José Milhazes, da
agência Lusa
Moscovo, 07 set
(Lusa) - A língua de Camões não pode competir na Rússia com o inglês, chinês ou
espanhol, mas é cada vez maior o número de russos que estuda português e o
crescimento não é maior devido à falta de infraestruturas e apoios.
A língua portuguesa
é lecionada em várias universidades e escolas superiores de Moscovo e São
Petersburgo, bem como de cidades como Kazan, Rostov no Don e Petegorsk.
Porém, o maior
número de russos frequenta escolas e cursos privados em Moscovo que não têm as
condições necessárias para responder à grande procura.
"Em relação às
perspetivas, acho que o crescimento que temos tido até agora é para continuar.
Acredito que haverá cada vez mais pessoas que vão querer aprender a língua de
Camões", declarou à Lusa o português Stanislav Mikos, diretor da
instituição social Centro Cultural Português na Rússia.
"Num futuro
próximo, iremos sentir falta de professores preparados para ensinar português
na Rússia. Vamos também ter problemas a nível de instalações porque, nas que
temos, não cabem todos os interessados. Além disso, vamos tentar abrir centros
noutras cidades", disse Mikos.
O arrendamento de
salas em Moscovo é um dos mais caros do mundo, o que trava o aumento das
escolas privadas existentes.
Quanto ao que leva
os russos a estudar português, Mikos sublinha: "Portugal passa a ser um
destino turístico cada vez mais apetecível para os russos. Graças ao turismo, o
país torna-se conhecido não só em Moscovo e em S. Petersburgo, mas também na
província. A razão para isso é simples: Portugal é espetacular, e isso é fácil
de notar. Basta lá ir uma única vez".
"Depois
acontece o mais importante: como o país é mesmo único, os russos visitam-no,
apaixonam-se e já não imaginam a sua vida sem Portugal. Começam a voltar. Os
que podem, compram casas, outros limitam-se a passar aí férias todos os anos.
Há quem queira imigrar. No nosso fórum já há muitas pessoas que discutem a
possibilidade de abrir um negócio em Portugal ou investir para conseguir
autorização de residência e, posteriormente, a cidadania", acrescenta ele.
"Além disso,
os russos já não precisam de visto para ir ao Brasil. Isto contribui para que o
Brasil também fique mais conhecido. Bossa nova e capoeira estão na moda. Isso
tudo cria uma espécie de sinergia, o que faz com que a nossa língua seja cada
vez mais falada na Rússia", concluiu.
Ruslan Baskakov,
diretor do Centro de Língua Portuguesa e de Culturas dos Países Lusófonos,
quantifica as razões por detrás do estudo da língua portuguesa na Rússia:
"Podemos dividir todos os alunos que estudam português ibérico em quatro
grupos: 1) mulheres que têm relações com portugueses e planeiam criar famílias
- 65 por cento; 2) pessoas que têm imobiliário em Portugal - 20 por cento; 3)
turistas - 10 por cento e 4) os outros - 5%".
"Quanto ao
aumento do número de estudantes, nota-se, mas não é tão forte. É de
aproximadamente 20-30 por cento", considera o diretor dessa escola
privada.
As autoridades e
homens de negócios portugueses não souberam utilizar o facto de milhares de
soviéticos terem estudado português nos anos de 1970 e de 1980 para entrarem no
mercado dos países da antiga União Soviética. Talvez saibam aproveitar esta
segunda oportunidade.
JM // MLL
Sem comentários:
Enviar um comentário