domingo, 1 de setembro de 2013

Moçambique: Brigadeiro da Renamo detido por incitamento à violência…

 


… "apenas cumpriu ordens do partido"
 
Emanuel Pereira e Manuel Matola, da agência Lusa
 
Maputo, 01 set (Lusa) - Jerónimo Malagueta, o porta-voz da "declaração de guerra" da Renamo, detido há mais de dois meses por incitamento à violência, diz que foi um "instrumento" do seu partido, sem "capacidade de censurar" o seu superior hierárquico.
 
"Disseram-me: ´Leia esse papel e apresente`. Não tinha forma de negar, tinha que ler o documento", disse, em entrevista exclusiva à agência Lusa, Jerónimo Malagueta, detido na cadeia de máxima segurança da Machava, conhecida por B.O., nos arredores da capital moçambicana.
 
Na sexta-feira, jornalistas da agência Lusa visitaram Jerónimo Malagueta na cadeia, tendo-o entrevistado no gabinete do diretor da B.O., José Machado, na presença deste e sem permissão para recolha de imagens.
 
Em junho, o brigadeiro da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) transformou-se no rosto público das ameaças do maior partido da oposição moçambicana, ao anunciar, numa conferência de imprensa, em Maputo, que a circulação de pessoas e bens seria interditada na região centro de Moçambique.
 
No dia seguinte, 21 de junho, ataques a veículos que circulavam na Estrada Nacional 1, entre o rio Save e Muxúnguè, na província central de Sofala, que provocaram pelo menos dois mortos, viriam a materializar a declaração da Renamo, e, mais tarde, o líder do partido, Afonso Dhlakama, reconheceu a autoria dos atentados.
 
No mesmo dia dos ataques, Jerónimo Malagueta seria detido, em Maputo, pela Polícia de Investigação Criminal (PIC), acusado de homicídio, destruição de bens e incitamento à violência, tendo um tribunal judicial decretado a sua prisão preventiva apenas pela última imputação.
 
"O juiz perguntou-me sobre os pronunciamentos que eu tinha feito, e eu disse que o pronunciamento não era meu: simplesmente, servi de instrumento para dar a posição do partido, porque eu respondia na altura como chefe do Departamento da Informação", disse Malagueta à Lusa.
 
"Fiz o que o meu partido me mandou. Nunca pensei que as consequências recairiam sobre mim", reforçou.
 
Desde então, o influente comandante da antiga guerrilha da Renamo está detido na prisão de alta segurança da Machava, em regime de isolamento no que se refere ao contacto com outros reclusos, mas, garante, com direito a visitas quinzenais, alimentação fornecida pela sua família, "televisão, rádio e jornal".
 
Na sua última edição, um semanário moçambicano noticiou alegadas reuniões entre Malagueta e outros reclusos, que o brigadeiro desmentiu na entrevista à Lusa, tendo José Machado, diretor da penitenciária, confirmado que tal seria impossível, dado o isolamento a que o detido está sujeito.
 
Sem "ter ideia do que vai acontecer", Jerónimo Malagueta mostra-se inconformado com a sua prisão, que considera uma "injustiça", dado que serviu apenas de "altifalante" ao seu partido, que, "até agora", não o "desamparou".
 
Emocionado, disse ainda que o caminho da felicidade e da "esperança é sair da cadeia e ir ao lado dos filhos".
 
MMT // MLL
 

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