… "apenas
cumpriu ordens do partido"
Emanuel Pereira e
Manuel Matola, da agência Lusa
Maputo, 01 set
(Lusa) - Jerónimo Malagueta, o porta-voz da "declaração de guerra" da
Renamo, detido há mais de dois meses por incitamento à violência, diz que foi
um "instrumento" do seu partido, sem "capacidade de
censurar" o seu superior hierárquico.
"Disseram-me:
´Leia esse papel e apresente`. Não tinha forma de negar, tinha que ler o
documento", disse, em entrevista exclusiva à agência Lusa, Jerónimo
Malagueta, detido na cadeia de máxima segurança da Machava, conhecida por B.O.,
nos arredores da capital moçambicana.
Na sexta-feira,
jornalistas da agência Lusa visitaram Jerónimo Malagueta na cadeia, tendo-o
entrevistado no gabinete do diretor da B.O., José Machado, na presença deste e
sem permissão para recolha de imagens.
Em junho, o
brigadeiro da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) transformou-se no rosto
público das ameaças do maior partido da oposição moçambicana, ao anunciar, numa
conferência de imprensa, em Maputo, que a circulação de pessoas e bens seria
interditada na região centro de Moçambique.
No dia seguinte, 21
de junho, ataques a veículos que circulavam na Estrada Nacional 1, entre o rio
Save e Muxúnguè, na província central de Sofala, que provocaram pelo menos dois
mortos, viriam a materializar a declaração da Renamo, e, mais tarde, o líder do
partido, Afonso Dhlakama, reconheceu a autoria dos atentados.
No mesmo dia dos
ataques, Jerónimo Malagueta seria detido, em Maputo, pela Polícia de
Investigação Criminal (PIC), acusado de homicídio, destruição de bens e
incitamento à violência, tendo um tribunal judicial decretado a sua prisão
preventiva apenas pela última imputação.
"O juiz
perguntou-me sobre os pronunciamentos que eu tinha feito, e eu disse que o
pronunciamento não era meu: simplesmente, servi de instrumento para dar a
posição do partido, porque eu respondia na altura como chefe do Departamento da
Informação", disse Malagueta à Lusa.
"Fiz o que o
meu partido me mandou. Nunca pensei que as consequências recairiam sobre
mim", reforçou.
Desde então, o
influente comandante da antiga guerrilha da Renamo está detido na prisão de
alta segurança da Machava, em regime de isolamento no que se refere ao contacto
com outros reclusos, mas, garante, com direito a visitas quinzenais,
alimentação fornecida pela sua família, "televisão, rádio e jornal".
Na sua última
edição, um semanário moçambicano noticiou alegadas reuniões entre Malagueta e
outros reclusos, que o brigadeiro desmentiu na entrevista à Lusa, tendo José
Machado, diretor da penitenciária, confirmado que tal seria impossível, dado o
isolamento a que o detido está sujeito.
Sem "ter ideia
do que vai acontecer", Jerónimo Malagueta mostra-se inconformado com a sua
prisão, que considera uma "injustiça", dado que serviu apenas de
"altifalante" ao seu partido, que, "até agora", não o "desamparou".
Emocionado, disse
ainda que o caminho da felicidade e da "esperança é sair da cadeia e ir ao
lado dos filhos".
MMT // MLL
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