Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
O primeiro-ministro
comportou-se ontem como um golpista de Estado
Já alguém se
lembrou em Portugal de perguntar aos mais de 900 mil desempregados de que lhes
valeu até hoje a Assembleia da República? De que lhes valeu Assunção Esteves? E
o 25 de Abril? De que lhes valeu o deputado Luís Montenegro? Ou o deputado Luís
Menezes? Ou o deputado xpto? Já alguém se lembrou de lhes perguntar de que lhes
valeu o governo? E de que lhes valeu Pedro, Paulo, Maria Luís Albuquerque, os
outros e respectivos assessores? De que lhes valeu a existência de todos os
ministros e secretários de Estado? De que lhes vale, aos 900 mil, a existência
de câmaras e de presidentes de câmara? E de juntas de freguesia? E dos
embaixadores e secretários de embaixada?
Já alguém se
lembrou, em Portugal, de perguntar aos 900 mil de que lhes valeu a democracia?
A União Europeia? As viagens dos governantes a Bruxelas? As viagens dos membros
do governo às organizações não sei o quê bilaterais? E de que lhes valeu o
Tribunal de Contas? As eleições livres e justas? A tropa? A Cinemateca? O
Teatro Nacional? O Palácio de São Bento? Os almoços de Estado? Os almoços que
não são de Estado pagos pelo erário público?
Já alguém se
lembrou de perguntar aos desempregados de que lhes valeu o Presidente da
República, que jurou defender a Constituição? E a Câmara Municipal de Ponta
Delgada? E as autonomias regionais? E o direito de voto a partir dos 18 anos? E
o direito à não discriminação em função da raça e do sexo? E a separação de
poderes?
Já alguém se
lembrou de perguntar aos 900 mil de-sempregados de que lhes valeu ter eleito um
taxista como primeiro-ministro, sem ofensa para os taxistas? De que lhes valeu
a existência da JSD e das universidades de Verão, um excelente centro de
recrutamento para um futuro emprego no palácio de São Bento sem grandes
aborrecimentos?
O primeiro-ministro
comportou-se ontem como um golpista de Estado, no mais demagógico ataque feito
por algum titular de órgão de soberania contra a Constituição que está obrigado
a cumprir - e contra o Presidente da República, que jurou cumpri-la, que
desencadeou a avaliação preventiva da lei dos despedimentos da função pública.
É preciso lembrar
ao primeiro-ministro que "o Estado subordina-se à Constituição e funda-se
na legalidade democrática" e que "a validade das leis e dos demais
actos do Estado (...) depende da sua conformidade com a Constituição". O
resto é uma fantasia de golpe de Estado típica de qualquer república das
bananas.
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