sábado, 28 de setembro de 2013

Angola: O RESPEITO PELAS MAIORIAS

 


José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião - 22 de Setembro, 2013
 
As minorias existem e temos que respeitá-las. É uma questão de cultura democrática. É dever de todos os democratas sinceros aceitar, proteger e conviver pacificamente com as minorias. Porque são elas que dão grandeza e substância às maiorias. O inverso também é verdadeiro. As minorias devem respeitar, em todas as circunstâncias, as maiorias. Não por uma questão numérica, mas porque nas democracias representativas, elas são legitimadas pelo voto soberano do povo.
 
No regime democrático só há uma maneira de constituir uma maioria: através de eleições. Quem tem mais votos governa de acordo com o programa sufragado pelos eleitores. A maioria que nos governa tem cinco anos para cumprir o seu programa político. Finda a legislatura, apresenta-se a votos e mais uma vez os eleitores decidem quem vai governar nos cinco anos seguintes. Esta é a regra de ouro dos regimes democráticos, e tem de ser respeitada por todos, mesmo pelos que não gostam de hóquei em patins ou criticam a federação por ter organizado o Mundial que decorre nas “arenas” de Luanda e do Namibe.

Neste ponto da minha palavra aos leitores, interessa fazer uma clarificação. Considero que o protesto é tão legítimo como o elogio. Eu tenho todas as razões para elogiar o comité organizador do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins. Em primeiro lugar, porque Angola está entre os países mais fortes na modalidade. Em segundo, porque sinto um grande orgulho pelo facto de a prova estar a decorrer no meu país. Ainda há uma década havia uma guerra destruidora e mortífera e já estamos a organizar um acontecimento desportivo de nível mundial. Confesso que nem nos meus sonhos mais doirados alguma vez imaginei ver jogar os melhores atletas do mundo nos rinks angolanos. Afinal, além dos nossos atletas, que são os melhores entre os melhores, temos em Luanda e no Namibe hoquistas espanhóis, portugueses, argentinos ou italianos, para apenas falar dos que ostentam títulos mundiais.

Quem tem razões para protestar, que o faça. Mas respeitando a opção daqueles que têm mandato popular inequívoco para governar. Os que estão em desacordo com o Mundial de Hóquei em Patins, com as novas centralidades, com a melhor rede de estradas de África, com a explosão do ensino a todos os níveis, com os milhares de postos de trabalho que são criados diariamente, com os avanços extraordinários na área da saúde, com os milhões de angolanos que em dez anos saíram da pobreza extrema, têm todo o direito de protestar, mas respeitando sempre as maiorias.

Se há dez jovens que querem protestar em frente ao pavilhão onde se desenrola o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, podem fazê-lo desde que não perturbem a ordem pública nem ofendam os milhões de angolanos que como eu estão orgulhosos pelo facto de a prova decorrer em Angola.

Os valores democráticos não ilidem ou ignoram os casos de polícia. Pelo contrário, é em democracia que temos de ser mais exigentes connosco e com os outros. E um democrata nunca passa a linha da legalidade num Estado de Direito. A actividade política só é legítima se não ultrapassar a linha que separa o civismo dos casos de polícia.

Os nove jovens que provocaram distúrbios e puseram em causa a ordem pública em Luanda, alegadamente num protesto político, pisaram um risco que não podiam pisar. Quando o fizeram, veio-me à memória a festa do Campeonato Africano de Futebol que Angola orgulhosamente organizou. Um pequeno grupo também se manifestou, matando e ferindo desportistas e jornalistas, em Cabinda. Um dos assassinos, que rapidamente reivindicou o crime em Paris, hoje diz que nada tem a ver com aquela actividade criminosa e refugia-se na condição de cidadão francês. Mas o mal está feito e aquele pequeno grupo continua impune.

Os nove jovens que actuaram em Luanda à margem da lei, perturbando a ordem pública, quiseram claramente ensombrar a festa mundial do hóquei, como os outros perturbaram gravemente a festa do CAN que Angola organizou. Felizmente os agentes da Polícia Nacional cumpriram de uma forma competente o seu papel e desta vez não temos razões para chorar a existência de mortos e feridos, como aconteceu em Cabinda, no CAN.

Para mim, os mandantes são os mesmos e os actores pensam da mesma maneira. Ostentam riquezas que ninguém sabe donde lhes vieram. Fingem ser da oposição mas não se apresentam a votos. Viajam pelo mundo e pernoitam nos melhores hotéis, mas não sabemos quem paga as facturas. Muito menos se sabe quem paga o espaço que eles ocupam nas agências noticiosas, jornais, rádios e televisões.

De uma coisa estou certo: uma década depois do fim da guerra ainda há forças políticas da oposição que actuam como se ainda estivessem a ocupar vastas zonas de Angola com o seu exército ilegal. Não há meio de compreenderem que a autoridade do Estado é para respeitar em todas as circunstâncias. Continuam a agir como se ainda tivessem as armas na mão. E mandam, para a frente, pisando a linha da legalidade, jovens sedentos de protagonismo. Tenham paciência: até ao fim do Mundial, os protagonistas são os hoquistas que tudo fazem para conquistar mais um grande título para a nossa Nação.

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