associação Cívica de Cabinda Mpalabanda, entretanto ilegalizada, desmentiu que existisse paz no enclave e alertou para o facto de estar em curso “uma perseguição às forças da FLEC” levada a cabo pelas FAA, ajudadas por elementos da FLEC-Renovada (FLEC-R) de Bento Bembe. Bento Bembe desmentia a continuação do conflito militar, garantindo que “as pessoas circulam por todo o lado na província”. “A situação está calma. Não há guerra em Cabinda”, afirmava. Raul Danda tinha opinião divergente: “O Memorando de Entendimento tem uma adesão fraquíssima por parte da população. Este memorando nunca conseguirá conquistar o coração dos cabindas”. N’Zita Tiago era peremptório: “não só há guerra em Cabinda, como esta vai continuar”, e perguntava: “Qual é o povo que hoje aceita ser escravo?”. E respondia: “A situação está pior do que quando estavam cá os portugueses. Os angolanos continuam a matar os cabindas”.
 
Neste contexto, também “saudando” o aniversário do Presidente de Angola, os cabindas apenas dizem que… “a luta continua.”
 
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UNITA denuncia actos de corrupção política em Cabinda
 
“Fontes bem informadas em Cabinda revelaram que o governo de Aldina Da Lomba envolveu-se em actos de corrupção política no último final de semana, para impedir a participação dos cidadãos de Cabinda em actividades convocadas pela UNITA, por ocasião da visita do Presidente Isaias Samakuva ao enclave rico em petróleo. As fontes fazem saber que o executivo provincial gastou 12 milhões de Kwanzas para compra de cartões de saldo oferecidos às pessoas e outros 60 milhões de kwanzas gastos em aliciamentos de cidadãos que se dirigiam ao comício da UNITA em Cabinda.
 
Os cidadãos que denunciaram a prática indecorosa revelaram ainda que o governo provincial gastou outros avultados valores em aluguer de táxi para o evento do MPLA, bem como na promoção da corrida de motocrosse e outras modalidades desportivas e de entretenimento com fim único de atrair pessoas. Como sempre em eventos que o MPLA promove para reter pessoas principalmente jovens, nunca falta medida alcoólica e desta vez em Cabinda, de acordo com as fontes que vimos citando, custou 20 kwanzas cada. Comentando sobre esses factos relatados por cidadãos de Cabinda a denunciar uso indevido de dinheiros públicos, um observador sugeriu que a UNITA e outras organizações que se têm posicionado contra a corrupção em Angola deviam intentar uma acção judicial contra o Executivo de Albina Da Lomba.”
 

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