quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O IMPÉRIO COM TODOS OS SENTIDOS NO PETRÓLEO DO SUL!

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Ainda ecoavam as denúncias, a partir das matérias que têm sido dadas a conhecer por Edward Snowden, acerca da espionagem da NSA sobre a Presidência do Brasil, incluindo sobre o alvo principal que é Dilma Roussef, continuava-se a série dando a conhecer desta feita as denúncias em relação à PETROBRAS, a estatal brasileira do petróleo.
 
O interesse da espionagem da National Security Agency sobre a PETROBRAS justifica-se no que é essencial para a motivação de domínio a partir das colectas de inteligência: as operações de prospecção, pesquisa e exploração, realizadas de há mais de 40 anos a esta parte, a descoberta do pré-sal, a próxima licitação de um dos seus mais promissores campos (em Angola a SONANGOL usa a qualificação de blocos), o campo de Libra!... tudo isso tem vindo a “empolgar” a azáfama da hegemonia!
 
A PETROBRAS é um dos maiores líderes mundiais de exploração de petróleo em águas ultra profundas, em particular desde que em 2007 se descobriu o pré-sal brasileiro na “Amazónia Azul”!
 
Os Estados Unidos e a sua matriz britânica têm motivos e objectivos mais que suficientes e diversificados para instalar todo o tipo de sensores em localizações geo estratégicas, mas em relação ao Atlântico Sul e ao petróleo do Brasil, das Malvinas, do Golfo da Guiné e de Angola, a localização da ilha de Ascensão dá-lhes incomensuráveis recursos de espionagem.
 
A partir dela e beneficiando da sua situação geo estratégica incomparável, tudo pode ser escutado e registado pela inteligência norte americana, inclusive as pesquisas “offshore” feitas a partir de satélites e de navios no Atlântico a sul do Equador e até à Antárctida… “yes we scan”!...
 
2 – A ilha de Ascensão, a Diego Garcia do Atlântico Sul, já tem tradição em assuntos de espionagem: por exemplo o ataque do poder militar e de inteligência do Reino Unido à Argentina nas Malvinas, teve naquela ilha com 97 km2, uma preciosidade escondida dos olhos do mundo e a base principal que catapultou o momento da acção.
 
Teria sido muito mais difícil de outro modo a Margareth Thatcher, que eu tenho considerado como “dama do petróleo”, levar a cabo as acções políticas, diplomáticas, militares e de inteligência relacionadas com a Argentina e as Malvinas em 1982: o segredo neste caso “foi a arma do negócio”!
 
Naquela altura, em especial entre Março e Julho do mesmo ano, passou por Ascensão uma parte importante da aviação e da marinha do Reino Unido, com unidades que foram envolvidas na reconquista das Malvinas à Argentina a fim de manter as prerrogativas coloniais britânicas sobre aquele arquipélago, também rico em petróleo!… até hoje e garantindo o futuro!...
 
Como é óbvio o deslocamento de tantos meios, só poderia ser feito com recurso a uma panóplia de sensores de inteligência “techint” que já haviam sido previamente instalados em Ascensão, beneficiando da iniciativa UKUSA-ECHELON!
 
O mesmo tem acontecido em Diego Garcia, no Índico Norte, que tem servido de base às principais operações no AfPaq!
 
Às primeiras capacidades instaladas em Ascensão têm-se vindo a juntar mais tecnologia ultra moderna, aumentando quase infinitamente a capacidade de recolha de dados!
 
3 – Com o fim do período do que se consignou qualificar como da Guerra Fria, a geo estratégia do petróleo da hegemonia integrou o esforço UKUSA-ECHELON.
 
A inteligência “techint” só poderia ser incrementada em Ascensão, pois a ilha pirata está precisamente no centro duma imensa região circular que no seu entorno “justifica” o investimento das filiais do sistema, particularmente a norte-americana e a britânica: a partir dali seria possível colocar todo o tipo de sensores e equipamentos para arquivo, registo e consulta de dados, em especial no que diz respeito ao Brasil, ao Golfo da Guiné e a Angola, para além dos que vasculham os mares austrais do Atlântico até à Antárctida!
 
De acordo com os trabalhos de alguns geólogos, entre eles Tako Koning, por mim referenciado, há cerca de 165/200 milhões de anos que os continentes Sul Americano e Africano, então unidos numa enorme massa reconhecida como Gondwana, se separaram e continuam a afastar-se, pelo que a saliência do Nordeste brasileiro, estava encaixada na reentrância que constitui o Golfo da Guiné… daí o pré-sal do Brasil e o de Angola… com origem comum!...
 
Se Angola e Brasil estão “unidos no petróleo”, para além de outras pontes que existem, mais uma razão para a panóplia de espionagem da hegemonia tendo Ascensão como fulcro!
 
4 – Quando o IASPS em 2001 decidiu formular a estratégia norte americana para a África do Oeste, Golfo da Guiné e por tabela Angola, lançou algumas das sementes do que se lhe veio a seguir, que culminou com a criação do AFRICOM a 7 de Fevereiro de 2007, por ordem do Presidente George W. Bush, o mais recente instrumento-catalisador de domínio por via de processos de inteligência e militar em África, com manipulação e influência na gestação das novas elites africanas.
 
A partir de então é impossível dissociar em relação a África, o esforço de inteligência em função do expediente UKUSA-ECHELON-NSA, quer do AFRICOM, quer do SOUTHCOM!
 
Os actuais governos da Argentina e do Brasil sabiam-no antes, mas agora com o que está a ser divulgado quer pelo Wikileaks, quer por Edward Snowden, dão-lhes a possibilidade de comprovar muita coisa e de tomar as medidas adequadas para fazer frente a uma “concorrência” tão desleal, num momento em que as disputas globais tendem a aumentar.
 
Uma das medidas já em curso com a UNASUR, é a criação dum sistema de cabos de fibra óptica (TELEBRAS) entre os países latino americanos, que não passe pelos Estados Unidos.
 
A TELEBRAS terá por outro lado, em 2016, um satélite de comunicações inteiramente nacional para internet e fins militares.
 
É evidente que essa “concorrência” atinge também os interesses geo estratégicos da Argentina e do Brasil em África; no caso do Brasil a PETROBRAS é um alvo também por causa da sua presença no jogo do petróleo e do gás no Golfo da Guiné, em Angola e desde há pouco, na Namíbia, ou seja, no pré-sal africano, gémeo-siamês do pré-sal brasileiro… em águas profundas e ultra profundas!
 
5 – Se na América Latina quer a Presidente Cristina Kirchner, quer a Presidente Dilma Roussef, reagiram de imediato e em uníssono à híper-espionagem norte-americana e britânica, em África o silêncio tem sido evidente e revelador de muita coisa, por exemplo: a panóplia humana de infiltração de agentes por parte da hegemonia é mais impressiva que na América Latina e isso resulta em enormes possibilidades de manipulação e influência nas novas elites em formação, com reflexos sócio-políticos desde o Gana à Namíbia, por todo o Golfo da Guiné e reforçando as plataformas tácticas dos arquipélagos de São Tomé e da Guiné Equatorial!... tudo isso à mercê da plataforma geo estratégica “techint” de Ascensão!
 
Muitas das iniciativas em curso em África estão afins e em sintonia com a geo estratégia anglo-daxónica, inclusive no que diz respeito aos impactos “humint” e isso resulta em vantagens que a hegemonia está a procurar reverter a favor da gestação e promoção das novas elites africanas, uma grande parte delas resultando da coerência e da lógica dos seus investimentos, particularmente nas áreas do petróleo, do gás e da exploração mineral!
 
O “hemisfério ocidental” em torno do Atlântico, apesar do empertigamento na América Latina contra a hegemonia dos Estados Unidos pondo fim ao seu “tradicional quintal”, é a única região onde laivos de hegemonia unipolar ainda prevalecem, ao contrário do que está a acontecer nas outras regiões geo estratégicas do globo.
 
África, tendo em conta a rapina decorrente do capitalismo neo liberal em curso por via da globalização, arrisca-se sobretudo na costa Atlântica, que o seu petróleo e o seu gás tragam cada vez menos percentagens de benefícios para seus estados, países e povos, no seguimento das descobertas do pré-sal em 2007: se na América Latina, o Brasil e a Argentina defendem o seu petróleo como catapulta das iniciativas emergentes e de relacionamento com outros, África indicia que tal não está a acontecer, pelo que as manipulações da hegemonia unipolar mesmo estando a descoberto, estão sem resposta!
 
Ao não assumir a defesa do seu pré-sal como os latino-americanos, África vulnerabiliza concomitantemente a possibilidade de sua posição relativa à Zona Económica Exclusiva de 200 milhas ao largo das suas costas… onde se encontram também outras enormes riquezas minerais!...
 
A ausência de reservas de petróleo em Angola, só pode ser entendida no quadro de todas essas vulnerabilidades!
 
Mapa: A posição geo estratégica da ilha de Ascensão tornaram-na numa ilha-pirata em benefício da hegemonia, ou seja, uma das principais chaves da espionagem “techint” no Atlântico Sul!
 
A consultar:
. IASPS – African Oil: a priority for U. S. national priority and African development – http://www.iasps.org/strategic/africawhitepaper.pdf
. Espionagem total dos EUA contra o Brasil – http://www.odiario.info/?p=3022
. Latino América pondrá cerco a Obama en el cumber del G-20 – http://www.cubadebate.cu/?p=282161
. Ministros de Argentina y Brasil firman acuerdo contra espionagem de EEUU – http://www.cubadebate.cu/?p=286691
. Solving the mistery of Angolan Oil – http://www.aapg.org/explorer/2013/04apr/historical0413.cfm
. A Amazónia Azul, uma das últimas fronteiras – Página Global 2009 – retirado.
. Uma componente decisiva para as integrações e alternativas que se abrem no século XXI – http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/brasil-uma-componente-decisiva-para-as.html
 

1 comentário:

Anónimo disse...


Dilma Rousseff na 68ª Assembleia-Geral da ONU

...

Recentes revelações sobre as atividades de uma rede global de espionagem eletrônica provocaram indignação e repúdio em amplos setores da opinião pública mundial.
No Brasil, a situação foi ainda mais grave, pois aparecemos como alvo dessa intrusão. Dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais – muitas vezes, de alto valor econômico e mesmo estratégico - estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a Missão Permanente junto às Nações Unidas, e a própria Presidência da República tiveram suas comunicações interceptadas.
Imiscuir-se dessa forma na vida de outros Países fere o Direito Internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre eles, sobretudo, entre nações amigas. Jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de outra soberania. Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos e civis fundamentais dos cidadãos de outro país. Pior ainda quando empresas privadas estão sustentando esta espionagem.
Não se sustentam argumentos de que a interceptação ilegal de informações e dados destina-se a proteger as nações contra o terrorismo.
O Brasil, Senhor Presidente, sabe proteger-se. O Brasil, Senhor Presidente, repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas.
Somos um país democrático, cercado de países democráticos, pacíficos e respeitosos do Direito Internacional. Vivemos em paz com os nossos vizinhos há mais de 140 anos.
Como tantos outros latino-americanos, lutei contra o arbítrio e a censura e não posso deixar de defender de modo intransigente o direito à privacidade dos indivíduos e a soberania de meu País. Sem ele – direito à privacidade - não há verdadeira liberdade de expressão e opinião e, portanto, não há efetiva democracia. Sem respeito à soberania, não há base para o relacionamento entre as Nações.
Estamos, Senhor Presidente, diante de um caso grave de violação dos direitos humanos e das liberdades civis; da invasão e captura de informações sigilosas relativas às atividades empresariais e, sobretudo, de desrespeito à soberania nacional do meu País.
Fizemos saber ao Governo norte-americano nosso protesto, exigindo explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão.
Governos e sociedades amigas, que buscam consolidar uma parceria efetivamente estratégica, como é o nosso caso, não podem permitir que ações ilegais, recorrentes, tenham curso como se fossem normais. Elas são inadmissíveis.
O Brasil, Senhor Presidente, redobrará os esforços para dotar-se de legislação, tecnologias e mecanismos que nos protejam da interceptação ilegal de comunicações e dados.
Meu Governo fará tudo que estiver a seu alcance para defender os direitos humanos de todos os brasileiros e de todos os cidadãos do mundo e proteger os frutos da engenhosidade dos trabalhadores e das empresas brasileiras.
O problema, porém, transcende o relacionamento bilateral de dois países. Afeta a própria comunidade internacional e dela exige resposta. As tecnologias de telecomunicação e informação não podem ser o novo campo de batalha entre os Estados. Esse é o momento de criarmos as condições para evitar que o espaço cibernético seja instrumentalizado como arma de guerra, por meio da espionagem, da sabotagem, dos ataques contra sistemas e infraestrutura de outros países.
A ONU deve desempenhar um papel de liderança no esforço de regular o comportamento dos Estados frente a essas tecnologias. E a importância da internet, dessa rede social, para a construção da democracia no mundo.

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http://www.odiario.info/?p=3031





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