Rafael Targino, São Paulo – Opera Mundi
Pesquisas indicam
que ela terá que se coligar com principal partido de oposição, com quem já
formou governo em 2005
Angela Merkel é a
chanceler mais popular da Alemanha desde a reunificação do país, em 1990. Pelo
menos 58% da população, segundo pesquisa divulgada pelo quadro "Polit
Barometer", da rede de TV ZDF nesta quinta-feira (20), querem que ela
continue no cargo. Porém, neste domingo (22), os alemães parecem prontos para colocar
Merkel “de castigo”: se as previsões se confirmarem, ela poderá ter que se
coligar com o principal partido de oposição, o Partido Socialdemocrata da
Alemanha (SPD), para formar maioria no Bundestag, o parlamento do país. E a
própria chanceler já dá sinais de que aceita isso.
Segundo o
Barometer, 29% dos alemães acham que a melhor coalizão para governar o país é a
da União (bloco formado pela União Democrata Cristã, a CDU, de Merkel, e pela
União Social-Cristã, a CSU) com o SPD. Os dois partidos comandaram a Alemanha
juntos entre 2005 e 2009, no primeiro governo Merkel.
Só 19% gostariam de
ver a reedição da atual coligação, CDU e FDP (Partido Liberal Alemão). Hoje, os
dois partidos têm uma confortável maioria no Bundestag (330 dos 620
parlamentares). Merkel já afirmou que prefere a dobradinha novamente – o
problema é que o FDP pode ficar de fora do parlamento.
Cada alemão tem
direito a dois votos neste domingo. No primeiro, vota-se no candidato do
distrito a que o eleitor pertence (cada distrito compreende cerca de 250 mil
eleitores). Esse primeiro voto preenche 299 cadeiras. Na segunda vez, a
população vota em uma lista de candidatos indicada por cada partido. Na
prática, o segundo voto serve para escolher quais agremiações serão
representadas no parlamento. Com essas escolhas, são preenchidos outros 299
assentos.
Cláusula
A questão é que
existe uma cláusula de barreira: se o partido não atinge 5% do segundo voto ou
não consegue vencer a eleição em pelo menos três distritos, não vai para o
Bundestag. E é esse o risco que o FDP corre no momento.
Desde o início da
campanha, há dois meses, o partido vem flertando com a cláusula. A última
pesquisa do Polit Barometer mostra o FDP com 5,5% das intenções de voto – com
margem de erro de 2%. Outro levantamento, do Instituto Forsa, dá à agremiação
5% exatos. Para
piorar, no domingo passado (15/09), o partido conseguiu somente cerca de 3% dos
votos na eleição regional da Baviera.
Se o FDP não
conseguir eleger ninguém, restará a Merkel reeditar a aliança com a oposição –
representada pelo SPD de Peer Steinbrück, seu concorrente direto nestas
eleições.
Em declarações na
última semana, a chanceler parece já aceitar o fato, ao pedir aos eleitores que
também deem o segundo voto à CDU e não ao FDP, que faz campanha explícita pela
segunda opção. Nós gostaríamos de continuar a coalizão, mas a CDU não tem votos
para dar de presente. Cada um luta por sua política", afirmou a chanceler
durante um comício em Potsdam (a 35 km de Berlim). Em outro evento, em
Duderstadt (a 350 km da capital), Merkel foi ainda mais direta: "Os dois
votos para a CDU, esse é o lema".
Com isso, ela
tenta, segundo a imprensa alemã, ter mais força no novo equilíbrio de partidos
que se avizinha no Bundestag.
De volta ao começo
O governo Merkel I
foi sustentado por uma coligação CDU-SPD. Em 2005, quando concorreu pela
primeira vez ao cargo, a hoje chanceler enfrentou Gehrard Schröder, do SPD,
então mandachuva do país – e o primeiro Bundeskanzler (como se chama o cargo em
alemão) do partido desde 1982. O resultado foi bem apertado: 35,2% dos votos
para a União, 34,2% para o SPD. Daí, coube a Angela Merkel formar o governo.
Nesta primeira gestão, Steinbrück foi ministro das Finanças.
Em 2009, a União
conseguiu um percentual menor (33,8%), mas foi beneficiada por uma queda de 11
pontos percentuais nos votos do SPD e pelos 14,6% registrados pelo FDP. Assim,
conseguiu maioria e formou o governo Merkel II.
Coligar-se
significa, além de ter maioria no parlamento, colocar o parceiro em cargos
estratégicos do governo. O FDP comanda, por exemplo, os ministérios da Economia
e Tecnologia, com Philipp Rösler (que é também presidente do partido) e de
Relações Exteriores, com Guido Westerwelle.
A possível futura
coligação União e SPD pode obrigar Merkel a aceitar algumas políticas
defendidas pela oposição. Devem entrar em discussão, por exemplo, a introdução
de um salário mínimo de € 8,50 por hora e a criação de um imposto de transações
financeiras em onze países da zona do euro.
Fim da linha
A imprensa alemã já
trata Steinbrück como um político com aposentadoria marcada para este domingo.
Ele tem chance de virar chanceler caso o Partido Verde, principal aliado, tenha
uma votação espetacular – só que a última pesquisa o mostra com 9% das
intenções de voto.
Ainda assim, com o
SPD marcando 27% no último Polit Barometer, seria possível uma coligação com os
Verdes e o “A Esquerda”, agremiação resultante do partido que governava a
antiga Alemanha Oriental, que registra 8,5% das intenções. Como tanto
Steinbrück, quanto Gregor Gysi, líder da “Esquerda”, já afastaram a
possibilidade, é improvável que os partidos se unam. A título de comparação, na
mesma pesquisa, a CDU tem 40%.
Desta forma, Sigmar
Gabriel, presidente do SPD, é cotado para virar vice-ministro em um futuro
governo Merkel III. Steinbrück segue um caminho parecido ao de Schröder: quando
a chanceler venceu em 2005, o então mandatário não entrou na formação do
governo.
O candidato do SPD
é mais conhecido, na verdade, por sua sequência de gafes. A
última, disse ele, foi involuntária: ele apareceu na capa de uma apontando o
dedo do meio, acompanhado da pergunta “Peergafe, Peerproblema, Peerlusconi
– o senhor não deve se preocupar com apelidos simpáticos, não é?”. Steinbrück
participou de uma seção da revista em que perguntas eram respondidas por meio
de gestos, mas alegou que não sabia que a imagem com o dedo médio em riste iria
direto para a primeira página.
Em dezembro do ano passado, por exemplo, afirmou que chanceleres alemães ganham muito pouco – o salário de Merkel está estimado em € 208 mil (quase R$ 630 mil) por ano, segundo a revista Wirtschafts Woche. Em março de 2013, foi flagrado roubando balinhas de Sigmar Gabriel na frente de câmeras de TV.
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