sexta-feira, 13 de setembro de 2013

OS HOMENS DE OBAMA

 

Alfredo Prado – África 21, colunistas
 
Obama não é esse político bonzinho, democrata sincero, progressista, que muitos acreditaram ser. Definitivamente, não é. (...) Acompanham-no, no lançamento da cruzada, pares europeus que precisam desviar as atenções dos seus concidadãos.
 
Já se foram os dias em que os amantes da paz mais incautos, talvez os menos prevenidos, teceram loas à eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos. Obama não é esse político bonzinho, democrata sincero, progressista, que muitos acreditaram ser. Definitivamente, não é.
 
Não se chega à Casa Branca pelo voto sincero dos cidadãos norte-americanos. O difícil caminho para Washington passa pelos meandros mais sujos da política, seja esse caminho percorrido por burros ou por elefantes, símbolos dos republicanos e dos democráticos. Não se chega ao poder do sistema sem compromissos – para uma vida inteira - com os alicerces do regime, com os lobbies do complexo militar, industrial e financeiro.
 
Foi isso mesmo que aconteceu com o simpático Obama. A sua eleição levou os analistas de todo o mundo a acreditar que alguma coisa estava a mudar na consciência e na cultura política (pouca e pobre) da maioria dos cidadãos norte-americanos. Mas o que mudou – acredito que alguma coisa esteja em mudança, sim, a começar pela composição étnica e social do país - não chegou para sacudir a estrutura do regime.
 
Há dezenas de anos que os cidadãos mais politizados dos Estados Unidos saem às ruas para protestarem contra o belicismo dos seus governantes, contra a ingerência em outros países, contra as crises domésticas que lançam milhões de americanos no desemprego e na pobreza. E, no entanto, tais protestos dificilmente repercutem nas decisões dos seus governantes. Hoje, talvez amanhã ou depois, a Casa Branca prepara-se para lançar um ataque contra a Síria. Um novo espetáculo de guerra.
 
A opinião pública dos States está contra o ataque. O que não significa, obviamente, qualquer tipo de apoio a um regime que vai passando de pai para filho, como acontece na milenar Síria, um dos berços da civilização.
 
No Congresso, os parlamentares hesitam entre embarcar em mais uma aventura militarista, dando luz verde aos homens do Pentágono para enviarem os seus aviões de última geração bombardear Damasco, ou dizerem "não, sr. presidente".
 
Os lobbies que pululam em Washington não defendem exatamente os mesmos interesses; há contradições e antagonismos que poderão ainda abrir as portas a uma solução política como tem vindo a ser apresentada, nas últimas horas, por vários líderes mundiais e nomeadamente por Moscovo.
 
Com a arrogância peculiar aos inquilinos da Casa Branca, Barack Obama insiste num ataque que pode incendiar toda a região do Oriente Médio e potenciar os grupos terroristas islâmicos.
 
Obama e os seus conselheiros aparentam não ouvir os apelos dos norte-americanos que não se sentam nas administrações das grandes empresas de armamentos. Nem os reiterados apelos do Papa; nem os apelos à contenção do secretário-geral da ONU; nem dos chefes religiosos das correntes cristãs e islâmicas. Obama parece ter tapado os ouvidos com silicone.
 
Acompanham-no, no lançamento da cruzada, pares europeus que precisam desviar as atenções dos seus concidadãos. O presidente francês e o primeiro-ministro britânico estão na linha da frente do belicismo. Um é socialista, outro conservador. Em comum têm o fato de estarem em apuros nos respectivos países. Eles e outros que mergulharam grande parte da União Europeia numa grave crise econômica e social são os porta-vozes da velha política militarista que no passado, historicamente próximo, tanto despedaçou o velho continente.
 

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