Ferreira Fernandes –
Diário de Notícias, opinião
Ontem irritei-me
por ser tratado como ratinho de laboratório. Os do FMI tinham chegado cá e
desataram a cortar. Corta, corta, corta. Com claquetes e a realizar filmes,
pode ser engraçado. Na vida real, dói. E a dor tornou-se insuportável quando
até eles próprios, no FMI, se puseram a fazer relatórios sobre o prejudicial
que era fazer tanto corte. Senti-me ratinho de laboratório, disse ontem. Mas
talvez tenha errado na imagem. Ratinho de laboratório é nos laboratório com
experiências. Vamos cortar aqui, a ver o que isto dá... Humm, diminuamos (ou
aumentemos) a dose... Isso, sim, era um laboratório, com sábios com dúvidas e
passos hesitantes. E, nele, seríamos as cobaias, infeliz papel, mas, ao menos,
ao serviço da ciência. Ora essa minha análise de ontem talvez visse demasiado
em grande. Talvez nós estejamos abaixo do patamar de ratinhos de laboratório
porque não há laboratórios nem sábios testando a sociedade portuguesa. Há só
funcionários que aviam uma receita - os cortes nunca foram a procura de uma
solução, mas só um preconceito engatilhado (os funcionários mudarão de receita
quando lhes soprar outro preconceito). Esta hipótese talvez não seja mais certa
do que a de ontem, mas tem uma vantagem: dizer não a funcionários errados é
mais fácil do que a errados professores de laboratório. Não precisamos de
desenvolver teses alternativas, basta dizer: "Não, não vamos por aí."
O que é o mínimo a dizer quando à frente está o precipício.
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