Rui Peralta, Luanda
I - Desde 1952, ano
em que o Movimento dos Oficiais Livres, liderados por Gamal Abdul Nasser,
instaurou a Republica, que as Forças Armadas do Egipto mantêm um papel
preponderante na política do país. Mesmo após a queda de Mubarak, os militares
mantiveram o controlo do período de transição, através do Conselho Supremo das
Forças Armadas (SCAF) e prepararam, inclusive, um candidato presidencial, Ahmed
Safiq, que disputou a segunda volta com Morsi.
Durante a presidência
de Morsi e o governo da Irmandade Muçulmana (IM), os militares foçaram a
partilha de poder, de forma encoberta, mas sempre controlando de perto e
intervindo quando achavam necessário. Morsi e a IM nunca conseguiram acabar com
o poder e com a influência dos militares. Sendo o poder algo que não se
partilha (e tendo os militares egípcios plena consciência deste facto) os
equilíbrios romperam-se e os pratos da balança inclinaram-se com o peso das
armas.
Os militares agiram
em função da contestação popular e para o golpe militar foi determinante a
posição assumida pelos liberais e pela esquerda. A última manifestação inserida
nas grandes mobilizações populares contra Morsi e o governo da IM (as
mobilizações realizaram-se entre finais de Junho e principio de Julho) foi
convocada pelo SCAF e pretendia ser uma mobilização “contra o terrorismo”. Durante
as mobilizações populares os liberais, liderados pelo nobel Mohamed El Baradei,
aliaram-se às forças políticas remanescentes do anterior regime – reunidas por
Moussa, um antigo Ministro das Relações Exteriores de Mubarak – e á esquerda
egípcia – reunida em torno do nasserista de esquerda Hamdeen Sabahey – formando
a Frente de Salvação Nacional, que transformou-se rapidamente no braço político
do SCAF.
Após o golpe, El
Baradei converteu-se em vice-primeiro-ministro de um governo liderado pelo SCAF
e composto por uma abrangente amálgama de sectores da sociedade egípcia, desde
os apoiantes de Mubarak ao líder sindical Kamal Abu Eita (ministro do Trabalho,
apesar da Federação Sindical independente, agora liderada por Fatma Ramadan,
fazer sentir a sua pressão reivindicativa e constituir um bloco sindical de
pressão com as outras duas centrais sindicais, também apoiantes do golpe
militar), passando pelos liberais e pelos salafistas. El Baradei pensou que poderia
utilizar o SCAF para instalar a sua camarilha de aduladores da Casa Branca nos
corredores políticos do aparelho de Estado, tornando-se o interlocutor
principal de Washington.
As suas propostas
não eram muito diferentes, em termos de política macroeconómica, da IM, o que
implicaria a continuação das políticas que levaram á queda de Morsi e que
arrastaram o Egipto para uma situação de desastre económico. Mas Washington tem
interlocutores em vastos sectores políticos egípcios, a começar pelos mais
válidos, os militares e a acabar na IM, passando pelos apoiantes de Mubarak e
prefere utilizar El Baradei como uma reserva. Desesperado pelas críticas
constantes do Ministro do Trabalho e dos sectores de esquerda do actual governo,
pelo silêncio estratégico dos apoiantes de Mubarak no governo, pela política
repressiva do SCAF e pela presença dos salafistas, o nobel liberal egípcio demite-se,
contrariado, talvez buscando, agora, uma aliança com a IM (também são amigos da
Casa da Branca, pelo menos no que respeita ás questões macroeconómicas).
II - El Baradei
deve andar confuso com a política do seu “par nobel” Obama. Pensava El Baradei
que o diálogo entre dois nobéis seria mais directo, mas os cuidados de Obama
são justificados. O Egipto é o terceiro pais com mais população de Africa (após
a Nigéria e a Etiópia), com cerca de 83 milhões de habitantes e a segunda
economia africana, depois da Africa do Sul. Embora a sua produção petrolífera
não seja importante, a sua produção de gás coloca-o entre os 15 maiores deste
sector, a nível mundial. Por outro lado a sua importância estratégica: o Egipto
é uma ponte entre Africa e a Asia e o seu território é fundamental para o
controlo do canal do Suez, por onde atravessa 14% do tráfico marítimo mundial. Por
ano, uma média de 18 mil barcos (2/3 são petroleiros) utiliza o canal. Por ali
passam rotas importantes, como a de Londres-Bombaim e através do canal chegam á
Europa a maior parte das mercadorias provenientes do Japão, da China e de outros
países do Sudoeste Asiático.
A importância do
canal não tem apenas a ver com as frotas marítimas comerciais. Para as frotas
navais de guerra, o canal do Suez é fundamental. É um ponto essencial para a 6ª
frota dos USA, com sede em Nápoles – responsável pelo Atlântico, Mar do Norte e
Mediterrâneo – e para a 5ª frota, sediada no Bahrein e responsável pelo Golfo
Pérsico, Mar Vermelho e costa oriental de África. Poucos dias antes da queda de
Mubarak duas embarcações da Marinha de Guerra do Irão cruzaram o canal em
direcção ao Mediterrâneo (pela primeira vez desde a Revolução Islâmica no Irão,
em 1979) com o objectivo de fazer valer o direito do Irão em utilizar o canal,
de acordo com o estabelecido na Convenção de Constantinopla, em Outubro de
1888.
Em 1956 o governo
de Nasser nacionalizou o Canal do Suez, o que levou a Inglaterra, a França e
Israel a invadirem a região do canal, que foi bloqueado pelo Egipto. O canal só
seria reaberto em princípios de 1957, após a retirada das forças invasoras. Em 1967,
durante a Guerra dos Seis Dias, o canal foi novamente bloqueado pelo Egipto e
só foi reaberto em 1975, permanecendo em funcionamento desde essa data.
Para os USA o
controlo do canal do Suez é de importância vital, não apenas para as 5ª e 6ª
frotas, nem pelo importante fluxo comercial que transita pelo canal, como
também pelo facto da importância geoeconómica do Canal do Suez no que respeita ao
crescimento da influência chinesa em África, factor que nas últimas décadas é
crucial para as administrações norte-americanas. Aliás este é um dos factores
que levou a que os USA apenas se limitassem a protestar contra o golpe militar
e a não usar a sua influência para evitar a queda do governo da IM. Morsi
efectuou uma visita á China, em 2012, levando consigo uma importante delegação
empresarial e estabeleceu importantes acordos comercias com os chineses, o que
causou algum desconforto em Washington, que viu aumentar o risco da imprevisibilidade
do governo da IM.
O controlo das
rotas de navegação através dos estreitos e dos canais é fundamental para os
USA. As sua preocupações no Canal do Suez derivam do facto de os USA não o
controlarem de uma forma tão directa e eficaz como acontece com o Canal do
Panamá, completamente controlado e gerido pelos norte-americanos, o que levou a
China a projectar um novo canal na Nicarágua, para comunicar de forma segura
(para os seus interesses, claro) entre o Atlântico e o Pacifico. A crescente
preocupação dos USA com o crescimento da influência chinesa em Africa,
particularmente na África Oriental (patente nas visitas que Obama efectuou em
Junho ao Senegal, Africa do Sul e Tanzânia), cria um novo papel ao Egipto no
contexto da Africa Oriental, que poderá ser assumido como contrapeso da influência
chinesa, através do Canal do Suez.
A penetração
chinesa na Africa Oriental advém da participação técnica e financeira nos macroprojectos
que estão em curso nesta região: a grande barragem do Nilo Azul e o Corredor de
Lapsset. A grande barragem do Nilo Azul é impulsionada pela Etiópia e afecta em
grande escala o Egipto, que foi completamente marginalizado neste processo (daí
a posição hipócrita da União Africana em “limpar as mãos” no que respeita á
actual situação do país). É um projecto que conta com o envolvimento da Tanzânia,
do Quénia, do Uganda, do Ruanda e do Burundi e com a participação do Sudão e do
Sudão do Sul. O segundo projecto, o Corredor de Lapsset, contempla a construção
de infraestruturas (estadas, autoestradas, vias férreas, oleodutos, portos
marítimos e aeroportos) e nele participam o Quénia, o Uganda, o Sudão do Sul, a
Republica Centro-Africana e os Camarões. Permitirá á Etiópia uma nova saída
para o mar, através do porto queniano de Lamu e projecta derivações á Republica
Democrática do Congo (desde o Uganda) e á Tanzânia (desde o Quénia)
Estes são projectos
importantes para o continente africano, mas estão a ser construídos e foram
concebidos numa logica hegemónica, adversa aos interesses africanos e assente
na nova logica de domínio que envolve os “jogos africanos”. A incapacidade das
elites africanas em lidar com esta lógica é directamente proporcional ao facto
de estas elites representarem as novas estratégias dos velhos interesses
coloniais ocidentais e as inovadoras estratégias (assentes numa fachada pretensamente
solidária) dos novos interesses hegemónicos orientais. Uma vez mais África é
submetida á pressão da concorrência (esse factor indispensável á reprodução de
capital) entre os diferentes sectores financeiros dominantes.
A ausência de
estratégias africanas comuns, que evoluam em bloco, torna estes projectos (que
poderiam ser essenciais para o desenvolvimento do continente) em peças do
puzzle da recolonização e continuam a velha máxima utilizada pelo domínio
colonial: “dividir para reinar”. As avestruzes passam pelos camelos
ignorando-os e quando estes fazem sentir a sua presença, as avestruzes
importunadas escondem a cabeça no solo. Desta forma, as sempre vendidas elites
africanas (altivas e velozes como a avestruz, mas sempre escondendo-se da
realidade, como fazem as avestruzes quando enterram a cabeça no chão para se
protegerem) marginalizaram o Egipto, traindo os irmãos africanos do Norte, em
nome da pretensa estabilidade (a Pax chinesa, transportada em malas cheias de
projectos e de financiamentos, que pouco difere da Pax americana transportada
nos drones).
III - Como
consequência da política de avestruz da União Africana, o Egipto fica entregue
a si próprio, ou melhor, ao SCAF. Os militares egípcios não estão subordinados
ao governo, qualquer que ele seja, agindo como entidade independente. É um caso
típico de autonomização de um aparelho burocrático (neste caso o aparelho
repressivo do Estado) em relação ao aparelho político do Estado. A burocracia
constitui uma categoria social e ao autonomizar-se do aparelho de Estado,
assume um papel determinante na classe social onde, como categoria social, se
insere. Desta forma introduz os seus interesses específicos no conjunto de
interesses gerais do seu ambiente de classe e acaba por subordinar (como um agente
parasitário) os interesses da classe onde se insere, aos seus.
Este é um fenómeno
que se desenrola no Egipto. Nas últimas três décadas os militares egípcios
estabeleceram estreitas relações com os USA, através dos exercícios conjuntos,
dos cursos para oficiais nas academias militares norte-americanas, das acções
de formação, etc. e as forças armadas egípcias recebem ajuda económica directa
dos USA, sem intervenção do governo egípcio. Este factor estimulou a
progressiva autonomização do aparelho repressivo egípcio, que acabou por ter
empresas próprias e a agir no mercado, controlando cerca de 40% do PIB do país.
Desta forma os USA passaram a contar com um instrumento fiável, de plena
disponibilidade e completamente autónomo em relação ao governo, seja ele qual
for.
Os USA têm diversos
peões sobre o tabuleiro egípcio. Militares (a peça mais importante), a IM, os
liberais de El Baradei e as forças politicas que se movimentavam em torno de
Mubarak. Contam ainda, de forma encoberta, com os bandos da extrema-direita islâmica,
para fazer o trabalho sujo. É tudo uma questão de coordenação de interesses, o
que permite a fatal manipulação de factores orgânicos das dinâmicas internas,
de forma a melhor explorá-las e criar cenários virtuais que permitam a continuidade
do domínio. Enganam-se, pois, os que fazem a leitura do fracasso da política
norte-americana no Egipto. Não houve fracasso algum. Quanto muito alguma descoordenação
perante a amplitude dos protestos populares contra Morsi, mas bastou recorrer
ao papel autónomo dos militares, para tudo voltar a ser coordenado.
Todos os
intervenientes nos acontecimentos – por diferentes motivos – receiam ou querem
evitar o conflito armado. Da parte dos interesses controlados por Washington,
nem os militares, nem o IM e muito menos os apoiantes de Mubarak ou de El
Baradei, pretendem enveredar por essa via. Fora deste contexto de manipulação
(que engloba vastos sectores da sociedade egípcia, da média á alta burguesia)
surgem os sindicatos e a esquerda social (de diversas matizes, dos trotskistas
aos nasseristas, passando pelos maoistas e pela nova esquerda), também eles sem
qualquer interesse na confrontação armada (seriam os grandes perdedores e
viriam as suas reivindicações esmagadas). O conflito armado parece ser solução
que não agrada a ninguém, o que não impede os militares de tentar varrer a IM
do panorama político, exactamente em nome do “combate ao terrorismo”. Desta
forma a burocracia militar (agora já “generais do mercado”) tenta eliminar um
concorrente directo (a IM) na cadeia de favores.
Existiria um
problema com a extrema-direita islâmica, mas esta encontra-se, por enquanto,
representada no governo e sendo grupos controlados pela CIA, não existem
grandes probabilidades de alguma força enveredar pela luta armada. Obviamente
que podem existir imponderáveis, principalmente devido a dois factores: o
primeiro é Israel e o segundo a complexa situação da internacionalização do
conflito sírio. No factor Israel existem duas vertentes: a utilização do
exército egípcio como aliado dos sionistas (o que suscita polémica nos meios
islâmicos mais radicais e mesmo nos moderados) e a questão da Faixa de Gaza
(que pode suscitar a qualquer momento uma atitude de força por parte do Hamas,
que poderá explorar a situação politica no Egipto a seu favor, utilizando os
seus núcleos no país).
Já quanto ao factor
Síria, os militares estão a geri-lo de forma muito mais inteligente que a IM.
Morsi, arrastado pela Turquia, nas últimas semanas da sua permanência no poder,
tentou envolver o Egipto no turbilhão Sírio, prestando apoio aos bandos armados
que actuam contra o governo sírio. Os militares têm uma posição muito mais
ponderada e realista em relação á questão síria, numa tentativa de escapar aos
efeitos da internacionalização do conflito, embora a posição de avestruz
assumida pela UA em nada auxilia a posição do Egipto, no que respeita a esta
questão.
IV - Os bandos
armados sírios observam com desconfiança o papel dos militares egípcios. A
queda de Morsi obrigou os seus elementos que residiam no Cairo, a convite de
Morsi e da IM, a instalarem-se em Istambul, mas o primeiro-ministro turco,
Erdogan, encontra-se numa posição desconfortável, pois a Arábia Saudita, o
Iraque, a Síria, Israel e o Irão já dialogam com o Egipto. Neste sentido a
Turquia encontra-se na mesma posição que a UA: sem hipótese de dialogar
directamente com o Egipto.
O governo turco
ficou com a maçã podre (o Conselho Nacional Sírio - CNS) em Istambul, depois de
o SCAF, numa atitude inteligente, ter expulsado o CNS do Cairo. A UA, que
depois de ter demonstrado a sua “indignação” perante o golpe militar (são de
vistas curtas os burocratas da UA, principalmente o senhor Jean Ping, o agente
de Pequim - mainate dos mandarins – que marca a diferença em relação a muitos dos
seus comparsas da Comissão da UA, cipaios do Ocidente) tentou “picar” o Egipto
através da Etiópia, que ambiciona ser a menina bonita do continente, talvez uma
prostituta preferida de Pequim e que acabará (como todas as prostitutas) nas
mãos dos que pagarem mais (talvez os USA, mais batidos nestas questões dos
bares e das prostitutas). O Egipto reagiu e os serviços secretos egípcios têm
incomodado a Etiópia, não hesitando numa abordagem directa aos eritreus, no
sentido de estabelecerem uma “acção comum” frente á “hegemonia etíope”, assunto
que mobiliza os susceptíveis eritreus.
Por sua vez,
Moscovo, manifesta simpatia pelo SCAF e introduz-se, subtilmente, no Cairo. Os
russos acompanham de perto os dois-mega projectos (a barragem do Nilo Azul e o
Corredor de Lapsset) financiados por Pequim (parceiro BRICS) e que afectam o
Egipto. As empresas russas não foram convidadas para os projectos e Moscovo é
bastante sensível nestes pormenores. A penetração de Pequim no continente
africano é uma cartada que os russos consideram estar fora do seu baralho.
O Egipto assume,
nestas circunstâncias, um papel novamente preponderante para a Rússia e os
militares egípcios estão abertos a um bom relacionamento com Putin e com as
empresas russas (são os comportamentos de sobrevivência das categorias sociais
que adquirem autonomia). Desta forma Sisi e Putin juntam o útil ao agradável. É
agradável para os militares egípcios alargarem os seus negócios e é útil para
os russos, que através do Egipto podem participar de forma mais interventiva
nos “jogos africanos” sem perderem de vista a Ásia Ocidental.
V - Papel determinante nestas “jogatinas” (principalmente no confronto China – USA), mas viradas já para o interior do continente e partindo do Atlântico, tem a Nigéria. Para a propaganda afro-capitalista este é o século da Nigéria. A fórmula mágica que estes aprendizes de feiticeiro, ilusionistas e jogadores de poker pensam ter descoberto na Nigéria é um modelo hibrido, assente no capitalismo de Estado, com certa flexibilidade empresarial, tendo a exploração dos recursos naturais como factor de expansão. A este truque de ilusionismo é acrescentado a nova mitologia demográfica africana, uma população sempre em crescimento constante (progressão geométrica) e que atingirá os mil milhões de habitantes daqui a 100 anos.
Esquecem-se os
aprendizes de algumas pedras no sapato, como a deficiente redistribuição de
riqueza, ou os cerca de 250 idiomas que representam uma diversidade cultural de
grande riqueza mas de grande complexidade e que associados á deficiente
distribuição de riqueza e á ausência de soberania da produção, representam uma
bomba-relógio, principalmente quando as dinâmicas culturais se cruzam com as
estrictamente sociais (pobreza versus riqueza, ou inclusão versus exclusão) originando
factores identitários, muitas vezes (e no caso da Nigéria esse é um problema
actual) escondidos por uma máscara religiosa.
O presidente nigeriano
Goodluck Jonathan é um sócio importante dos USA e da China, o que leva alguns
analistas a tentarem decifrar a futura posição da Nigéria na geoeconomia
internacional (periferia do Oriente ou do Ocidente?) e o facto de não
aprofundar as suas relações com a Europa ou a posição de afastamento que mantem
em relação aos centros de poder da UA e da ONU (preferindo actuar como
fornecedora de carne para canhão e de mercenários nas missões internacionais).
A Nigéria é o país mais povoado do continente africano, com mais de 170milhões
de habitantes que conformam um mercado interno suficientemente sólido. Os seus recursos
naturais são impressionantes e tornam o país essencial para os objectivos das
grandes corporações multinacionais.
Recentemente a
Nigéria assinou vários contractos com a China, para executar novos
investimentos em infraestruturas nigerianas. No entanto é bom não esquecer que
a Nigéria é o quinto fornecedor de petróleo dos USA, enquanto a China compra
apenas 1% do petróleo nigeriano. Em contrapartida, segundo os dados do
Ministério da Economia do governo da Nigéria, o país é o segundo mercado da China
em África. Os USA, na Nigéria, apostam no sector da saúde, na indústria
farmacêutica, na agro-indústria, na produção de energia e no sector
petrolífero. A China gere a zona de comércio livre e explora ferro e aço e os
novos projectos chineses são na área do caminho-de-ferro, produção de energia,
telecomunicações e refinarias.
Por sua vez Goodluck
Jonathan e o seu governo apostam no reforço do poder judicial, como tentativa
de consolidação de um Estado que corre o risco de estilhaçar por força das dinâmicas
internas (já não seria a primeira vez, na breve História pós-colonial do país)
e por pressão das dinâmicas externas. Por outro lado procuram diversificar as
exportações, de forma a não ficarem dependentes do petróleo, do gás e da
energia. Neste sentido o crescimento da produção agrícola tem sido um marco
considerável nos últimos anos e as exportações de produtos agrícolas nigerianos
registam um crescimento constante. Também a produção industrial tem sido
objecto de atenção e neste ponto o mercado africano é de extrema importância
para esta fase de crescimento da indústria nigeriana.
Mas o governo
Nigeriano tem de reconhecer que está abrangido pelo arco da crise e só poderá
esperar um agravamento das condições politicas internas e da instabilidade, focada
em determinadas regiões. Tal como acontece no Egipto, também na Nigéria
torna-se sentida a ausência da UA na resolução dos conflitos internos do país.
Por sua vez a política de desenvolvimento da Nigéria só poderá prosseguir de
forma equilibrada se for inserida no contexto de desenvolvimento dos mercados
africanos, caso contrário levará o país á dependência em relação aos mercados
externos, o que se revelará desastroso para o sector industrial, que ainda não
está em condições de competir nesses mercados. Uma vez mais, nesse sentido, Nigéria
e Egipto padecem de problemas similares, que poderiam ser resolvidos através da
presença da UA e da concertação dos mercados africanos.
O Elefante
nigeriano e o Dromedário egípcio, obviamente nunca se irão cruzar e estão em
diferentes e opostas localizações e habitats. Mas em comum, partilham da mesma
visão sobre as avestruzes e da forma como estas ignoram tudo e todos os que se
encontram ao seu redor. E também eles, elefantes e dromedários, ficam, de vez
em quando, deslumbrados com o brilho do Ocidente e do Oriente.
O brilho é todo
deles, dos ocidentais e dos orientais. De África fica a eterna penumbra e o
peso da obscuridade…
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