Verdade (mz) - Editorial
Não há dúvida de
que a educação constitui uma das ferramentas mais poderosas para o
desenvolvimento socioeconómico e cultural de um país. Investir na Educação e na
capacitação dos indivíduos é, por assim dizer, sinónimo de aposta no
crescimento de uma nação e na sua abertura para o mundo. E apostar num ensino
de qualidade é criar condições para uma sociedade mais humana, democrática e
consciente dos seus direitos e deveres.
Porém, no nosso
país a realidade é outra. Desde 2004, o Governo tem vindo a desperdiçar os
nossos recursos, investindo no modelo de passagens semi-automáticas,
hipotecando o futuro de milhares de moçambicanos. Diga-se, em abono da verdade,
que a ânsia de alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio está a
contribuir, sobremaneira, para a degradação do ensino no país. Há uma
preocupação de preencher números para os doadores verem e aplaudirem,
produzindo, assim, em massa, indivíduos com capacidades limitadas de pensamento
e questionamento.
Vários estudos
sobre a qualidade de ensino em Moçambique têm mostrado que, desde que se
adoptou o modelo em causa, a maioria dos alunos do ensino primário chega ao fim
da sétima classe sem saber ler nem escrever – sorte têm os alunos cujos
respectivos pais e/ou encarregados de educação podem suportar propinas numa
instituição privada.
Este é um facto que
devia causar profunda indignação a todos nós, além de corar de vergonha o
Governo moçambicano. Mas os nossos dirigentes estão a marimbar-se para essa
situação, enviando os filhos às melhores escolas e universidades dos Estados
Unidos da América e da Europa.
As passagens
automáticas são um crime hediondo, uma negação de um direito e dever garantido
pela Constituição da República. Num país onde os professores, desmotivados
devido às (péssimas) condições salariais oferecidas pelo Estado – estão apenas
preocupados em assinar o livro de ponto – as passagens automáticas constituem
um atentado terrorista ao conhecimento e à formação de um indivíduo.
As passagens
automáticas são, na verdade, uma aposta na criação de uma cortina de burrice
que nos separa do mundo evoluído. Enquanto nos diversos países – incluindo
africanos – se assiste a um investimento na qualidade de ensino a todos os
níveis, nós fazemos o caminho inverso, apostando no atraso.
Portanto, se o
principal objectivo por detrás desse sistema de ensino discriminatório que
afecta principalmente os mais desfavorecidos é produzir moçambicanos alienados
e reproduzir a pobreza, o Governo não só está num bom caminho como também se
pode orgulhar de estar a condenar a população à ditadura da ignorância e a
ficar de fora na internacionalização do mercado de trabalho.
É verdade que, nos
últimos anos, o número de pessoas com escolaridade aumentou, mas isso não se
traduziu no melhoramento da qualidade de ensino. Hoje em dia, os alunos são
incapazes de ler e escrever, de formular um raciocínio lógico, de pensar pela
própria cabeça e chegam ao ensino secundário sem saber escrever o próprio nome
e, muito menos, formular uma frase com uma estrutura clara e coerente.
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