Alfredo Prado – África 21, colunistas
Obama não é esse
político bonzinho, democrata sincero, progressista, que muitos acreditaram ser.
Definitivamente, não é. (...) Acompanham-no, no lançamento da cruzada, pares
europeus que precisam desviar as atenções dos seus concidadãos.
Já se foram os dias
em que os amantes da paz mais incautos, talvez os menos prevenidos, teceram
loas à eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos. Obama não
é esse político bonzinho, democrata sincero, progressista, que muitos acreditaram
ser. Definitivamente, não é.
Não se chega à Casa
Branca pelo voto sincero dos cidadãos norte-americanos. O difícil caminho para
Washington passa pelos meandros mais sujos da política, seja esse caminho
percorrido por burros ou por elefantes, símbolos dos republicanos e dos
democráticos. Não se chega ao poder do sistema sem compromissos – para uma vida
inteira - com os alicerces do regime, com os lobbies do complexo militar,
industrial e financeiro.
Foi isso mesmo que
aconteceu com o simpático Obama. A sua eleição levou os analistas de todo o
mundo a acreditar que alguma coisa estava a mudar na consciência e na cultura
política (pouca e pobre) da maioria dos cidadãos norte-americanos. Mas o que
mudou – acredito que alguma coisa esteja em mudança, sim, a começar pela
composição étnica e social do país - não chegou para sacudir a estrutura do
regime.
Há dezenas de anos
que os cidadãos mais politizados dos Estados Unidos saem às ruas para
protestarem contra o belicismo dos seus governantes, contra a ingerência em
outros países, contra as crises domésticas que lançam milhões de americanos no
desemprego e na pobreza. E, no entanto, tais protestos dificilmente repercutem
nas decisões dos seus governantes. Hoje, talvez amanhã ou depois, a Casa Branca
prepara-se para lançar um ataque contra a Síria. Um novo espetáculo de guerra.
A opinião pública
dos States está contra o ataque. O que não significa, obviamente, qualquer tipo
de apoio a um regime que vai passando de pai para filho, como acontece na
milenar Síria, um dos berços da civilização.
No Congresso, os
parlamentares hesitam entre embarcar em mais uma aventura militarista, dando
luz verde aos homens do Pentágono para enviarem os seus aviões de última
geração bombardear Damasco, ou dizerem "não, sr. presidente".
Os lobbies que
pululam em Washington não defendem exatamente os mesmos interesses; há
contradições e antagonismos que poderão ainda abrir as portas a uma solução
política como tem vindo a ser apresentada, nas últimas horas, por vários
líderes mundiais e nomeadamente por Moscovo.
Com a arrogância
peculiar aos inquilinos da Casa Branca, Barack Obama insiste num ataque que
pode incendiar toda a região do Oriente Médio e potenciar os grupos terroristas
islâmicos.
Obama e os seus
conselheiros aparentam não ouvir os apelos dos norte-americanos que não se
sentam nas administrações das grandes empresas de armamentos. Nem os reiterados
apelos do Papa; nem os apelos à contenção do secretário-geral da ONU; nem dos
chefes religiosos das correntes cristãs e islâmicas. Obama parece ter tapado os
ouvidos com silicone.
Acompanham-no, no
lançamento da cruzada, pares europeus que precisam desviar as atenções dos seus
concidadãos. O presidente francês e o primeiro-ministro britânico estão na
linha da frente do belicismo. Um é socialista, outro conservador. Em comum têm
o fato de estarem em apuros nos respectivos países. Eles e outros que
mergulharam grande parte da União Europeia numa grave crise econômica e social
são os porta-vozes da velha política militarista que no passado, historicamente
próximo, tanto despedaçou o velho continente.
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